Tribunal especial decide que Witzel e família têm que deixar Palácio Laranjeiras

Deputados e desembargadores decidiram ainda pela continuação do processo de impeachment e pela redução do salário
quinta-feira, 05 de novembro de 2020
por Jornal A Voz da Serra
Um dos banheiros do Palácio Laranjeiras, todo em mármore de carrara (Fotos: O Globo)
Um dos banheiros do Palácio Laranjeiras, todo em mármore de carrara (Fotos: O Globo)

O tribunal misto  especial formado por desembargadores e deputados que julga o impeachment do governador afastado Wilson Witzel decidiu nesta quinta-feira, 5, que ele e sua família terão que deixar o Palácio Laranjeiras, residência oficial dos chefes do Executivo estadual. Foram seis votos a favor e  quatro contrários à proposta do relator do processo, deputado Waldeck Carneiro (PT), informa o portal de notícias G1.

 A partir da publicação do acórdão, possivelmente na semana que vem, será iniciado o prazo de dez dias para a desocupação do palácio e de 20 dias para a apresentação de defesa. O tribunal decidiu ainda pela continuação do processo de impeachment e pela redução do salário do governador afastado.

Witzel vem morando com a mulher Helena e os três filhos do casal no palácio, um prédio histórico de cinco mil metros quadrados.

Como foi a votação:

A favor

  • Deputado Waldeck Carneiro (PT)
  • Desembargador José Carlos Maldonado
  • Deputado Carlos Macedo (Republicanos)
  • Desembargadora Teresa de Castro
  • Desembargadora Inês Chaves
  • Deputada Dani Monteiro (PSOL)

Contra

  • Desembargador Fernando Foch
  • Deputado Chico Machado (PSD)
  • Deputado Alexandre Freitas (Novo)
  • Desembargadora Maria Bandeira de Mello

Um tesouro histórico

A edificação em formato de Y foi erguida entre 1910 e 1913 para ser moradia da família do  empresário Eduardo Guinle. Em 1947, o imóvel foi comprado pela União para ser residência da Presidência da República e, em 1975, com a fusão dos estados do Rio e da Guanabana, foi doado ao governo estadual.

Em estilo eclético, com predominância francesa, o palacete foi construído com material importado, que chegou de navio, relata reportagem especial do jornal O Globo de 2018. Espalhados pelos cômodos, entre  40 telas, há obras de Frans Post, Nicolas-Antoine Taunay e Moretto de Brescia. Sete ambientes são decorados com pinturas em tecido no teto (marouflages) de renomados artistas como Georges Picard, Emmanuel Cavaillé-Coll e A. P. Nardac. No interior e na área externa da residência, há 41 esculturas. Pelas dependências da edificação, esbarra-se com mosaicos de mármore e de cerâmica e objetos de madeira com aplicações em ouro 24 quilates. E decoradores da Maison Bettenfeld, empresa francesa de fabricação de móveis finos, criaram grande parte do mobiliário.  Além do que comprou na casa mais chique da França, Guinle trouxe móveis antigos, alguns dos anos 1800.

Com pé direito que chega a nove metros no centro, no salão de jantar está a mesa retangular para 20 lugares, onde foi assinado, durante a ditadura, o Ato Institucional nº 5 (foto). Nos quatro cantos do cômodo, há lavatórios de mármore onde os convidados poderiam lavar as mãos, já que os banheiros eram distantes. Em lugar de destaque está o relógio “Regência”, de estilo Boulle, em ébano e bronze dourado. No segundo andar, sobre o salão de jantar, vazado, fica a “Galeria Regente”, com espaço para uma orquestra.

A fachada principal é inspirada na arquitetura do cassino de Montecarlo, em Mônaco, com torres, três janelas e três portas. Antes da última reforma, a partir de 2012, o acesso à edificação e ao andar superior se dava por suntuosas escadarias e por um elevador de 1911 — para alguns pesquisadores, o primeiro em residência na América Latina —, instalado atrás de uma porta de madeira, para não quebrar o classicismo da edificação. A regalia foi facilitada porque Eduardo Guinle era representante da Otis no Brasil. O elevador, aliás, é uma obra de arte e funciona até hoje. Em estilo rococó, teve paredes decoradas com motivos florais em bronze vazado e o teto pintado com nuvens.

Tão monumental é o vitral — são 15 no palácio — representando o mito de “Apolo em seu carro de sol”, criado por Charles Champigneulle, de 1910, posicionado no alto da escadaria do hall. Mais uma raridade é o piano da marca Steinway (de Nova York), que está na antiga sala de música da casa. O móvel é da Casa Bettenfeld, com pés de madeira esculpida e dourada, e pintura de Cavaillé-Coll. Foi fabricado entre 1872 e 1879 e é uma réplica do instrumento que pertenceu à rainha Maria Antonieta, da França.

Outros destaques estão no salão de estar (o Luís XIV), ao lado do hall: um retrato do rei francês Luiz XIV, de couraça e bastão de marechal, pintado por Rigaud, além do mobiliário inspirado no Rei Sol. No segundo andar, o Salão Império — projetado para ser um local de jogo de bilhar — é o maior da casa e tem 155 metros quadrados. Ao lado dele, na biblioteca, estão a mesa onde foram velados os ex-presidentes Ernesto Geisel e Costa e Silva, e o “Bureau du Rui” (escrivaninha do rei): o móvel original, feito para o Rei Luís XV, levou nove anos para ser executado e está hoje no Palácio de Versalhes.

Não menos requintada é a ala de serviço: o chão e as paredes possuem azulejos decorados, formando mosaicos. No cômodo onde, no passado, deveria funcionar a padaria e confeitaria da casa, a parede tem imagens de trigo, e a mesa em mármore onde deveriam ser feitas massas está preservada.

"O Laranjeiras é um dos poucos palácios no Brasil que têm arquitetura e acervo originais. Existem palácios maravilhosos, mas boa parte de seu acervo não pertenceu a ele. O próprio Museu Imperial reúne peças que foram da Família Real", explicou ao Globo a arquiteta Simone Algebaile, especialista em restauração.

A partir do governo do ex-presidente Eurico Gaspar Dutra, o imóvel recebeu e hospedou visitantes ilustres, como o Papa João Paulo II e o poeta Manuel Bandeira, e chefes de Estado, como os ex-presidentes Charles de Gaulle, da França, e Harry Truman, dos Estados Unidos. Em 1957, o ex-presidente Juscelino Kubitschek mudou-se para lá, onde viveu até a inauguração de Brasília, três anos depois.

Foi Kubitschek, que gostava de nadar, que mandou construir uma piscina no jardim, e a fonte “art nouveau”, de autoria do escultor EmileGuillaume, com sereias e golfinhos de bronze, perdeu um pedaço. Era uma época de muitos saraus e bailes, que tiveram a participação de músicos como Ataulfo Alves, Pixinguinha, Nat King Cole e Louis Armstrong; e de estrelas do cinema, como Kim Novak, Marlene Dietrich e David Niven.

Além de Dutra e Kubitschek, moravam no palacete o ex-presidente João Goulart e os governadores Chagas Freitas, Moreira Franco, Anthony e Rosinha Garotinho e Benedita da Silva. Durante a ditadura, o Laranjeiras foi sede da Junta Militar, constituída pelos chefes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.

Com edificação e acervo tombados, as obras de restauração do palácio foram acompanhadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac). A reforma que começou em 2012, num total de R$ 39 milhões, custeados com recursos de empresas, através de leis de incentivo cultural,  incluiu um amplo trabalho de modernização, que abrangeu a substituição das redes elétrica e hidráulica. O imóvel ganhou sistema de ar condicionado em todas as dependências, com os aparelhos e a tubulação escondidos para não interferir na ambiência. E ainda um elevador panorâmico, no belvedere (a torre da fachada), que vai até o subsolo, para garantir acessibilidade.

 

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TAGS: Governo