Como não é segredo para ninguém, a pandemia de Covid-19 afetou (e ainda afeta) o mundo todo, causando milhões de mortes e enormes prejuízos financeiros, seja pelo gasto para combater a doença, ou devido a intensa crise financeira ocasionada pelas medidas de isolamento social e de restrição do funcionamento de diversos setores da economia. No entanto, a forma como os países e seus povos encaram a pandemia, tem mostrado resultados bastante diferentes ao redor do planeta.
A VOZ DA SERRA entrevistou o friburguense Bernardo Nunes, de 33 anos, que vive desde junho de 2016 na cidade de Brisbane, no estado de Queensland, na Austrália, país situado na Oceania, literalmente do outro lado do mundo, num fuso-horário de exatamente 12 horas à frente do horário de Brasília. Nascido e criado em Olaria, bairro mais populoso de Nova Friburgo, ele conta que uma das maiores diferenças percebidas por ele entre as culturas do Brasil e da Austrália é o respeito com que o povo australiano lida com as regras e normas impostas pelo governo, seja durante a pandemia ou mesmo antes dela chegar.
Só para ter uma ideia, até a tarde desta sexta-feira, 29, já haviam sido contabilizados pouco mais de 101 milhões de casos confirmados de coronavírus em todo o planeta, além de 2.191.489 mortes em decorrência da doença. Por outro lado, cerca de 56 milhões de pessoas se recuperaram da Covid-19. Deste total, há aproximadamente nove milhões de casos confirmados no Brasil – cuja população estimada é de 209 milhões de habitantes – e 221.547 mortes, além de quase oito milhões de pacientes recuperados. A nível estadual, são 512 mil casos e quase 30 mil mortes em território fluminense. Em Nova Friburgo, de acordo com o boletim divulgado pela prefeitura na última quinta-feira, 28, são 9.144 casos confirmados e 267 óbitos. Pouco mais de quatro mil pessoas já se recuperaram da doença.
Já na Austrália, país que tem quase 25 milhões de habitantes (um pouco mais que o Estado do Rio de Janeiro, que reúne cerca de 16 milhões de habitantes), até a tarde desta sexta-feira, 29, haviam sido contabilizados 28.800 casos confirmados de Covid-19 e 909 óbitos em decorrência da doença, número proporcionalmente bem menor que os registrados em outros países, como o próprio Brasil, Estados Unidos, Itália, entre outros. A Austrália registra ainda 25.486 pacientes recuperados da doença. No estado de Queensland a pandemia também não avançou com tanta força. Os dados mais atualizados apontam 1.308 casos e apenas seis óbitos, com 1.286 pessoas recuperadas do coronavírus. Os dados da cidade de Brisbane, onde reside o friburguense Bernardo Nunes, sequer são divulgados separadamente.
A diferença de culturas
“Na minha opinião a Austrália lidou muito bem com a pandemia. O primeiro caso confirmado ocorreu em Melbourne, em 25 de janeiro do ano passado. Poucos dias depois, no início de fevereiro foi proibida a entrada de turistas italianos, já que a Itália foi o primeiro país do mundo a perder o controle da doença. Quanto mais casos iam surgindo, medidas mais rígidas foram adotadas pelo governo australiano”, afirmou Bernardo, que completou: “No dia 23 de março de 2020, Brisbane entrou em lockdown e as entradas da cidade foram todas fechadas. Foi aí que eu vi a grande diferença entre um país onde a educação, o bom senso e o respeito prevalecem. Ruas que em dias normais eram tomadas por carros e pessoas, durante o lockdown viraram ruas fantasmas. Também não se via ninguém sem máscara. E quem não usasse era multado em cerca de 200 dólares. Agora o uso de máscaras não é mais obrigatório, mas algumas pessoas ainda utilizam. Apenas as fronteiras continuam fechadas para a entrada de estrangeiros. É bonito ver como a população australiana se uniu no enfrentamento à essa doença”, contou.
Austrália não escapou da crise
Apesar de não ter apresentado muitos casos confirmados e mortes por Covid-19, a Austrália também não passou ilesa pela pandemia e teve que investir pesado para minimizar a crise. O governo australiano anunciou um pacote de US$ 2,4 bilhões de dólares para prevenção e tratamento de pacientes acometidos pela doença, verba que foi investida em cuidados básicos de saúde, além de pesquisas, construção e ampliação de hospitais, entre outras medidas. Além disso, o governo também liberou uma verba de US$ 800 mensais para quem se enquadra nos pré-requisitos, a maioria idosos e aposentados.
“Com isso, diversos brasileiros foram ‘obrigados’ a retornar para o Brasil. Com todo o comércio fechado por 40 dias, muitos acabaram perdendo seus empregos. Como também não tinham acesso ao auxílio do governo australiano, não tiveram escolha a não ser voltar para o Brasil, já que as contas de aluguel aqui são semanais. Isso fez com que os sonhos de muita gente que batalhou para vir pra cá fossem interrompidos”, lamentou Bernardo Nunes.
O trabalho do friburguense na Austrália foi o que acabou o ‘salvando’ de também ter que interromper seu sonho e retornar ao Brasil: “Nesses 40 dias de lockdown eu vi de perto a nova rotina da cidade de Brisbane. Como eu trabalho para a United Parcel Service (UPS), uma das maiores empresas de logística do mundo, a continuidade do trabalho foi tratada como essencial, já que diariamente são distribuídas mais de 14 milhões de encomendas para mais de 200 países. Considero que tive muita sorte por não perder meu emprego, já que ainda não pretendo retornar ao Brasil”, disse, aliviado.
“Cheguei à Austrália no dia 6 de junho de 2016. Costumo dizer que saí de Olaria para o mundo. Vim para ficar apenas seis meses e aprender um pouco de inglês. Cheguei aqui sem falar nada do idioma, mas hoje, após quatro anos e meio no país, aprendi o inglês no dia a dia, na marra mesmo. E cada vez que você eleva seu nível de inglês, mais portas e oportunidades acabam surgindo também. Não posso dizer que ficarei aqui para sempre, pois a saudade bate forte. Mas, ao mesmo tempo, tenho uma qualidade de vida superior à que tinha no Brasil, então essa ‘balança’ é complicada de se lidar, há muitos sonhos e sentimentos envolvidos”, finalizou o friburguense Bernardo Nunes.
Vacinação
Enquanto no Brasil a imunização contra a Covid-19 começou no dia 17 de janeiro em São Paulo e, dois dias depois, no restante do país, na Austrália o processo ainda não teve início. No entanto, a expectativa é de que nas próximas semanas profissionais da saúde, ou que atuam em hospitais ou unidades de saúde, trabalhadores de fronteira (aeroportos e portos), cuidadores de idosos em residência e pessoas com deficiência recebam as doses da vacina fabricada pela Pfizer. Já no final de fevereiro, quando outras vacinas já estiverem disponíveis e forem de mais fácil armazenamento do que a produzida pela Pfizer, toda a população com mais de 16 anos de idade poderá ser imunizada gratuitamente.
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