Qualquer pessoa que já sofreu com jet lag (distúrbio temporário do sono), ou lutou depois de adiantar ou voltar o relógio uma hora para o horário de verão sentiu na pele o que os pesquisadores chamam de relógio biológico, ou ritmo circadiano — o “marca-passo mestre” que determina como seu corpo responde à passagem de um dia para o outro.
Esse “relógio” é composto por cerca de 20 mil neurônios no hipotálamo, a área próxima ao centro do cérebro que coordena as funções inconscientes do corpo, como respiração e pressão arterial.
Os humanos não são os únicos seres com um sistema de relógio interno: todos os vertebrados — mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes — possuem relógios biológicos, assim como plantas, fungos e bactérias. Os relógios biológicos são o motivo pelo qual os gatos são mais ativos ao amanhecer e ao anoitecer, e por que as flores florescem em determinadas horas do dia.
Os ritmos circadianos também são essenciais para a saúde e o bem-estar. Eles governam as mudanças físicas, mentais e comportamentais do seu corpo ao longo de cada ciclo de 24 horas em resposta a sinais ambientais como luz e comida. É por isso que mais ataques cardíacos e derrames ocorrem no início da manhã.
É também por isso que camundongos que não têm relógios biológicos envelhecem mais rápido e têm uma expectativa de vida mais curta, e pessoas com uma mutação nos genes do relógio circadiano têm padrões anormais de sono.
O desalinhamento crônico do ritmo circadiano por sinais externos, como ocorre com trabalhadores noturnos, pode levar a uma ampla gama de distúrbios físicos e mentais, incluindo obesidade, diabetes tipo 2, câncer e doenças cardiovasculares.
Em suma, há ampla evidência de que o relógio biológico é fundamental para a saúde. E cronobiólogos como eu estão estudando como o ciclo dia-noite afeta seu corpo para entender melhor como você pode modificar seus comportamentos para usar seu relógio interno a seu favor.
Como os ritmos afetam sua saúde
Seu relógio biológico afeta sua saúde regulando seus ciclos de sono-vigília e flutuações na pressão sanguínea e na temperatura corporal. Ele faz isso principalmente sincronizando seu sistema endócrino com os ciclos de luz e escuridão ambientais, para que certos hormônios sejam liberados em certas quantidades em determinadas horas do dia.
A glândula pineal em seu cérebro, por exemplo, produz melatonina, um hormônio que ajuda a regular o sono em resposta à escuridão. Os médicos aconselham reduzir a exposição à luz azul artificial de dispositivos eletrônicos antes de dormir, pois pode atrapalhar a secreção de melatonina e a qualidade do sono.
Seu ritmo circadiano também afeta seu metabolismo. Entre outras coisas, o sono ajuda a regular a leptina, um hormônio que controla o apetite. Seus níveis de leptina flutuam ao longo do dia de acordo com um ritmo definido pelo seu relógio circadiano. O sono insuficiente ou irregular pode interromper a produção de leptina, o que pode nos deixar com mais fome e levar ao ganho de peso.
Nos últimos anos, pesquisadores descobriram ainda mais maneiras pelas quais o relógio circadiano pode afetar a saúde. Por exemplo, há pesquisas que sugerem que comer em horários fixos do dia, ou dietas com restrição de tempo, pode prevenir a obesidade e doenças metabólicas.
A depressão e outros transtornos de humor também podem estar ligados ao controle circadiano disfuncional que leva a mudanças na forma como seus genes são expressos.
A hora do dia em que você toma o medicamento também pode afetar a eficácia e a gravidade dos efeitos colaterais. Da mesma forma, o relógio biológico é um alvo potencial para quimioterapias contra o câncer e tratamentos antiobesidade.
E, finalmente, até mesmo sua personalidade pode ser moldada pelo fato de seu relógio interno fazer de você uma “pessoa da manhã” ou uma “pessoa da noite”.
*Professor assistente de Biologia na Universidade A&M do Texas (Texto completo em: revistagalileu.globo.com/)
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