Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) indica que mesmo com as medidas restritivas, até mesmo a adoção do lockdown (bloqueio total à circulação de pessoas), artifício utilizado em alguns municípios fluminenses como a vizinha Teresópolis e Campos dos Goytacazes, no Norte do Estado, o coronavírus permanecerá em circulação. A entidade ainda alerta que qualquer nível de relaxamento resultará em aumento de casos e mortes. Segundo os pesquisadores, ainda sem uma vacina ou medicamento para Covid-19, as medidas de distanciamento social serão necessárias por alguns períodos, pelo menos, até 2024.
O estudo veio à tona justamente na semana em que o prefeito de Nova Friburgo, Renato Bravo, anunciou medidas que ampliam o funcionamento dos serviços essenciais, além da flexibilização para o funcionamento parcial das indústrias, a partir desta segunda-feira, 1º. Segundo o decreto da prefeitura, além de todos os serviços anteriores panificadoras e óticas também estão liberadas para funcionar.
A Fiocruz informou ainda que a flexibilização na capital ou em municípios da Região Metropolitana pode colocar em risco toda a população fluminense. Com 4.856 mortes e 44.886 casos confirmados de Covid-19 - dados computados até a última quinta-feira, 28, o Estado do Rio já ultrapassou a China e a Índia em número de mortes. Os países asiáticos totalizaram até agora 4.638 óbitos e a Índia, 4.711.
O número de infecções apresenta crescimento, mesmo que desacelerado, como mostra um gráfico feito por pela Fiocruz, que compara a evolução da doença no estado, Brasil e Itália, país que teve que adotar medidas duras de restrição devido ao grande número de mortes. A curva da Itália está cerca de duas semanas adiantadas e pode ser utilizada como parâmetro para um possível cenário de evolução da pandemia no Estado do Rio.
Crescimento da síndrome respiratória
O relatório semanal InfoGripe, da Fiocruz, relativo à semana epidemiológica 20 (17 a 23 de maio), mostra uma retomada ou manutenção da tendência do crescimento do número semanal de casos de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) em diversas regiões do país. Segundo o estudo, essa propensão - considerada muito elevada - aliada ao alto percentual de detecção de Covid-19 entre os casos com teste laboratorial positivo, sugere a necessidade de manutenção das recomendações de distanciamento social para evitar a demanda hospitalar acima da capacidade de atendimento.
A análise aponta que diversos estados já relatam sobrecarga excessiva na sua rede hospitalar, alguns deles já apresentando capacidade máxima ou próxima da máxima. O coordenador do Infogripe, Marcelo Gomes, ressaltou que essa tendência poderá afetar a taxa de crescimento dos casos notificados nas próximas semanas, "uma vez que as notificações dependem de hospitalização, a depender dos fluxos adotados para notificação de casos em fila de espera em cada estado ou município".
O pesquisador observa que os dados sugerem uma nova fase de desaceleração no número de novos casos semanais, embora sem indicativo de redução no número de novos casos. O que pode, de acordo com Marcelo Gomes, representar uma provável estabilização nas últimas semanas, após a retomada do crescimento acelerado observado no mês de abril.
O panorama sugere que as regiões Centro-Oeste e Sul do Brasil mantiveram tendência de crescimento acelerado, enquanto a região Sudeste apresenta sinal de crescimento com taxa mais lenta. Marcelo Gomes destaca que ao analisar os dados sem utilização dos filtros de sintomas da definição de SRAG, ou seja, considerando todas as hospitalizações e óbitos inseridas no sistema Sivep-Gripe, a situação do Nordeste sugere manutenção do crescimento, embora em desaceleração.
"Em relação à região Norte, mantemos a recomendação de consulta aos gestores locais para avaliação das filas de espera em relação aos leitos hospitalares, a fim de avaliar se a redução no número de casos semanais é de fato consequência da redução no número de casos na população ou reflexo da incapacidade de internar novos pacientes", afirmou.
Quanto aos números, o coordenador do InfoGripe ressalta que, durante a epidemia de Influenza H1N1, foram registrados 90.465 casos ao longo de todo o ano de 2009 no Brasil, atendendo os critérios de sintomas de SRAG. Sem levar em conta a presença de febre, foram 100.477 casos. Sem a aplicação de nenhum filtro de sintomas sobre os registros daquele ano inseridos no sistema de notificação, foram 202.529 casos.
A estimativa atual de casos de SRAG notificados em 2020 já é maior em todos esses recortes, sendo que no caso dos registros com presença dos sintomas que definem SRAG, com ou sem presença de febre, os dados já inseridos no banco também já é superior do que o total registrado em 2009.
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