Não tem carnaval, mas talvez haja alguma diversão, em alguns espaços, para lembrar que o Momo tá por aí, despertando nas pessoas o espírito carnavalesco. No entanto, a questão da pandemia ainda gera preocupações, tanto na população quanto nos dirigentes das escolas de samba.
A colunista social Marly Pinel diz que está “doida para que isso passe” porque não está disposta a facilitar a vida do corona, se expondo em eventos. “Infelizmente, não tem como ter carnaval com todo mundo misturado e sem máscara. Comemorar alguma coisa neste cenário atual é impossível, não dá!”, enfatiza.
Considerado o segundo maior carnaval do estado, a folia está suspensa em Nova Friburgo: esse ano não haverá desfiles de escolas nem de blocos, mas eventos estão liberados em locais abertos e fechados.
Confira o que pensam alguns personagens tradicionais do nosso carnaval.
Um breve passeio, talvez uma festa
Para Marly Pinel, 85 anos, figura icônica do carnaval friburguense, uma incansável foliã acostumada a desfilar em todas as escolas e blocos, desde a infância, nesse ano, como no anterior, ela está decidida a ficar em casa. “Sair de cena, mais uma vez”, diz, para emendar, em seguida que, “no máximo, talvez me anime a dar umas voltas nas ruas, dar um pulo no evento do espaço Natureza”, mas tudo no condicional.
“Sou muito cuidadosa com a minha saúde, por isso sigo rigorosamente as recomendações dos especialistas. Fiquei confinada ano passado, tomei todas as vacinas, faço testes e tenho tomado todas as precauções para evitar me contaminar. Quer dizer, depois de tantos sacrifícios, não vou facilitar logo agora, quando parece que está perto da gente se livrar da pandemia. Mesmo assim, nessa semana fiquei resfriada, tive forte dor de garganta, mas fiquei tranquila porque me vacinei. E vou continuar me cuidando”, revelou.
Marly contou que pretende dar umas voltas pela cidade, encontrar amigos, dar um pulo em um ou outro evento, mas evitando maiores exposições.
“O perigo de ir nesses lugares é que a gente acaba se animando, entra no clima da festa e esquece da proteção. Como se divertir, cantar de máscara? Complicado, né? Então, o jeito é evitar mesmo. De jeito nenhum vou me arriscar a pegar esse vírus. Quero estar por aqui quando o carnaval de 2023 chegar!”, ressaltou. Como tem sido há décadas.
A presença de Marly é uma tradição da qual o povo que faz o carnaval e o que assiste aos desfiles das escolas, não abre mão. Ela é rainha, hors-concours. Quanto à energia que passa, o brilho nos olhos, o sorriso constante, ela diz que é “normal”, que nasceu assim, não tem nenhum segredo.
Cá pra nós, dá vontade de tirar uma casquinha desse ‘sem segredo’ pra sentir o alto astral que contagia o público quando Marly entra na avenida, transmitindo o prazer e alegria de viver típicos dela. E, se Deus quiser, teremos o privilégio de apreciar tudo isso ano que vem.
Rosângela Cassano e seus carnavais
A advogada Rosângela Cassano, tradicional figura da folia friburguense, assídua nos desfiles na avenida, nos bailes e concursos de fantasia, pretende marcar presença no carnaval este ano, ainda não sabe exatamente em qual evento. Em entrevista para A Voz da Serra, no último carnaval realizado antes da pandemia, em 2020, ela lembrou:
“Desfilei a primeira vez ainda na barriga de minha mãe, Eda Cassano (já falecida), no Salgueiro. Naquela época ela integrava a Comissão de Frente. Por isso o carnaval me desperta esse forte laço de aproximação que sempre tive com a minha mãe”, contou Rosângela, que participava dos concursos de fantasias infantis do Clube Magnatas, do Clube Municipal, e em Friburgo foi campeã por sete anos seguidos.
“Ainda uma garota, aqueles que se tornariam mais tarde meus amigos, Eduardo Rodrigues, Leônidas e Tereza da Vilage, me convidaram para sair na Vilage no Samba. Minha mãe disse que deixava, consultou meu pai, que autorizou, e assim começou a minha história com o carnaval friburguense!”.
E mais uma vez, saudosa, falou da mãe: “Ela desfilou durante anos como destaque nos concursos de fantasias, obtendo inúmeras vitórias, até se tornar hors-concours. Também produzia fantasias para vários destaques, como o Gilson Raposo, Paulo da Serrana, Soledade Portela… Fez muitos amigos graças ao carnaval”, encerrou.
José Carlos Espíndola, presidente da Liesbenf
“Por segurança sanitária, não faremos carnaval esse ano. Não condiz com a realidade de agora realizar nenhum tipo de evento nas quadras. Infelizmente, nossos pandeiros, surdos, cuícas, tamborins, estarão silenciados. Embora já bem controlada, a situação ainda não permite que a gente baixe a guarda. Se decidimos adiar o carnaval, justamente por conta da pandemia, não tem muita lógica a gente fazer um evento, como resolveu o Rio, que adiou o carnaval mas vai promover dois dias de desfile na Cidade do Samba. E os ingressos já estão esgotados — 5 mil para sábado, mais 5 mil para domingo.
Não seria coerente da nossa parte, até porque fomos nós que propusemos esse adiamento para a prefeitura. Inclusive pensando nas crianças, nas baianas e na velha guarda, que não poderiam participar do desfile. Não seria justo eles ficarem de fora. Quando voltarmos, tem que ser com todos os integrantes das escolas. A posição da Liga é exatamente essa, de manter o adiamento e não ter evento nenhum nas quadras, ou seja lá onde for. Passado esse período, se Deus quiser, a gente espera poder voltar em março às quadras, com os ensaios, com a movimentação normal da festa, para fazer um “grito de carnaval”, em abril, quem sabe, uns 15 dias antes do evento… Então, que maio seja o mês do carnaval, e fevereiro o mês do silêncio.”
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