Substâncias e resíduos químicos

Produtos podem apresentar risco à saúde humana e ao meio ambiente
sexta-feira, 25 de abril de 2025
por Ana Borges
(Foto: Freepik)
(Foto: Freepik)
Uma criança de 8 anos sofreu parada cardiorrespiratória e morreu depois de inalar o aerossol de um desodorante, em Ceilândia (DF). Além dela, outros dois casos foram registrados nos últimos meses. As mortes são motivadas por um desafio que vem circulando nas redes sociais, no qual a pessoa deve inalar o spray do desodorante e segurá-lo na boca pelo maior tempo possível. Os médicos alertam que a trend é letal e causa paradas cardíacas.

Especialistas alertam que spray impede a troca gasosa, reduz oxigênio no sangue e pode causar parada cardíaca
Em fevereiro, outra menina de sete anos do ABC Paulista também inalou o spray de um desodorante após assistir a um vídeo nas redes sociais e teve uma parada cardíaca. Em março, dois casos vieram à tona: o de Brenda Sophia Melo de Santana, 11 anos, de Pernambuco; e o de Sarah Raissa Pereira de Castro, 8 anos, do Distrito Federal.

As meninas agiram seguindo um viral das redes sociais em que adultos ou adolescentes mais velhos inalam o spray e tentam manter o produto na boca pelo maior tempo possível. Nisso consiste o desafio da tal “competição”. 

A médica pneumologista, pesquisadora e membro da Academia Nacional de Medicina, Margareth Dalcolmo, explica que essa prática é letal, principalmente para crianças.

Como o produto age no corpo

De acordo com Dalcolmo, os sprays, em geral — não só os desodorantes —, formam uma névoa fina no ar que pode penetrar no pulmão. Em seguida, ocorre um efeito em cascata:
  • Após inalar a névoa do desodorante ou de qualquer outro spray, as partículas são tão finas que conseguem chegar aos alvéolos pulmonares;
  • A função dos alvéolos pulmonares é fazer a hematose. Quando respiramos, o oxigênio se espalha pelo sangue. Enquanto isso, o gás carbônico passa para o interior dos alvéolos. Intoxicados pelo spray, eles param de fazer essa troca gasosa e a criança tem uma queda nos níveis de oxigênio no sangue;
  • A resposta do corpo a esse colapso é uma parada cardíaca — como aconteceu com as vítimas.

A pneumologista explica que a sensação inicial, enquanto a intoxicação acontece, é de euforia — o que leva pessoas a compartilharem o desafio —, mas que rapidamente ela é convertida em uma parada. Como esses desafios são feitos entre as crianças, fora do alcance de um adulto, muitas vezes não há como fazer os primeiros socorros.

“Isso é muito grave, ainda mais em crianças que têm uma superfície pulmonar pequena. Qualquer quantidade pode ser muito e acabar colapsando o sistema, causando a parada cardíaca”, detalhou Dalcolmo.

O médico Paulo Guimarães, especialista em prevenção de acidentes domésticos e primeiros socorros a crianças e adolescentes, alertou que “esse desafio que circula nas redes sociais é extremamente perigoso”, e descreveu os riscos que essas crianças correm ao se submeterem a tais “desafios”:

“Os sprays [de desodorantes aerossóis] contêm gases como butano, propano e isobutano, que, quando inalados, provocam hipóxia — ou seja, falta de oxigênio no corpo”. Segundo Guimarães, a falta de oxigênio no corpo pode causar tontura, convulsões e parada cardíaca, que foi o que levou Sarah Raíssa a óbito. 

“Há, inclusive, a chamada síndrome da morte súbita por inalante, que pode ocorrer em questão de minutos”, completou o especialista.

Os riscos do acesso de crianças à internet

O desafio faz parte de um viral nas redes sociais, que as crianças estão acessando. Ultimamente, os pneumologistas vêm percebendo um aumento nos atendimentos de crianças e adolescentes em seus consultórios, com problemas de saúde motivados por influências online — como é o caso dos cigarros eletrônicos.

O que Dalcolmo e outros especialistas alertam é que é preciso estar atento ao que os filhos veem online e quais redes sociais estão acessando. No caso do TikTok e do Instagram, por exemplo, a idade mínima é de 13 anos.

"Já sabemos o quão prejudiciais são os celulares para as crianças. Eles já estão proibidos nas escolas. Precisamos nos cercar mais, falar com eles sobre essas situações na internet, proibir o acesso tão cedo às redes. Eles são inocentes e incapazes de atentar para as consequências”, alerta Margareth Dalcolmo.

Mais de 40% dos resíduos gerados no país foram descartados de forma inadequada

É importante estar atento aos riscos, garantir ventilação do ambiente e procurar ajuda em caso de emergência 

Resíduos químicos são materiais que contêm substâncias químicas que podem apresentar risco à saúde humana e ao meio ambiente. Alguns exemplos de resíduos químicos incluem solventes, metais pesados, ácidos, bases, resíduos de laboratório, agrotóxicos, medicamentos vencidos, pilhas, baterias e produtos de limpeza. 

Segundo a resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) nº 358, de 29 de abril de 2005, resíduo químico é “todo material contendo substâncias químicas que podem apresentar risco à saúde pública ou ao meio ambiente, dependendo de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade e toxicidade.”

Em 2023, 41% dos resíduos gerados no país foram descartados de forma inadequada, acumulando-se em lixões e córregos urbanos, de acordo com a Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema). A categoria de descarte de produtos como químicos e lixo hospitalar representa 22% das buscas por pessoas interessadas no assunto.

A inalação de resíduos químicos, como fumos metálicos, poeiras e gases, pode causar uma variedade de problemas de saúde, desde irritação leve a doenças graves e até mesmo a morte. A gravidade dos efeitos depende da substância, da concentração e do tempo de exposição. 

Efeitos danosos
  • Irritação — Produtos como ácido clorídrico e soda cáustica podem causar irritação nas vias aéreas superiores;
  • Doenças respiratórias — Inalação de poeiras finas, como as do amianto, pode levar a doenças como asbestose e câncer de pulmão; 
  • Intoxicação — Substâncias como metais (chumbo, mercúrio) e agrotóxicos podem causar intoxicação, com efeitos como lesões em órgãos e até a morte; 
  • Asfixia — Gases como hidrogênio, nitrogênio e monóxido de carbono podem causar asfixia, com sintomas como dor de cabeça, náuseas e coma;
  • Danos ao sistema nervoso — Substâncias como o benzeno podem ter efeito depressivo sobre o sistema nervoso central;
  • Danos a outros órgãos — Alguns produtos químicos podem causar danos ao fígado, rins e outros órgãos, dependendo da substância e do tempo de exposição;
  • Efeitos na pele e olhos — Alguns produtos químicos podem causar irritação, queimaduras e danos à pele e aos olhos. 

O que eles causam
  • Amianto — Causador de doenças como asbestose, câncer de pulmão e mesotelioma;
  • Chumbo — Pode causar danos ao sistema nervoso e aos rins;
  • Mercúrio Pode causar danos ao sistema nervoso e a outros órgãos;
  • Agrotóxicos — Podem causar intoxicação, com efeitos variados dependendo do produto;
  • Monóxido de carbono — Pode causar asfixia e até a morte. 

Resumindo, a inalação de resíduos químicos é muito perigosa e pode causar diversos problemas de saúde. É importante estar atento aos riscos, utilizar os EPIs adequados, garantir a ventilação do ambiente e procurar ajuda em caso de emergência. 

(Fontes: Metrópoles, G1, UOL)

 

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