As mulheres são mais afetadas por doenças mentais

Rotinas excessivas e alta cobrança levam as profissionais à síndrome de burnout
sexta-feira, 20 de janeiro de 2023
por Jornal A Voz da Serra
(Foto: Freepik)
(Foto: Freepik)

Os dados sobre saúde mental no Brasil não mentem: vivemos um período de grande estresse e desgaste emocional. Ansiedade, depressão, estresse, burnout — estamos no topo da lista em todos. De acordo com a OMS, o Brasil é o país mais ansioso do mundo. No quesito depressão, ocupamos o 5º lugar no ranking mundial. Quando falamos de burnout, somos o 2º país do mundo com mais casos, conforme o International Stress Management Association (Isma-BR). Segundo a associação, 72% dos brasileiros sofrem de alguma sequela do estresse, sendo que 32% deles têm burnout.

Outro estudo, desenvolvido pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, constatou que um a cada cinco brasileiros sofre de burnout. Entre os que apresentam algum sinal da síndrome, a taxa sobe para metade da força de trabalho nacional. Se entrarmos em indicadores sociais, o fator gênero indica que 60% dos casos de burnout ocorrem em mulheres, segundo a pesquisa da USP. 

Importante salientar que o burnout não ocorre da noite para o dia. Ele é um processo, com diferentes estágios, mas que dá sinais de que o esgotamento está logo na esquina.

O público feminino é o mais afetado pela síndrome de burnout. O levantamento Women in the Workplace 2021 mostrou que 42% das entrevistadas sofrem com sintomas da doença. Muito disso está justamente ligado a rotinas excessivas, alta cobrança, busca por resultados e uma suposta perfeição. Entre os principais sintomas estão dor de cabeça, problemas de autoestima, dificuldades de concentração e perda de sono.

Exemplo de um caso

Com uma rotina de trabalho intensa, que iniciava antes das 7h, trabalhando em duas escolas da rede pública, uma delas na zona rural, a professora de alfabetização E.Gonçalves, 46 anos, só conseguiu trabalhar na primeira semana de aula em 2022. 

"Quando voltei do feriado de carnaval, eu me senti mal, com vontade de dormir à tarde, coisa que eu não faço nunca. No dia seguinte, descobri que a diretora tinha marcado uma reunião sem me avisar e, aí, vi que eu não conseguiria. Eu me senti agredida por fazerem as coisas pelas minhas costas. Tive taquicardia e falta de ar, uma sensação de desmaio e tremores. Quando fui ao médico e ele me deu 10 dias de atestado, de lá para cá, eu não voltei, estou de licença desde março”, contou ela, no ano passado.

A pandemia gerou mudanças no sistema escolar e uma sobrecarga de trabalho on-line em casa. A pressão das duas escolas e das mães dos alunos fez com que a professora chegasse ao seu limite. "Ninguém chama o professor para conversar e ouvir sua versão, eu não senti apoio em nenhum dos casos", reclamou.

Neste meio tempo, conciliando o trabalho com os afazeres domésticos, ela descobriu um nódulo no seio e teve de lidar com o adoecimento dos pais. Os primeiros atestados foram de um mês. Durante o tratamento, a professora contou que os gestores escolares só queriam saber quando ela retornaria. 

"Eles não perguntaram mais notícias minhas, se eu estou bem, se eu vou melhorar. E isso marca muito profundamente, porque você dedica uma vida inteira. Foi muito difícil quando me dei conta que eu não tinha o valor que pensava", lamentou, acrescentando não ter previsão de quando terá condições de retornar à sala de aula.

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