O último domingo do ano, 27, amanheceu cinzento em Nova Friburgo, mas ganhou contornos ainda mais tristes e sombrios em São Pedro da Serra, onde uma família de labradores foi abandonada na rua durante a madrugada. Pai, mãe e filhotinha foram deixados em frente à padaria do Largo da Estrela, sem água nem comida.
A região é próxima da Estrada Serramar, um dos trajetos preferidos dos friburguenses em direção às praias, numa cena lamentável que se repete todos os anos nesta época de início de férias. Abandonar ou maltratar animais é crime previsto pela Lei Federal nº 9.605/98. Uma nova legislação, a Lei Federal nº 14.064/20, sancionada em setembro, aumentou a pena de detenção, que era de até um ano, para até cinco anos para quem cometer esse crime. Além disso, o rito processual passa à vara criminal, e não mais ao juizado especial.
A filhote de cerca de 4 meses foi rapidamente adotada. Mas os pais continuam na rua, famintos. Protetores de animais dos distritos de Lumiar e São Pedro buscam agora um lar temporário para acolhê-los, além de uma adoção responsável definitiva.
Os cães são dóceis, carinhosos, alegres e saudáveis. Mas já começam a apresentar as primeiras feridas do abandono, segundo Jemari Tose, voluntária do grupo Ajuda Animal de São Pedro da Serra (ENTRE NA PÁGINA DELES E FAÇA CONTATO CLICANDO AQUI).
Segundo Jemari, todas as casas dos protetores da região já estão ocupadas como lares temporários. Segundo ela, muito provavelmente os donos dos animais não são da região. Ela lembra que, durante o lar temporário, o grupo de protetores ajudam o adotante provisório a arcar com despesas como remédios, vacinas e cirurgia de esterilização (castração).
Mais de 30 milhões no Brasil
Segundo dados da Agência Brasil, embora não haja estatísticas oficiais, uma estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que há mais de 30 milhões de cães e gatos em situação de abandono no Brasil.
A maioria dos animais abandonados não é resgatada e sofre com fome, doenças, exposição ao tempo, riscos de atropelamento e traumas. Além disso, animais abandonados nas ruas causam acidentes de trânsito, prejudicam o turismo e afetam a saúde pública.
Veterinários observam que a pandemia de coronavírus agravou o problema do abandono. Muitos casos têm acontecido por questões financeiras, já que as pessoas estão ficando sem recursos para cuidar de seus animais domésticos.
Animais nas ruas, sem os devidos cuidados de saúde e higiene, também podem desenvolver zoonoses, doenças infecciosas transmitidas de animais para seres humanos e vice-versa. Uma grande quantidade de animais nas rua pode aumentar a incidência de doenças que são transmitidas por vetores, como leishmaniose e doenças fúngicas.
Cuidadores de animais lembram que é preciso manter a guarda responsável, castrar os animais, mantê-los dentro de casa e jamais abandonar. Se o animal tiver qualquer problema de comportamento ou saúde, que procure ajuda, mas nunca abandone, porque o abandono causa um extremo sofrimento ao animal. Os animais, principalmente os cães, têm uma cognição de uma criança de 3 anos.
Quem testemunhar abandono ou maus-tratos, que também é crime, deve reunir todas as provas possíveis (como fotos, vídeos, imagens de circuitos de condomínios, áudios) e registrar boletim de ocorrência em uma delegacia de polícia.
Responsabilidade ao adotar
Os especialistas recomendam uma reflexão antes de adotar ou comprar um animal doméstico. É importante fazer os seguintes questionamentos:
- Todos na família estão de acordo com a presença do animal?
- O animal terá onde ou com quem ficar quando o tutor for viajar?
- O animal terá um espaço adequado para dormir e brincar?
- O tutor terá tempo para fazer passeios e dar a atenção diária que o animal requer?
- Haverá condições de levar o animal regularmente ao médico-veterinário?
Lei não é cumprida e todo ano é a mesma coisa
De acordo com Juliana da Matta (foto), presidente da Ong Combina — Companhia dos Bichos e da Natureza, muitos tutores abandonam seus animais para ir às festas de final de ano, porque querem viajar, entre outras razões. Querem passear, daí soltam os bichinhos para dar uma "voltinha”, e não querem se preocupar.
Mas a questão que fica é: por que não pensou nisso antes de adotar/comprar um animal (amigo) de estimação? Enquanto não houver leis severas nada irá acontecer. Juliana espera que no próximo governo haja mudanças nas leis, mas que principalmente, sejam respeitadas e cumpridas. “Enquanto não existir uma legislação que cobre multa dos tutores dos animais, essas pessoas vão continuar com esse comportamento, certos de que nada irá acontecer com eles. E que seus cães/gatos serão resgatados, ‘livrando-os’ das responsabilidades e ‘transferindo’ o que lhe deveria caber, aos que os resgataram”.
Ela lembra que o abandono ocorre durante o ano todo, não apenas em fins de ano. Só que devido aos fogos que ainda insistem em soltar, muitos cães e gatos fogem desesperados, sem rumo, devido ao medo e pânico do barulho dos fogos de artifício, sendo que muitos até chegam a óbito devido ao tamanho desespero que tal prática causa.
Inclusive a Lei Municipal 4.561/2017, aprovada na Câmara, proibe a utilização de qualquer tipo de fogos de artifício que produzam poluição sonora, como estampido e estouros, em áreas públicas ou privadas, abertas ou fechadas, na cidade. Mas, infelizmente os vereadores criam às leis mas o poder de fazer valer cabe à Prefeitura.
Sem fiscalização severa por parte dos órgãos competentes fica impossível se ter tal controle, por isso ocorrem as fugas dos animais de estimação. Além de ser prejudicial também para pessoas idosas e acamadas que sofrem com o barulho insuportável.
E reitera: “Enquanto não existir uma legislação que cobre multa dos tutores, essa situação vai persistir. Mas à questão que fica é: por que não pensou nisso antes de adotar/comprar um animal de estimação? Enquanto não houver leis severas, nada irá acontecer. Infelizmene”, lamentou Juliana.
Dicas para proteger seu cão do barulho dos fogos
- Prepare um cantinho para seu cão se esconder. Coloque ração, água e uma caminha. Deve ser um lugar que você possa fechar para evitar que o animal saia correndo pela casa.
- Ligue a televisão ou o ventilador. O som desses equipamentos ajuda a abafar o barulho dos fogos lá fora. Você também pode colocar algodão no ouvido do animal.
- Fique perto do seu cachorro/evite deixá-lo sozinho. A sua presença pode distrair e acalmar o seu cachorro.
- Mantenha o portão de casa fechado para evitar que ele fuja.
- Consulte um veterinário caso o seu cão sinta medo exagerado de fogos a ponto de até passar mal. Em casos extremos, o profissional pode prescrever um tranquilizante para que o cachorro mantenha a calma. (Fonte: Blog Animal)
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