Por que os homens morrem mais cedo do que as mulheres? Se observarmos as pessoas em uma casa de repouso ou em um grupo de amigos de idade avançada, é possível notar um desequilíbrio entre os gêneros: os homens são raros na faixa acima de 85 anos. Por isso dizem que eles morrem mais cedo do que as mulheres.
Pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) sobre a percepção do homem a respeito da sua saúde mostra que apenas 32% dos acima de 40 anos se consideram muito preocupados com a própria saúde e que 46% deles só vão ao médico quando sentem algo diferente, estranho, fisicamente.
Esse número aumenta para 58% se este homem utiliza apenas o SUS. Apesar do descaso, metade deles tem medo ou ansiedade quando pensa na saúde. Essa pesquisa, viabilizada pelo Laboratório Adium, foi realizada com homens acima de 40 anos representantes de todas as regiões do país, via aplicativo mobile pelo Instituto Ideia.
Já outro estudo, do Instituto Lado a Lado pela Vida, intitulado "A Saúde do Brasileiro", realizado em parceria com o QualiBest, em 2023, também mostra que 83% dos homens entrevistados entendem que precisam cuidar melhor da saúde. Ele aponta que mais da metade (51%) atribui a rotina estressante como o principal empecilho para cuidar melhor da saúde, enquanto 32% disseram que o acesso à saúde é o maior problema para seguir com os cuidados médicos.
Mas, 88% dos homens entrevistados vão ao médico ao menos uma vez ao ano. Quando questionados quem realiza o agendamento das consultas, 84% disseram que são eles mesmos, e apenas 10% afirmaram que são as esposas que marcam as visitas médicas.
Sedentarismo, um problema comum
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Entre os problemas de saúde mais apontados pelos homens na pesquisa da SBU estão o sedentarismo: 26%, seguido pela pressão alta, 24%, e a obesidade, 12%.
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Ressalte-se que 35% responderam não ter nenhum problema de saúde. Apenas entre os homens 60+ o sedentarismo teve menor índice de escolha, 18%. Nessa faixa etária o problema mais citado foi a pressão alta, 40%.
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A maior proporção dos homens que só vai ao médico ao sentir algo está no grupo entre 40/44 anos (49%). Já o que mostrou ter maior cuidado com a saúde é o grupo 60+, com 78% respondentes afirmando fazerem exames a cada seis meses ou um ano.
Nesta pesquisa, 42% dos entrevistados afirmaram que estão acima do peso saudável indicado pelo IMC. Desses, 31% têm sobrepeso de 6 a 10 kg, enquanto 25% deles estão com 15 kg a mais. Também mostrou que só 16% fazem ou fizeram algum tratamento de doenças do coração nos últimos cinco anos, 15% trataram a obesidade e 14% as doenças respiratórias. E ainda: apenas 3% fizeram algum tratamento contra o câncer.
Números do Censo IBGE
Os resultados do Censo Demográfico 2022 apontam que o Brasil tem 6,0 milhões de mulheres a mais do que homens. A população brasileira é composta por cerca de 104,5 milhões de mulheres e 98,5 milhões de homens, o que, respectivamente, corresponde a 51,5% e 48,5% da população residente no país.
A superioridade do número de mulheres ocorre em todas as grandes regiões. Em 2022, a região Norte apresentou, pela primeira vez, uma população masculina menor do que a feminina. A região Sudeste se manteve com a menor razão de sexo dentre as regiões do país desde o ano 2000.
No Brasil e em todas as grandes regiões, a proporção de homens era maior desde o nascimento até os 19 anos de idade. Isso ocorre nas primeiras idades devido ao maior nascimento de crianças do sexo masculino em relação ao feminino.
À medida em que a idade dos homens vai avançando, aumenta também a quantidade de mortes desse grupo por causas externas, sobretudo de jovens. Como consequência, a partir do grupo etário de 25 a 29 anos, a população feminina se torna maioria em todas as regiões do país. No Nordeste, por exemplo, esse fenômeno ocorre já no grupo de 20 a 24 anos de idade.
Óbitos é maior entre homens de 15 e 34 anos
Entre agosto de 2021 a julho de 2022, 12 meses antes da data de referência, o Censo foi informado de um total de 1.326.138 óbitos no país, sendo 722.225 óbitos (54,5%) para o sexo masculino e 603.913 (45,5%) para o feminino.
O cenário mais desigual se concentra no grupo etário dos 20 aos 24 anos, quando há uma diferença significativa na letalidade por sexo. Nesta fase, são 371 óbitos de homens a cada 100 mortes de mulheres, ou seja, uma sobremortalidade masculina de aproximadamente 3,7 vezes.
“Entre o grupo de 15 a 19 anos até o grupo de 30 a 34 anos o maior número de óbitos masculinos em relação aos femininos, está relacionado a uma quantidade maior de mortes por causas externas, ou violentas, que afetam menos as mulheres. Como exemplo, estão os acidentes de trânsito e homicídios”, explicou Izabel Marri, gerente de Estudos e Análises Demográficas do IBGE.
A sobremortalidade masculina só é revertida nos grupos de idade mais avançados, a partir dos 80 anos, onde a participação de óbitos femininos supera os masculinos.
"Esse comportamento ocorre devido à maior mortalidade dos homens em todos os grupos etários, logo, em uma certa idade o número de mulheres sobreviventes é maior que o de homens e com isso também será o maior número de óbitos femininos em relação aos masculinos”, esclarece Izabel.
Em 2022, a população de 0 a 4 anos de idade representava 6,3% do total da população e 2,6% do total de óbitos. Já as pessoas de 80 anos ou mais eram 2,3% da população e os óbitos a partir dessa idade representavam 31,2% dos óbitos totais do país.
O comportamento da distribuição de óbitos por sexo e grupos de idade, apresenta um volume de óbitos decrescente a partir do grupo de crianças menores de 1 ano até o grupo de 10 a 14 anos de idade, em função do maior risco de morte das crianças no primeiro ano de vida. A partir deste último grupo de idade, o número de óbitos inicia uma trajetória crescente até o grupo de 70 a 74 anos para os homens e de 80 a 84 anos para as mulheres, para então começar a declinar.
Na Europa e nos Estados Unidos
Em 2022 na Alemanha, por exemplo, os homens tinham expectativa de vida de 78 anos, enquanto as mulheres, de 82,8 anos. Já nos EUA, a expectativa média para as mulheres era de 79 anos em 2021, enquanto para os homens era de pouco mais de 73 anos — a diferença de 5,8 anos é a maior registrada desde 1996.
Em um estudo recente, pesquisadores norte-americanos atribuíram essa diferença a vários fatores externos, sendo o maior deles a pandemia de covid-19. Na pesquisa, publicada no jornal Jama Internal Medicine da Associação Médica Americana, em novembro de 2023, os autores dizem que a pandemia afetou de maneira desproporcional os homens nos EUA e contribuiu para diminuir sua expectativa média de vida.
Trabalhos de risco e doenças cardíacas também são motivos para mortes prematuras entre os homens. Mas há ainda outras causas que geram a diferença de expectativa de vida entre os gêneros.
“Enquanto os índices de mortes por overdose de drogas e homicídios aumentou para homens e mulheres, é incrível que os homens ainda formem uma fatia cada vez mais desproporcional dessas mortes”, diz Brandon Yan, pesquisador que liderou o estudo.
O reumatologista Robert H. Shmerling, editor acadêmico da Harvard Health Publishing, menciona que os homens, de modo geral, estão mais propensos a evitar os check-ups de saúde, além de trabalharem em número muito maior nos empregos de risco, como bombeiros e combatentes militares.
Shmerling também destaca o fato de os homens cometerem suicídio com mais frequência do que as mulheres. Uma razão potencial disso pode ser o estigma que ainda perdura no campo da saúde mental em muitas culturas, especialmente em relação aos homens.
Outro fator fundamental, segundo os médicos, são as doenças cardíacas. Nos EUA, os homens têm 50% mais chances de morrerem de problemas do coração do que as mulheres. Por fim, outra justificativa foi o que os médicos americanos chamam de "mortes por desespero", como as vidas encurtadas por suicídios, vícios ou crimes violentos.
(Fontes: IBGE e uol.com.br)
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