Sarampo: aumento alarmante de casos na Europa e Ásia Central preocupa a OMS

No Brasil, vírus voltou a circular em 2018 e provoca surtos entre crianças desprotegidas desde então
quinta-feira, 21 de dezembro de 2023
por Jornal A Voz da Serra
(Foto: Pexels)
(Foto: Pexels)

A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que a Europa registra um aumento alarmante de casos de sarampo. Entre janeiro e outubro deste ano foram confirmados pelo menos 30 mil casos da doença em 40 dos 53 estados-membros. A alta corresponde a mais de 3.000% em comparação com os 941 infectados em todo o ano de 2022. A situação acelerou nos últimos meses, numa tendência que deve continuar se não houver medidas urgentes para conter a propagação. 

Para o diretor regional da OMS para a Europa, Hans Kluge, o aumento de casos de sarampo não só foi de 30 vezes, mas também ocorreram quase 21 mil hospitalizações e cinco mortes relacionadas à doença. O representante sublinhou que a situação é preocupante considerando a disponibilidade da vacinação, que é “a única forma de proteger as crianças da doença potencialmente perigosa”.  

Kluge fez um apelo a todos os países para que se preparem para detectar rapidamente e responder dentro do prazo adequado aos surtos de sarampo, que podem pôr em perigo o progresso nos esforços pela eliminação da doença, que enfraquece o sistema imunitário das crianças e pode ser fatal. 

Cobertura vacinal  

A emergência também é mencionada em alerta do Unicef (Fundo da ONU para a Infância) sobre a alta de casos na Europa e na Ásia Central. Estima-se que 931 mil crianças perderam total ou parcialmente a vacinação de rotina entre 2019 e 2021. Para a diretora do Unicef para a região, Regina De Dominici, não há um sinal claro de queda na cobertura vacinal para justificar o aumento nos casos. A taxa de imunização com a primeira dose da vacina caiu de 96% em 2019 para 93% em 2022. 

Um dos principais fatores que ditaram a queda na cobertura foi a diminuição da procura de vacinas que foi “em parte alimentada pela desinformação e pela desconfiança observadas durante a pandemia da Covid-19.” A situação também foi causada pela interrupção dos serviços de saúde e a fragilidade dos sistemas de cuidados primários durante a crise. 

Mortes pela doença crescem 43% no mundo

Como consequência da cobertura vacinal abaixo do ideal, o mundo registrou uma alta de 43% nas mortes ligadas ao sarampo em 2022. É o que mostra novo relatório divulgado há um mês pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC).

O documento estima que 136 mil vidas tenham sido perdidas pela doença no ano passado, em sua maioria crianças, além de nove milhões de casos — um aumento de 18% em relação ao ano anterior.

“O aumento de surtos e mortes por sarampo é surpreendente, mas, infelizmente, não é inesperado, dado o declínio das taxas de vacinação que temos visto nos últimos anos”, diz John Vertefeuille, diretor da Divisão Global de Imunização dos CDC.

O número de países que relataram surtos de sarampo em 2022 também cresceu, de 22 para 37. O impacto é também desproporcional: 28 destas nações que enfrentaram a doença estão na África, e apenas uma na Europa. O novo relatório OMS ressalta essa desigualdade na recuperação das coberturas vacinais após a queda acentuada que foi observada de forma geral com a crise sanitária da Covid-19.

“A falta de recuperação da cobertura vacinal contra o sarampo em países de baixa renda após a pandemia é um sinal de alarme para a ação. O sarampo é chamado de vírus da desigualdade por um bom motivo. É a doença que irá encontrar e atacar aqueles que não estão protegidos”, diz Kate O’Brien, diretora de Imunização, Vacinas e Produtos Biológicos da OMS.

“As crianças em todos os lugares têm o direito de ser protegidas pela vacina contra o sarampo, que salva vidas, não importa onde vivam”, continua. O sarampo é uma infecção altamente contagiosa transmitida de pessoa a pessoa, por via aérea, ao tossir, espirrar, falar ou respirar, mas que pode ser prevenida com a vacina. Hoje, a proteção faz parte da dose tríplice viral, imunizante que evita o sarampo, rubéola e caxumba. No Brasil, as duas doses estão disponíveis no Programa Nacional de Imunizações (PNI) e são indicadas aos 12 e 15 meses de idade.

No mundo, segundo o painel de vacinação da OMS, em 2022, 83% dos bebês receberam a primeira dose, um percentual que havia chegado a 86% em 2019. Cerca de 74% completaram o esquema de proteção, bem abaixo dos 95% preconizados pelas autoridades de saúde. A cobertura significa que 22 milhões de bebês não receberam nem a primeira aplicação.

Além disso, a organização destaca que mais da metade desses 22 milhões vivem em apenas 10 países: Brasil; Angola; Congo; Etiópia; Índia; Indonésia; Madagascar; Nigéria; Paquistão e Filipinas. Entre os bebês brasileiros, de acordo com dados do Sistema de Informações do PNI (SI-PNI), somente 57,6% receberam as duas doses em 2022. A última vez que o país ultrapassou 90% de cobertura foi em 2014.

“A vacinação é a melhor defesa contra o sarampo. As consequências da doença podem ser graves, especialmente para crianças pequenas. Elas incluem complicações como pneumonia, encefalite (inflamação do cérebro), convulsões, e em casos raros, pode levar a danos cerebrais permanentes ou até a morte. Além disso, crianças não vacinadas podem contribuir para a disseminação da doença na comunidade, afetando outros indivíduos vulneráveis, como bebês que ainda não são elegíveis para a vacinação e pessoas imunossuprimidas [comprometimento do sistema imunológico]”, explica o infectologista do Instituto Emílio Ribas, Leonardo Weissmann, diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

A queda da vacinação foi o que levou o país a perder o certificado de eliminação do sarampo. O status foi conquistado em 2016 após uma campanha de vacinação bem sucedida que zerou os casos da doença. Nos dois anos seguintes, o país chegou a permanecer sem novos registros mas, em 2018, o vírus voltou a circular e provocar surtos. Em 2019, os casos da doença explodiram, e o país perdeu a certificação.

“Esse revés trouxe à tona as lacunas existentes na cobertura vacinal e os desafios enfrentados no controle epidemiológico do sarampo. Desde essa perda de certificação, o Brasil tem enfrentado surtos intermitentes de sarampo. Estes surtos reiteram a necessidade contínua de esforços rigorosos de vigilância, campanhas de vacinação eficazes e ações de conscientização pública. Estas medidas são essenciais não apenas para manter a doença sob controle, mas também para que o Brasil possa reconquistar o status de país livre do sarampo”, argumenta Weissmann. (Fontes: areferencia.com e oglobo.globo.com) 

Publicidade
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Publicidade
Publicidade
Publicidade

Apoie o jornalismo de qualidade

Há 79 anos A VOZ DA SERRA se dedica a buscar e entregar a seus leitores informações atualizadas e confiáveis, ajudando a escrever, dia após dia, a história de Nova Friburgo e região. Por sua alta credibilidade, incansável modernização e independência editorial, A VOZ DA SERRA consagrou-se como incontestável fonte de consulta para historiadores e pesquisadores do cotidiano de nossa cidade, tornando-se referência de jornalismo no interior fluminense, um dos veículos mais respeitados da Região Serrana e líder de mercado.

Assinando A VOZ DA SERRA, você não apenas tem acesso a conteúdo de qualidade, mantendo-se bem informado através de nossas páginas, site e mídias sociais, como ajuda a construir e dar continuidade a essa história.

Assine A Voz da Serra

TAGS: