Um dia mais que especial para as Mães que venceram a Covid-19

Mães de Nova Friburgo contam como foi a experiência de ficar longe dos filhos por estarem contaminadas e comemoram poder passar o Dia das Mães junto de quem amam
sábado, 08 de maio de 2021
por Christiane Coelho (Especial para A VOZ DA SERRA)
(Foto: Pexels)
(Foto: Pexels)

Dia das Mães chegando. E a comemoração terá um gostinho especial para algumas mães: as que tiveram Covid-19 e se curaram. Muitas delas se isolaram e passaram pelo que relatam ser a pior experiência de suas vidas, ficar longe dos filhos. Além dos sintomas e da distância, não só dos filhos, mas de todos, parentes e amigos, o isolamento pela Covid-19 ainda vem carregado de medo e insegurança.

A atendente de pizzaria, Juliana de Lima Correa, foi contaminada pelo coronavírus no final de sua segunda gravidez, em fevereiro de 2021. E, mesmo depois do exame negativado, sofreu com as sequelas causadas pela Covid-19. Teve que passar por uma cesariana de emergência, com 36 semanas de gravidez. Mãe e filho ficaram bem num primeiro momento. Tiveram alta. E já em casa, Juliana começou a ter febre alta e sentir muita dor nos pulmões. Procurou ajuda médica e acabou sendo internada ao ser diagnosticada com pneumonia. “Essa foi minha primeira separação do meu bebê, Christian e do meu filho maior, Thiago, de 7 anos. Foi muito difícil”, disse ela.

Depois de 10 dias, teve alta, mas a febre voltou e Juliana procurou novamente o hospital. Dessa vez, diagnosticada com trombose, embolia pulmonar e derrame pleural, sequelas da Covid-19. Dessa vez, foram 30 dias de internação. “Tive muito medo de morrer e deixar meus pequenos”, relata ela.

(Juliana de Lima Correa)

 A psicóloga Isadora Bezerra explica que depois que se torna mãe, medos relacionados à própria morte acabam aparecendo uma hora ou outra. “Isso porque o sentimento que uma mãe tem por um serzinho totalmente dependente dela é uma das coisas mais intensas que se sente. Essa dependência super necessária no início da vida do filho, coloca a mãe no lugar de quem sempre tem que dar conta de tudo. “Os filhos têm muitas demandas e ficamos desesperadas para atendê-las em sua plenitude”. 

Porém, esse sentimento de "dar conta de tudo", além de ser uma frustração iminente (ninguém dá conta de "tudo"), traz consigo a ideia de que nossos filhos só serão bem tratados, desenvolvidos e evoluídos se forem cuidados por nós, mães. Claro que o lugar da mãe é insubstituível, mas é muito importante que a gente consiga dividir a "carga" que a maternidade nos coloca”, esclarece ela.

Nesses momentos, ter uma rede de apoio, pessoas de confiança que cuidem dos filhos é fundamental para a saúde mental e, consequente recuperação de quem está passando por uma internação ou isolamento. 

“A rede de apoio é fundamental, principalmente nesse contexto. Temos uma mãe fragilizada e uma criança vulnerável precisando de ajuda. Em relação à mãe, é crucial para que ela se preocupe menos, que haja confiança na rede de apoio. Ela estará isolada num hospital praticamente sem notícias por dias. Imagina o desespero de não confiar na rede de apoio e não saber se vai dar tudo certo? Enlouquecedor ficar com esse medo durante o tempo que estará longe. E para a criança, que estará insegura com o afastamento da mãe, é necessário que a rede de apoio seja o colo que ela precisa, trazendo o acolhimento que é indispensável nessas situações”, explica Isadora.

(Psicóloga Isadora Bezerra)

O pai e a madrastra de Juliana, Zagalo Luiz Correa e Ana Cláudia Cardoso, ficaram com as crianças durante todo o período e continuam com eles, já que ela teve alta, mas continua em tratamento e em repouso. “Ela que cuida deles como mãe. Saber que eles estão sendo bem cuidados e amados foi fundamental pra mim. Não tenho como agradecer por tudo o que fizeram e fazem pelos meus pequenos e por mim também”, fala Juliana, emocionada, acrescentando que nesse Dia das Mães tem mais um motivo pra comemorar: “Vejo minha vida, hoje, como um milagre e poder estar ao lado dos que amo é a melhor sensação”.

A mãe isolada

A costureira Nathane da Silveira, pegou covid-19 em janeiro desse ano. Ela, que mora com o marido, Sérgio Felipe de Barros, a filha, Helena, de 1 ano e 9 meses, e a sogra, Alba Valéria Silva Barros, viveu momentos nunca imaginados, isolada em um quarto da casa, longe de todos. Diferente de outras doenças não contagiosas, a Covid-19, além dos sintomas físicos, do medo, ainda traz mais um sentimento, a solidão. É um período muito difícil, sofri muito longe por estar longe da minha pequena. Foi uma luta muito grande na minha vida. E isso mexeu demais com meu psicológico. Tive crises de ansiedade, coisa que eu nunca tive na minha vida”, conta.

 Nesses momentos, ter o acompanhamento de um profissional pode fazer toda a diferença. “Cair de cabeça em pensamentos negativos e de profundo medo não vão ajudar ao seu estado de saúde em um momento de extrema fragilidade. Não digo para ignorar o que sente, de forma alguma. Mas pelo contrário, entender o que de fato está sentindo e poder fazer algo com isso. E, pra lidar da melhor maneira possível com esse medo, é sempre bom ter o apoio de um psicólogo para entender o que está envolvido nisso, que quase sempre não conseguimos perceber sozinhos”, explica ela. 

Nathane procurou fazer o que Isadora aconselha. Focou em pensamentos positivos e pensou sempre em se recuperar para voltar a ter convívio com a filha e família. “Era muito difícil, mas a gente precisa lutar, a gente precisa ter garra, precisa ter fé. Eu só não tive a febre e nem perdi o paladar. Isso me ajudou, porque eu não deixei de comer. Só que a falta de ar castiga, eu levava de duas a três horas pra comer um prato de comida, mas eu fui persistente”, disse ela. O apoio de amigos e parentes, através de mensagens, também foi um grande motivador nesse mom ento para a costureira. 

“Mesmo não estando pertinho, mas uma mensagem de carinho, de forças, que a gente recebe já transforma nosso dia, já dá um up pra gente poder continuar. E graças a Deus, eu tive muita ajuda de amigos e familiares. Essa força conta muito,” lembra ela.

Além do apoio por mensagens, saber que sua filha Helena estava sendo acolhida e bem cuidada ajudou Nathane a superar esse momento tão difícil. “Sei que nada supre o amor de mãe, mas existe o amor de pai e de avó. Nesse período, meu marido e minha sogra foram fundamentais,” agradece ela. 

(Nathane da Silveira)

A psicóloga Isadora Bezerra explica que saber e internalizar que, na sua ausência tem alguém cuidando do(s) seu(s) filho(s), pode trazer um pouco de afago ao coração. “Ninguém nunca vai fazer como você faria, é até egoísmo esperar isso, mas com certeza alguém vai dar o melhor que puder. Não é só função da mãe tratar bem, ouvir, acolher e entender um filho. Para isso, a rede de apoio é fundamental”, acrescenta ela. 

Nathane diz que sempre aproveitou cada momento com sua filha e família. E depois de passar por esse período difícil, aprendeu a valorizar ainda mais sua vida. ”Nosso Dia das Mães será especial. Eu poderia nem estar aqui. Mas, graças a Deus, tudo passou. O que a gente puder fazer pra gente e pelo outros tem que ser agora: valorizar e dizer o quanto a quem está ao nosso lado”, disse.

Quando apenas um filho não se contamina

Imagine uma família de quatro pessoas, pai, mãe e dois filhos. Três deles testarem positivo para Covid-19 e apenas 1 não se contaminar, exatamente o mais novo, de 7 anos. Foi isso que aconteceu com a família de Juliana Diniz. Ela, o marido, Marcio, o filho Marcos, de 13 anos, tiveram que ficar isolados em um quarto para não contaminar o pequeno Davi, de 7 anos. “Tivemos que isolar o pequeno. Ele ficou muito abalado emocionalmente por ficar afastado de todos dentro de casa”, conta ela.

Para ajudar os pequenos a passar por momentos como esse, a psicóloga Isadora Bezerra explica que a melhor maneira de contar a criança sobre o distanciamento da mãe, é falando a verdade. “Crianças são esponjas do seu ambiente, se algo não está legal, elas são as primeiras a apresentarem sinais. Então, querendo ou não, a criança já estará envolvida com a notícia. Ou porque viu tudo, ou porque ouviu alguém falando. Claro que deve haver a adequação da linguagem dependendo da idade, mas é super importante dizer a verdade, ouvir o que a criança tem a dizer e acolher o que ela trouxer”, esclarece ela.

Os quatro ficaram sozinhos em casa e a mãe e o pai se revezavam nos afazeres domésticos. “Era bem difícil, porque tínhamos que higienizar tudo, separar roupas e utensílios e havia momentos em que nem eu nem meu marido conseguíamos ficar de pé”, lembra. Mas para ela, o pior foi ter que lidar com o sentimento que tinha. “Como mãe é um sentimento de impotência, agonia e muita tristeza por não poder cuidar e proteger quem está bem, e também aqueles que foram contaminados pelo vírus”, revela Juliana.

(Juliana Diniz)

E o sentimento de culpa, que toma conta das mães em diversas situações, nesse momento, também se faz presente. Para a psicóloga Isadora Bezerra, não atender a expectativa daquilo que se vê como "modelo" gera esse sentimento arrebatador de culpa e poder abrir mão daquilo que gostaria de ser e aceitar o que de fato você consegue, é algo libertador e que ajuda em momentos de crise.

“Olhando para a vida de nossas crianças, o que mais queremos é protegê-las de tudo a qualquer custo. Porém, essa missão já se torna falida a partir do momento que ela se inicia. Nossa vida é repleta de frustrações e é importante que possamos adquirir ferramentas para lidar da melhor maneira possível com elas. Então, mamãe, não é sobre protegê-los de tudo. É justamente conseguir criar uma criança que se sinta ouvida, acolhida e independente. 

Com o incentivo a autonomia, a própria criança encontrará suas frustrações pelo caminho - o que é inevitável, e seu papel será ouvir e entender o que aquilo representa para ela. É crucial que as crianças vivenciem suas próprias frustrações e que, com o apoio da família, aprendam a lidar com elas. Estar doente e precisar ficar internada ou isolada, infelizmente, não foi uma escolha. Aconteceu. É um fato. Agora tanto a mãe quanto a criança precisarão lidar com isso. Que seja da forma mais leve possível”, esclarece Isadora.

Essa semana, eles negativaram o teste da Covid-19. “Já sem transmitir, a sensação é de gratidão e alívio. Gratidão por Deus ter nos sustentado até aqui. Alívio por que é como se você tivesse uma nova chance pra viver literalmente. E nosso dia das mães será, com certeza, o mais especial de todos com muito amor, chamego, beijos e abraços. Com a sensação de que dias ruins também chegam ao fim e a certeza que a Fé em Deus é o que nos sustenta nesses momentos”, emociona-se Juliana.

A culpa da mãe que contaminou avó e filha

A terapeuta holística Bruna Andrade passou por momentos de muita preocupação não só por ter contraído o coronavírus e ficar isolada, mas por ver toda a família contaminada e a mãe, recém operada internada. “Eu estava dividindo com minha irmã os cuidados da minha mãe, que havia sido operada, quando comecei a sentir o primeiro sintoma, a falta de odor. E imediatamente, me isolei em um quarto”, disse ela.

Bruna ficou isolada por 13 dias, longe da filha, Manuela, de 1 ano e 10 meses, do marido, Pedro Henrique, e dos demais familiares. “Não consigo descrever como é ruim, além dos sintomas, o fato de ficar isolada num quarto sem poder estar com ninguém. Chorei dia e noite”, conta a terapeuta. 

(Bruna Andrade)

Mas, uma semana depois dos seus primeiros sintomas, seu pai, sua mãe e sua filha começaram a apesentar sintomas. “Ainda estava isolada e foi horrível ouvir minha filha chorando muito, por estar com dor e febre e não poder fazer nada”, lamenta, acrescentando que, “além da impotência, de me sentir péssima mãe, ainda me senti muito culpada por ter contaminado a todos”.

Além dos pais e da filha, o marido, os sogros e o cunhado também começaram a sentir os sintomas e testaram positivo. Depois da confirmação da contaminação de todos, a pediatra da Manuela liberou que a mãe cuidasse dela, com o uso de máscaras. “Rever minha filha foi surreal, um alívio no coração”, emociona-se ela.

Mas, sua mãe, que estava recém operada, precisou ficar internada uma semana e, hoje, tem sequelas. “Agora, ela está com asma e um problema no intestino, ainda em investigação”, disse a terapeuta.        

Depois da família inteira vencer a batalha contra a Covid-19, o Dia das Mães será vivido de forma diferente. “Espero poder aproveitar o dia com minha filha e minha mãe o máximo possível, pois hoje sei como é ruim ficar sem elas. A vida é um sopro e devemos nos cuidar e amar antes que seja tarde demais”, revela Bruna.

O medo de morrer e deixar os filhos

Um dos maiores medos que as mães têm é o de morrer e deixar os filhos ou de perder seus filhos. “Acredito que não temos como mensurar qual pensamento aflige mais uma mãe. Mas posso afirmar que esses medos são os mais comuns. O medo da morte tem uma nota peculiar depois que nos tornamos mães”, disse a psicóloga Isadora Bezerra. 

Esse medo foi o maior desafio que Geane Canto teve, quando foi infectada pela Covid-19. “Eu só pensava nas crianças se acontecesse algo mais grave comigo e pedindo a Deus pra eu ficar bem”, revela ela, que é mãe de Rafaela, de 17 anos, e Pedro, de 11 anos. Ela não teve sintomas graves e ficou em casa, isolada em um quarto.

Mesmo não apresentando sintomas mais fortes, Geane se sentiu aliviada após ter negativado o teste. “A sensação que dá é que eu venci. Estou feliz, porque, graças a Deus, fui curada. Apesar de ter ficado com algumas sequelas do pós-Covid, estou muito bem”, disse ela, que, com essa experiência também aprendeu que o importante é viver e aproveitar todos os momentos ao lado de quem ama. “Quando pude sair do quarto, todos ficamos emocionados, nos abraçamos e beijamos. E, com certeza, esse Dia das Mães será nesse clima”, revela ela.

(Geane Canto)

Alegrando os corações das Mães internadas em isolamento

Muitas mães ainda continuam internadas em isolamento, devido à covid-19. E, em homenagem ao Dia das Mães, o Hospital da Unimed Nova Friburgo (HUNF), através do setor de Psicologia Hospitalar e Serviço Social, promoveu na manhã de ontem, 7, um momento de descontração pelos corredores do hospital.

A possibilidade de confraternização renova sentimentos positivos. Por isto, a equipe multidisciplinar da Unimed de Nova Friburgo elaborou o Projeto “Alegrando os corações” para atender os pacientes internados no hospital, sem a possibilidade de comunhão familiar e comunitária neste “Dia das Mães” e em período de pandemia, no intuito de acolher suas angústias e expectativas, proporcionando um momento de descontração e alegria.

O projeto contou com diversos colaboradores e médicos, que realizaram uma cantata pelos corredores tocando violão e cantando músicas como “Dias Melhores”, “Como é grande meu amor por você”, entre outras.

“Nesse momento, nós, profissionais de saúde na linha de frente ao combate a pandemia covid-19, pensamos em nos unir às famílias aqui presentes para estarmos junto em um dia tão simbólico e especial, mostrando que é possível trazer leveza e amor na vivência hospitalar”, comentou Karoline Rocha, Supervisora da Psicologia do HUNF.

Além de ampliar a integração entre os profissionais e pacientes, numa perspectiva de humanização do cuidado e do ambiente hospitalar, faz parte do Jeito de Cuidar Unimed levar uma mensagem positiva que contribui para o bem-estar, autoestima e consequentemente, para uma melhor recuperação dos pacientes.

 

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