Mais de 70 milhões de brasileiros sofrem com insônia

Celular, internet e redes sociais contribuem para aumento do distúrbio
sexta-feira, 07 de julho de 2023
por Jornal A Voz da Serra
(Foto: Pexels)
(Foto: Pexels)

Cerca de 72% dos brasileiros sofrem de distúrbios relacionados ao sono, entre eles, a insônia, de acordo com estudos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). E de acordo com a Associação Brasileira do Sono (ABS), 73 milhões de pessoas sofre com o distúrbio no país.

Para ser caracterizado como insone, o paciente precisa apresentar as seguintes características: dificuldade de pegar no sono ou dificuldade de se manter dormindo por uma quantidade de horas suficiente para ter um sono restaurador; apresentar as dificuldades descritas acima, mesmo havendo tempo suficiente e condições ideais para se conseguir dormir; a ausência de sono restaurador capaz de tornar o paciente improdutivo durante o dia.

Se o indivíduo não apresentar essas três características, ele provavelmente não tem insônia. Por exemplo, os indivíduos que dormem poucas horas por noite, mas mantém-se plenamente produtivos ao longo do dia não são insones.

Também é importante distinguir a insônia da privação do sono. Pacientes com privação do sono são aqueles que querem dormir, mas não conseguem por motivos que variam desde um ambiente barulhento, desconfortável ou muito claro, até a impossibilidade de dormir por questões profissionais. A principal diferença entre a insônia e a privação do sono é o fato de que, no segundo caso, o paciente consegue dormir caso lhe seja dada a oportunidade.

Outra situação que não é considerada insônia são os casos de algumas pessoas que têm o ritmo circadiano (relógio natural) diferente do habitual, sendo produtivas durante a noite e sonolentas durante o dia. Estes indivíduos também não são insones, pois, durante a manhã e parte da tarde, eles conseguem dormir um sono restaurador a ponto de estarem novamente produtivos durante a noite.

O professor associado do departamento de clínica médica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e presidente da ABS, Luciano Drager, levanta outra questão importante: a tecnologia contribui para a insônia. De acordo com ele, a tecnologia é uma das "culpadas" pelo aumento de insones no mundo. Houve uma piora no padrão de hábitos que acabam facilitando o surgimento da insônia e da privação do sono. 

"As pessoas estão mais conectadas, o estímulo visual aumentou, antes líamos livros, agora lemos no tablet, no celular. Temos fácil acesso à televisão, internet, redes sociais. Esses estímulos acabam inibindo a melatonina à noite, criando ambientes que favorecem a insônia, a privação do sono, a um sono de má qualidade". 

Transtornos de humor como depressão e ansiedade também influenciam no dormir e na insônia. E eles têm aumentado também. Um levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontou que a pandemia fez aumentar em mais de 25% número de casos desses dois transtornos em todo o mundo. "Estamos em um ambiente mais propício para a insônia e a pandemia foi a cereja do bolo que contribuiu para aumentar os casos de transtornos de humor", alerta o presidente da ABS. 

Existem dezenas de causas para insônia. Em geral, elas costumam ser categorizadas em insônia aguda e insônia crônica.                                                                                                                                                                                                                

Aguda

Também chamada de insônia transitória ou de curta duração, é uma dificuldade para dormir que dura menos de 3 semanas e costuma estar associada a fatores de estresse, tais como:

  • Mudanças súbitas no ambiente onde o indivíduo dorme. Barulhos, temperatura, tipo de colchão, luminosidade, presença de outras pessoas no quarto, etc. podem causar insônia durante um curto período, até que o paciente se adapte ao novo ambiente.

  • Aumento ou redução repentina no consumo de determinadas substâncias, como cafeína, nicotina, álcool e drogas ilícitas.

  • Doenças agudas, principalmente aquelas que causam dor, desconforto ou impedem o paciente de dormir deitado.

  • Estresses psicológicos, como divórcio, perda do emprego, morte de um familiar, discussões, pressões profissionais etc.

  • Uso de certos medicamentos, como beta-bloqueadores, teofilina, corticoides, fluoxetina, bupropiona, venlafaxina, levotiroxina, broncodilatadores e anfetaminas.

  • Suspensão, após longo uso, de medicamentos que agem no sistema nervoso central, como antidepressivos ou ansiolíticos.

A insônia de curta duração costuma se resolver sozinha após algumas semanas. Em algumas situações, porém, o paciente só consegue voltar a ter um sono normal depois que o fator de estresse é eliminado. Qualquer causa de insônia aguda pode levar à insônia crônica, caso o fator de estresse não consiga ser controlado.

Crônica

Ocorre quando o paciente tem dificuldade para dormir em, pelo menos, 3 dias da semana por mais de 4 semanas seguidas. Muitas vezes, o paciente fica vários dias sem conseguir dormir bem e depois apresenta uma noite isolada de bom sono. As causas mais comuns para insônia crônica são: 

Má higiene do sono — Ao contrário do que o nome sugere, não tem nada a ver com os hábitos de limpeza do paciente. Higiene do sono é um conjunto de ações ao longo do dia que favorecem o início do sono à noite. Exemplos da má higiene do sono são: consumir cafeína à noite, praticar atividades físicas logo antes de dormir, não dormir na mesma hora todo dia, tirar vários cochilos durante o dia, principalmente após 15h, jantar muito tarde à noite, ficar estudando ou trabalhando até tarde, etc.

Insônia psicofisiológica Também chamada de insônia primária, é aquela insônia que surge sem causa aparente. Pacientes com esse tipo de insônia não conseguem relaxar e apresentam grande atividade mental quando tentam adormecer. Em dado momento dessa intensa atividade mental, o paciente percebe que já está há muito tempo na cama sem dormir e começa a ficar ansioso, criando um ciclo vicioso que torna ainda mais difícil o relaxamento e o sono. Com o tempo, o paciente pode começar a associar a própria cama ou quarto com períodos de ansiedade. Alguns só conseguem voltar a dormir se mudarem de ambiente.

Doenças neurológicasDoenças degenerativas neurológicas, como o Parkinson e o Alzheimer podem também ser causas de insônia.

Insônia paradoxal Também chamada de hipocondria do sono, a insônia paradoxal é uma falsa sensação de insônia. O paciente acredita ser insone, mas quando estudado por polissonografia é possível descobrir que ele não só consegue dormir de forma relativamente rápida, como apresenta boas horas de sono de qualidade. Apesar disso, no dia seguinte, o paciente jura ter demorado a dormir e ter tido uma noite de pouco sono.

Desordens psiquiátricasA insônia crônica é muito comum em pacientes que sofrem de problemas psiquiátricos, principalmente depressão, distúrbio de ansiedade, abuso de substâncias ou estresse pós-traumático.

Insônia pós covid-19 — Com a pandemia em 2020, uma nova causa foi incluída. Cerca de 5% dos pacientes que tiveram a doença contam ter desenvolvido insônia crônica após a doença. Esse percentual sobe para 7,5% nos pacientes que precisaram ser internados em UTIs e para 10% nos pacientes que precisaram ser intubados e ventilados artificialmente.

Técnicas de relaxamento

A pessoa insone costuma apresentar diversos sinais e sintomas ao longo do dia, devido à falta do sono reparador. Entre os mais comuns estão: cansaço, sonolência, falta de concentração, alterações da memória, irritabilidade, ansiedade, dificuldade de executar tarefas, aumento de acidentes, dor de cabeça, sintomas gastrointestinais, problemas de relacionamento.

Inicialmente, o tratamento da insônia é feito com terapia comportamental, incluindo educação sobre higiene do sono e técnicas de relaxamento. Algumas dicas ajudam a melhorar a insônia: 

  • Conheça os hábitos de higiene do sono;

  • Não vá para cama sem estar com sono;

  • Use a cama apenas para dormir, portanto, evite comer, mexer no computador ou ver TV na cama;

  • Se após 20 minutos deitado, não conseguir dormir, levante-se e faça alguma atividade relaxante, como ler ou ouvir música suave;

  • Se não estiver com sono, evite ficar na claridade. O excesso de luz dificulta a chegada do sono;

  • Procure acordar todos os dias na mesma hora, mesmo nos fins de semana;

  • Ao acordar, se já tiver amanhecido, levante-se, mesmo que ainda esteja com sono, para facilitar o sono à noite;

  • Não tire cochilos à tarde;

  • Pratique atividades físicas ao longo do dia, mas evite esforços durante a noite;

  • Encontre formas de relaxar à noite: banho quente, massagens, leitura, meditação ou yoga ajudam. Alguns pacientes citam melhora com acupuntura;

  • Nada de relógios próximos para evitar ficar olhando a hora o tempo todo;

  • A ansiedade por não conseguir dormir torna o ato de dormir ainda mais difícil;

  • Não leve problemas não resolvidos ao longo do dia para a cama.

Algumas dessas técnicas precisam ser implementadas durante vários dias antes que o paciente comece a perceber alguma melhora.

(Fonte: mdsaude.com/psiquiatria/insonia/)

Publicidade
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Publicidade
Publicidade
Publicidade

Apoie o jornalismo de qualidade

Há 79 anos A VOZ DA SERRA se dedica a buscar e entregar a seus leitores informações atualizadas e confiáveis, ajudando a escrever, dia após dia, a história de Nova Friburgo e região. Por sua alta credibilidade, incansável modernização e independência editorial, A VOZ DA SERRA consagrou-se como incontestável fonte de consulta para historiadores e pesquisadores do cotidiano de nossa cidade, tornando-se referência de jornalismo no interior fluminense, um dos veículos mais respeitados da Região Serrana e líder de mercado.

Assinando A VOZ DA SERRA, você não apenas tem acesso a conteúdo de qualidade, mantendo-se bem informado através de nossas páginas, site e mídias sociais, como ajuda a construir e dar continuidade a essa história.

Assine A Voz da Serra

TAGS: