Sindicato dos Professores se manifesta contra demissões no final de 2020

Sinpro denuncia fragilidade nas relações de trabalho, diminuição da carga horária, assédio moral e chantagens
quinta-feira, 07 de janeiro de 2021
por Guilherme Alt (guilherme@avozdaserra.com.br)
Sindicato dos Professores se manifesta contra demissões no final de 2020

 

No final de 2020, dezenas de professores da rede particular de ensino foram demitidos. Apesar da pandemia ter gerado um grande prejuízo para as escolas de um modo geral, além da evasão escolar, a classe considera discutível as justificativas que motivaram as demissões. Por conta da pandemia, o trabalho já exaustivo dos educadores trouxe à classe problemas ainda maiores. Em tempos normais, não bastassem as horas extras não contabilizadas e utilizadas pelos professores para elaboração do plano de aulas, correção de exercícios e provas, participação em reuniões semanais, conselhos de classe e com pais de alunos, com a pandemia os profissionais se viram, da noite para o dia, tendo que transformar todo o conteúdo em versão online.

Parece simples, mas o tempo que um professor levava para seu planejamento aumentou cerca de seis vezes. Isso quer dizer que, se um professor demorava cerca de uma hora para planejar sua aula, por conta do ensino remoto, ele levava quase seis horas. Sem contar que, por conta das aulas online, muitos não tinham equipamentos capazes de suportar o sistema e até mesmo o conhecimento de como manuseá-los. Além disso, custos como energia e internet aumentaram e não foram cobertos.

Comunicado do Sinpro

Entre tantos fatores que levaram muitos professores a desenvolverem problemas como ansiedade, depressão, estresse, entre outros distúrbios psicológicos, após as demissões, o Sindicato dos Professores (Sinpro) de Nova Friburgo, através de seu presidente, o professor Ricardo Costa, conversou com A VOZ DA SERRA e enviou um comunicado.

Intitulado “Ensino é dignidade: os direitos do professor e da professora são vitais à Educação” e já em tom de desabafo, a mensagem se inicia pedindo o fim de demissões em massa ao final de cada ano letivo.

Em março do ano passado, à classe foi imposto mudar completamente o modelo de ministrar aulas tendo que os próprios profissionais, arcar com os custos do ensino não presencial. “Professores e professoras, viram-se obrigados a se adequar prontamente ao ensino remoto e suas ferramentas, bem como a custear e manter toda essa estrutura de trabalho dentro da qual as cobranças se multiplicaram exponencialmente, afetando não apenas as condições de trabalho de quem educa como também sua saúde mental e emocional e, por vezes, a própria qualidade do ensino ministrado”, disse o presidente do Sinpro.

De acordo com o comunicado, não bastassem tais problemas, as dificuldades de acesso por parte de camadas menos favorecidas agravaram desigualdades sociais relativas ao direito à educação, enquanto as autoridades públicas pouco faziam para amenizar tais prejuízos. “Nesse aspecto, inclusive, coube ao Governo Federal o papel de estimular - com mentiras e ataques grosseiros - o negacionismo e as desinformações que, por muitas vezes, alimentaram hostilidades contra medidas científicas, contra o necessário fechamento das escolas e mesmo contra a categoria de educadores em geral: professores foram taxados de “vagabundos” e escolas comparadas a “praias e boates”.

Aulas presenciais só após a vacinação 

O Sinpro manteve sua posição quanto ao retorno das atividades escolares. Para a classe, somente após a vacinação de grande parte da população haverá segurança para que as aulas presenciais aconteçam. “O ensino remoto foi uma imposição da pandemia, não sendo de maneira alguma uma escolha livre dos professores, que sempre vão preferir o trabalho presencial em sala de aula, pelo necessário e sempre estimulante contato direto com os estudantes. Mas temos responsabilidade e defendemos acima de tudo a vida de todos os envolvidos no processo de ensino e aprendizagem. Por isso, seguimos firmes no propósito de que não haja retorno das aulas presenciais até que haja segurança, algo que somente a vacinação em massa poderá garantir”, destaca trecho de comunicado do sindicato.

O Sinpro, juntamente com o Sepe (Sindicato estadual dos Profissionais de Educação) - que em Nova Fribnurgo representa também os educadores da rede municipal - e o Fórum Municipal de Educação, participou ativamente de discussões no Grupo de Trabalho da Saúde (formado por instituições e entidades representativas de diversos setores da sociedade). O Grupo de Trabalho encaminhou ao Conselho Municipal de Saúde e à Prefeitura de Nova Friburgo um protocolo contendo várias orientações para o retorno seguro às aulas presenciais, com base nas medidas propostas pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Ainda de acordo com o Sinpro, no âmbito trabalhista, além dos reflexos da política de destruição de direitos praticada pelos governos (resultantes das contrarreformas trabalhista, previdenciária e do corte de gastos com programas sociais), “tivemos em nossa cidade a repetição de situações que atingem cruelmente os profissionais da educação todo fim de ano, com o anúncio de dezenas de demissões. Uma universidade associada a grandes conglomerados internacionais - voltada centralmente a garantir os lucros de seus investidores - e escolas particulares (algumas até de grande porte) contribuíram, infelizmente, para ampliar o índice de desemprego no município, demitindo professores e também funcionários administrativos, quase sempre profissionais de longo tempo dedicado à instituição e à educação de qualidade”.

Ensino híbrido, assédio moral e fragilidade nas relações de trabalho

As discussões em torno da volta às aulas tem passado pela implementação do chamado ensino híbrido – metodologia que envolve tanto as aulas presenciais quanto remotas, possibilitando que em determinados momentos o processo de aprendizado ocorra na escola, com outros em que o aluno pode estudar sozinho, na sua própria casa – como medidas de segurança para os alunos não se exponham tanto.

Segundo o Sinpro, algumas instituições estão pressionando professores a aceitar condições desgastantes, tanto físicas quanto psicológicas – o que foi classificado como ato imoral, pelo presidente do sindicato. “Teremos ainda pela frente o desafio do ensino híbrido  com escolas pressionando para o retorno às aulas presenciais e forçando o professor a trabalhar de forma dobrada (mantendo o ensino remoto para uma parte dos estudantes e o trabalho em sala de aula para a outra parte). Há escolas anunciando - outras já praticando - a junção de turmas e a diminuição de carga horária, com a consequente redução do salário do professor, o que é ilegal e imoral”, informou o sindicato.  

O professor Ricardo revelou ainda que muitos profissionais foram e continuam sendo expostos a uma “avalanche de exigências descabidas e com a permanente ameaça de demissão, uma combinação de chantagens com assédio moral que busca fragilizar ainda mais as já precárias relações de trabalho”.

Por fim, o presidente do Sinpro orientou a todos os profissionais da educação a procurarem o sindicato, caso sintam necessidade. “Em meio a essas e outras adversidades, o Sinpro Friburgo se manifesta em defesa dos direitos sociais e trabalhistas e pela educação de qualidade para todos. Aos professores das escolas particulares que se sintam ameaçados em suas garantias constitucionais e trabalhistas, solicitamos que encaminhem a denúncia ao sindicato”, destacou Ricardo. 

 

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TAGS: Educação