“Gengi, sob as cerejeiras florescendo”

A história do primeiro romance literário do mundo
sábado, 18 de junho de 2022
por Jornal A Voz da Serra
“Gengi, sob as cerejeiras florescendo”

O termo Hanami foi usado pela primeira vez numa obra do Período Heian: “Genji Monogatari — Sob as cerejeiras florescendo".

Genji Monogatari, em português “O Conto de Genji”, é um clássico da literatura japonesa, cuja autoria é atribuída à fidalga Murasaki Shikibu, escrito no começo do século XI. É considerado o primeiro romance literário do mundo.

Murasaki Shikibu, filha de um poeta que exerceu vários cargos no governo, tornou-se dama de companhia de uma das favoritas do imperador Itijô. Nos oito anos em que viveu no palácio imperial, aproveitou para captar o máximo de conhecimentos para criar a obra que retrata os dramas vividos por homens e mulheres da época. 

Amor, traição, ambição, angústia e tristeza, enfim, todas as paixões da vida humana são apresentadas com clareza em 54 capítulos. Curiosamente, numa época em que escrever ou fazer poemas era privilégio de homens, esse livro foi escrito por uma mulher.

“Genji Monogatari” não é um romance sobre disputa de poderes. É uma obra sobre o amor e o sofrimento causado por ele, no cenário de luxo da corte e dos costumes da época. Trata-se de um documento precioso, considerado um tesouro da história do Japão, concebida e contada por Murasaki Shikibu.

Breve resumo de  “O Conto de Gengi”

No século 11, a cultura japonesa de modo geral floresceu e se desenvolveu de forma notável. Não havia guerra nem cataclismos, nem grandes mudanças políticas. O povo vivia em paz. No palácio imperial promoviam-se festas, concursos e competições, os quais propiciavam o surgimento de romances entre os privilegiados membros da corte. 

O personagem principal, Hikaru Genji — hikaru significa brilhar — era o que se poderia dizer de um príncipe brilhante, que se destacava em todos os sentidos, tanto pela beleza física como pela educação cultural.

Era um dos filhos do imperador, mas, por tristes razões, não foi seu sucessor. Ainda jovem se apaixonou por uma das favoritas do pai, Fujitsubo, o grande e impossível amor de sua vida. Ao longo de sua vida, amou diversas mulheres, sem jamais esquecer o primeiro amor. Possuía todas as condições para ser o imperador, mas foi impedido, e esses dois motivos o perseguiram toda a vida, causando-lhe um permanente conflito interno.

A história começa com Kiritsubo, mãe de Hikaru Genji, que recebia atenção especial do imperador por sua beleza incomum. Por outro lado, ela sofria com a inveja das outras mulheres. Faleceu prematuramente, deixando o filho ainda na infância. Mas a imagem dessa mãe de fina educação, que tanto causava inveja e ciúme no palácio, ficou guardada na mente de Hikaru. 

Por sua vez, Fujitsubo também possuía fina educação e tinha feições parecidas com a da falecida mãe de Hikaru. Aos 12 anos, segundo o costume da época, adotou o penteado dos adultos, e na mesma noite contraiu matrimônio com a filha de um poderoso fidalgo, a quem o imperador havia prometido seu filho.

O jovem foi morar na casa da noiva, como era praxe, mas, como não se interessava pela esposa, saía à procura de aventuras amorosas, com mulheres de todas as classes sociais, algumas belas, algumas cultas e outras nem belas nem cultas.

Um dia, um sábio olhou para Hikaru Genji e lhe disse que possuía tudo para ser imperador, mas que não seria. Em contrapartida, adiantou que “um filho subirá ao trono, outro será um ‘Dajôdaijin’ (ocupante de um cargo supremo) e a única filha, imperatriz”. 

Tudo aconteceu exatamente segundo a profecia. Primeiramente, Hikaru ousou conquistar Fujitsubo, a eleita do pai imperador, a qual concebeu um menino que reconheceram como se fosse filho do imperador. Embora suas feições se assemelhassem evidentemente com as de Hikaru, o imperador o adorava sem desconfiar da verdade.

Fujitsubo, com vergonha e remorso, não suportou a situação. Pediu a Hikaru que cuidasse do menino e decidiu se isolar do mundo, enclausurando-se num monastério. 

Pela primeira vez Hikaru sentiu a felicidade de ser pai, mas dadas as circunstâncias, esteve impedido de senti-la na sua plenitude porque não podia tratá-lo como filho. Aquela criança tão linda quanto o pai, mais tarde assumiu o trono como imperador.

 

(Fonte: Francisco Handa, doutor em história pela Unesp, pesquisador da cultura tradicional japonesa e monge da Escola Soto Zenshu)

 

 

Publicidade
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Publicidade
Publicidade
Publicidade

Apoie o jornalismo de qualidade

Há 79 anos A VOZ DA SERRA se dedica a buscar e entregar a seus leitores informações atualizadas e confiáveis, ajudando a escrever, dia após dia, a história de Nova Friburgo e região. Por sua alta credibilidade, incansável modernização e independência editorial, A VOZ DA SERRA consagrou-se como incontestável fonte de consulta para historiadores e pesquisadores do cotidiano de nossa cidade, tornando-se referência de jornalismo no interior fluminense, um dos veículos mais respeitados da Região Serrana e líder de mercado.

Assinando A VOZ DA SERRA, você não apenas tem acesso a conteúdo de qualidade, mantendo-se bem informado através de nossas páginas, site e mídias sociais, como ajuda a construir e dar continuidade a essa história.

Assine A Voz da Serra

TAGS: