Friburgo volta a ter um leão de ferro na prefeitura, ao alcance de crianças e turistas

Já estátuas importadas da França, de valor inestimável, continuarão no alto da Fundação D. João VI, a salvo de vandalismo
terça-feira, 15 de março de 2022
por Adriana Oliveira (aoliveira@avozdaserra.com.br)
O novo leão que ficará em frente à prefeitura (Fotos de divulgação, de arquivo AVS, de Osmar Castro e reproduções da web)
O novo leão que ficará em frente à prefeitura (Fotos de divulgação, de arquivo AVS, de Osmar Castro e reproduções da web)

Era uma vez quatro leões que não rugiam, não faziam mal a ninguém - só a alegria da criançada - e, mesmo assim, acabaram vandalizados, tendo patas, caudas e dentes quebrados. Para serem protegidos da fúria de seus predadores humanos, os bichos de ferro fundido, de valor inestimável,  foram colocados no alto de pilastras, longe do alcance de todos.

Essa pequena fábula resume a história das quatro estátuas de leões, importadas  da França pelo Barão de Nova Friburgo e que fazem parte, para sempre, do tombamento do prédio da Fundação Dom João VI, na Praça Getúlio Vargas. Um final feliz que fica mais interessante ainda devido a uma novidade: o governo Johnny Maycon decidiu instalar um quinto leão, sem valor histórico, em frente à prefeitura, para as crianças brincarem e turistas tirarem fotos. A inauguração será nos próximos dias.

A base, de granito, foi construída por uma importante empresa, líder de mercado na cidade. A novidade foi descoberta pelo jornalista Girlan Guilland. 

Segundo explicou a prefeitura, o governo municipal e a Fundação Dom João VI estão instalando uma nova escultura de leão na entrada do Salão Azul, na sede do Executivo, onde ficavam as duas figuras que hoje estão expostas nas laterais do  Solar do Barão, na Praça Getúlio Vargas, onde funciona a fundação. A iniciativa foi viabilizada por meio de parceria com a iniciativa privada, a pedido do prefeito Johnny Maycon e do vice-prefeito Serginho.

A peça nova também é confeccionada em ferro fundido. Ela foi adquirida no Rio de Janeiro, especialmente para esta finalidade. A Fundação Dom João VI e a sua Sociedade de Amigos promoveram as obras de instalação, que incluem a construção de um pedestal de base e pintura, tudo acompanhado por uma arquiteta.

A história dos leões

Os leões que hoje decoram as laterais do Solar do Barão  são  quatro dos seis únicos exemplares dessas estátuas existentes no Brasil. Os outros  dois, com detalhes um pouco diferentes, estão na Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro.

Todas as peças foram fabricadas por volta de 1840 pela fundição Ducel et Fils, na França, e adquiridas pelo barão em uma de suas viagens a Paris. A Ducel, foi uma das maiores fundições de arte na França, desde 1829 até a terceira geração da família, em 1877. 

Originalmente, os quatro leões foram colocados na frente da residência do barão, dois de cada lado, compondo a fachada neoclássica do solar. Na década de 1920, a prefeitura comprou o prédio, doando o terreno ao lado para a construção da primeira agência dos Correios da cidade.  Quando isso aconteceu, o portão ali existente foi demolido e os leões, retirados. Dois foram para a lateral do casarão, ao lado da antiga Câmara e Biblioteca Municipal, junto à Academia Friburguense de Letras (AFL), onde estão até hoje.

Os outros dois ficaram guardados até os anos 40, quando a prefeitura comprou a casa do Barão de Duas Barras, onde funcionou a antiga Faculdade de Odontologia (Fonf), atual UFF, instalando as peças na base da escadaria interna.  As peças depois passaram uma temporada na entrada do antigo Hospital Regional (hoje Hospital Raul Sertã) e, ainda, na fazenda de um prefeito. 

Devolvidos ao poder público, os bichos de bronze ficaram abandonados em um depósito, cobertos de poeira, até serem descobertos por um secretário, que deu ordens para que fossem colocados em frente ao Salão Azul, na sede da prefeitura. 

Tempos depois, os leões se mudaram de novo, indo para a entrada do Centro de Arte. Durante esse traslado, feito sem o devido cuidado, uma das peças ficou rachada e a outra teve uma das pernas fraturada. 

Os leões que ficaram na  prefeitura também acabaram sendo detonados. Um deles teve a pata quebrada por uma barra de ferro, assim como a cauda. também perderam  os dentes, além de serem furados e pichados.

Em 2013 os leões finalmente foram restaurados, graças ao trabalho de Valdinei Correia da Silva, que não cobrou pelo serviço, e ao investimento de três empresários friburguenses. Assim, foram recolocados, dois de cada lado do Solar do Barão, seu lugar de origem, contribuindo para a reconstituição da fachada do prédio e a proteção das obras de arte.

A retirada dos leões da prefeitura e do Centro de Arte para serem colocados nas alturas revoltou muitos friburguenses, apegados à tradição de tirar fotos de filhos e netos junto dos felinos.

Três anos depois, apesar de estarem a cinco metros do chão, distantes do alcance da população, as peças estavam sofrendo com a falta de conservação,  visivelmente corroídas pela ferrugem. Na época a  Fundação Dom João VI prometeu fazer limpeza e manutenção nas peças.

"Quando os leões pertencentes ao Solar do Barão que estavam na prefeitura retornaram ao seu local original, em 2013, houve uma grande comoção na cidade entre aquelas pessoas que mantinham uma relação afetiva e fotografavam com as esculturas. Com a inauguração da nova imagem, a população terá novamente acesso para criar novas memórias", informou a prefeitura em nota. 

De acordo com o presidente da Fundação, Luiz Fernando Folly, a fachada do imóvel, incluindo os leões, passará por manutenção ainda neste primeiro semestre de 2022.

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