Impactos da alimentação no corpo humano

A importância da microbiota intestinal para o bom funcionamento do organismo
sexta-feira, 07 de julho de 2023
por Ana Borges (ana.borges@avozdaserra.com.br)
(Foto: Freepik)
(Foto: Freepik)

Pouco se sabe, embora muito se fale de microbiota, o nome científico adotado nos últimos anos pelos pesquisadores e especialistas, em substituição ao termo “flora intestinal”, sobre as bactérias presentes no intestino. O assunto trata da riqueza biológica, e qualquer pessoa que busca uma alimentação consciente e saudável a consideram indispensável para o bom funcionamento do organismo.

“A microbiota intestinal é o conjunto de microorganismos, como as bactérias, que habitam o trato intestinal do corpo humano e ajudam na digestão de alguns alimentos, na produção de vitaminas e no fortalecimento do sistema imunológico”. 

Essa “comunidade de microorganismos”, geralmente se encontram em tecidos saudáveis, sobretudo no cólon, mas também na pele e em outras mucosas. “A grande maioria das bactérias, mais de 90%, reside no cólon, e estima-se que sejam cerca de três milhões delas. Isso representa uma quantidade 10 vezes maior do que o número total de todas as células do nosso corpo”, diz o clínico geral Diego Wappner.

O professor de microbiologia da Universidade Nacional do Litoral, na Argentina, Gabriel Vinderola, explica que os microrganismos que colonizam o corpo estão presentes em todo o trato digestivo, no trato reprodutivo feminino e no sistema respiratório. Ou estamos cobertos por eles no nosso interior e exterior. São bactérias, leveduras, fungos, vírus, que são parentes distantes das bactérias.

Embora as bactérias estejam normalmente associadas a doenças, apenas 1% das que estão presentes no organismo as provocam, graças ao sistema de defesa, responsável por tornar a maioria delas inofensivas ou até mesmo benéficas.

“As bactérias que habitam o intestino produzem substâncias com efeito positivo no ser humano. Isso inclui a produção de vitaminas, bem como ações antinflamatórias e antioxidantes”, diz o médico.

Após anos de estudo, sabe- se que a função do sistema digestivo vai além do processamento dos alimentos, uma vez que a microbiota intestinal é fundamental para o funcionamento adequado dos mais variados órgãos, como pulmões, rins, fígado, coração e cérebro.

“Há uma conexão intestino-cérebro através do nervo vago, outra entre o intestino e a pele, e todas as questões intestinais podem repercutir na pele. Outra conexão é entre o intestino e o fígado. A microbiota, por meio da fermentação, produz mais de 400 mil moléculas que entram na corrente sanguínea e podem alcançar qualquer órgão”, aponta Vinderola.

Ligação emocional

A conexão do intestino com o cérebro através do nervo vago, o mais longo do corpo, faz com que esteja fortemente ligado às emoções. Esse nervo controla as funções e ações involuntárias do corpo e contrabalança o sistema simpático, que prepara o nosso corpo para a ação.

“Ele funciona como o interruptor de desligar. É o nervo que ajuda a mudar o modo corporal para descanso, relaxamento, recuperação, regulação da frequência cardíaca e respiração”, diz Kevin Tracey, neurocirurgião, espcecialista em nervo vago e presidente do Instituto Feinstein de Nova York.

É por isso que quando ficamos nervosos sentimos dor de estômago, acrescenta o gastro argentino Facundo Pereyra. O especialista estudou mais de 12 mil pacientes e desenvolveu um método para tratar problemas relacionados ao mau funcionamento do intestino.

“Um intestino inflamado filtra menos toxinas, o que gera inflamação no sistema imunológico. Nesse processo, ocorre uma alteração na permeabilidade do órgão, que, para se defender, começa a produzir substâncias inflamatórias que viajam até o cérebro, causando neuroinflamações que resultam em insônia, tristeza, ansiedade, confusão mental e enxaquecas”, destaca Tracey.

Isso acarreta sintomas como síndrome do intestino irritável, gastrite, refluxo e inchaço. Pode ainda causar dores de cabeça, formigamento, erupções cutâneas, inchaço nas mãos, pés e rosto, falta de energia, dores nas articulações e aftas.

Nesses casos, Tracey recomenda dar um descanso ao intestino por sete a dez dias, eliminando o glúten, o açúcar, os laticínios, as carnes vermelhas, o café, a ervamate e o álcool. Algumas pessoas podem precisar de probióticos, enzimas digestivas e ômega-3, e devem ser receitados por um profissional.

“O desequilíbrio da microbiota está relacionado à progressão de doenças através das conexões como os eixos intestino-pulmão e intestino-cérebro. Isso ocorre em casos de distúrbios metabólicos como diabetes, obesidade, vários tipos de câncer, distúrbios de pele como psoríase ou acne, ou mesmo doenças cardiorrespiratórias como asma ou insuficiência cardíaca, e doenças neurológicas como o Alzheimer”, acrescenta.

Enxaqueca

Ter enxaqueca é mais comum do que se pensa. Alguns a enfrentam ocasionalmente, e outros diariamente. Mas em qualquer caso, trata-se de uma condição que diminui a qualidade de vida e obriga aqueles que sofrem a interromper suas atividades diárias até conseguirem alívio.

Um relatório da Mayo Clinic, uma organização americana sem fins lucrativos especializada em cuidados médicos, pesquisa e educação para todas as pessoas, explica que, na maioria dos casos, a enxaqueca vem acompanhada de náuseas, vômitos e sensibilidade à luz e ao som.

E a magnitude dessa patologia é tanta que muitos têm dificuldade em colocar em palavras o que sentem naquele momento. O fato é que a dor pode ser tão intensa que, quando isso acontece, quem sofre é obrigado a cancelar planos, pausar o trabalho e abandonar tudo o que estava fazendo. Nessas situações, Andersson comenta que há uma urgente necessidade de se deitar em um lugar tranquilo, escuro e sem barulho.

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam que a enxaqueca costuma aparecer na adolescência e afeta principalmente pessoas entre 35 e 45 anos. Além disso, destacam que é duas vezes mais comum em mulheres do que em homens devido às mudanças hormonais.

Quanto à origem, Alejandro Andersson, diretor do Instituto de Neurologia de Buenos Aires, destaca que não tem nada a ver com uma contratura, como muitas vezes se pensa, e sim a dilatação das artérias em nossa cabeça. 

Nessa linha, a OMS informa que ela é causada pela ativação de um mecanismo cerebral que leva à liberação de substâncias inflamatórias que causam dor ao redor dos nervos e vasos sanguíneos da cabeça. Mas esse processo não é desencadeado do nada, nem é igual em todas as pessoas. Os especialistas consultados concordam que não há um único fator de risco universal, mas vários desencadeantes possíveis.

Segundo Andersson, a genética desempenha um papel fundamental. Portanto, se um parente sofre de enxaqueca, maior será a predisposição para tê-la: 80% dos pacientes têm antecedentes familiares desses quadros, diz ele.

A alimentação desempenha um papel fundamental: é essencial para o bom funcionamento do cérebro. Assim, Julio Bragagnolo, chefe de Nutrição e Diabetes do Hospital Ramos Mejía, em Buenos Aires, explica que não se pode culpar um alimento específico, mas sim uma série de produtos considerados prejudiciais para as células e tecidos. Segundo o especialista, essa lista é encabeçada pelos alimentos ultraprocessados e industrializados devido aos seus componentes químicos e aditivos.

Alimentos com altos níveis de açúcar e cafeína também são considerados fatores de risco, pois a abstinência deles pode causar fortes dores de cabeça devido à ansiedade gerada pelo desejo de consumi-los.

A Fundação Americana de Enxaqueca (American Migraine Foundation) revela um dado importante: esse tipo de alimentação costuma desencadear enxaquecas entre 12 e 24 horas após o consumo.

Fiscalização aponta várias irregularidades

No fim de maio, uma força-tarefa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), em São Paulo e Distrito Federal apreendeu quase 8 mil quilos de feijão, mais de 14 mil quilos de arroz e 9 mil litros de azeite fraudado na indústria embaladora. Também foram retidos mais de dois mil pacotes de 500g de café. As marcas dos produtos não foram divulgadas, pois o processo administrativo está em andamento.

Arroz, feijão, azeite e café são alimentos tão presentes no dia a dia dos brasileiros que praticamente ninguém imagina que possa ter algo de errado com eles. Mas, a recente operação contrariou o senso comum. O resultado da fiscalização aponta a necessidade de os compradores terem atenção redobrada em relação à qualidade dos alimentos vendidos no país. 

Esses foram apenas alguns exemplos das irregularidades encontradas pelo país. Somente o Instituto Municipal de Vigilância Sanitária, Vigilância de Zoonoses e Inspeção Agropecuária do Rio (Ivisa-Rio) já fez mais de 55 mil vistorias para verificar a qualidade dos alimentos vendidos aos cariocas. Em 2023, já foram feitas 17 mil blitzes.

As irregularidades são avaliadas com base critérios estabelecidos pela agência reguladora (Anvisa) e também pelo ministério. As regras estabelecem, por exemplo, limites máximos tolerados de contaminantes nos alimentos e os métodos de análise para fins de avaliação de conformidade.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), as doenças transmitidas por água ou alimentos contaminados são um dos principais problemas de saúde pública, com 600 milhões de casos registrados todos os anos no mundo. No Brasil, de 2007 a 2020, foram notificados 662 surtos de doenças alimentares por ano, em média. 

(Fontes: La Nación, Extra, O Globo, Portal Grupo Virta) 

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