Na última sexta-feira, 8, o prefeito Johnny Maycon se reuniu com a equipe da Secretaria Municipal de Educação para receber representantes de 33 instituições de ensino e participantes do movimento “Volta às Aulas”. Eles mostraram dados da Sociedade Brasileira de Pediatria que sustentam ser possível o retorno às atividades escolares de forma segura.
Os representantes do movimento argumentaram que o dano causado pela continuidade do fechamento das escolas é bastante prejudicial à saúde mental, física, cognitiva e social e que uma possível abertura não traria grandes consequências de transmissão, “de acordo com alguns estudos realizados por países como França e Irlanda”.
“Nosso objetivo foi apresentar subsídios técnicos para um retorno seguro idealizado através de pais da área de saúde voluntários e também uma busca de uma resposta plausível junto ao poder público que contemple de forma justa tanto a rede privada quanto a municipal, atendendo aos anseios dos pais, alunos e professores”, disse uma representante.
Ao fim da reunião, o prefeito Johnny Maycon pediu um prazo para que, diante do que foi apresentado, possa ser estudado e revisto pelos órgãos competentes. Segundo informou o movimento, a resposta deve ser dada nesta sexta-feira, 15.
Como ficam as instituições públicas, professores e demais funcionários?
A reportagem questionou ao movimento e à prefeitura sobre as garantias aos demais profissionais de educação quanto ao possível retorno, principalmente quanto aos que trabalham em instituições públicas. Segundo a prefeitura, a rede municipal possui muitos colaboradores com comorbidades que não poderiam voltar ao trabalho presencial neste momento. “Os funcionários também precisam ser resguardados. O plano de retomada prevê que seja feito um levantamento de quadro de profissionais aptos (sem comorbidade) à volta presencial. Em caso de retomada (conforme o Plano), todas as escolas, tanto da rede privada ou pública, precisarão seguir protocolos para a proteção de todos”, explicou o município.
Ainda sobre o tema, a prefeitura informou que desde o ano passado várias entidades estão reunidas pensando a retomada a partir de um plano que inclui vários protocolos (epidemiológicos, sanitários, psicológicos). O plano prevê parâmetros para o retorno em fases – incluindo bandeiramentos. O grupo de trabalho do Plano de Retomada se baseou em contribuições técnicas da Fiocruz e da Anvisa. O Plano estabelece parâmetros epidemiológicos e sanitários balizadores para uma retomada gradual e segura, tanto para o setor público, quanto para o setor privado, além das medidas que já vêm sendo adotadas pelo governo municipal e as demais instituições.
Outro ponto questionado ao movimento Volta às Aulas e ao município é a oxigenação do movimento do transporte público – já alvo de críticas quanto à aglomeração – com milhares de estudantes e funcionários utilizando os coletivos com frequência. Novamente, apenas a prefeitura respondeu: “Estamos reavaliando, por exemplo, a logística do transporte escolar contratado para alunos que dependem desse serviço. Aguardamos o encerramento das matrículas da rede municipal, para estudar novas rotas e necessidades dos nossos estudantes. Segundo a empresa de ônibus Faol, cerca de dez mil alunos – fora profissionais – circulam em transportes coletivos em período letivo (presencial)”.
O prefeito considerou legítimo o pleito das escolas particulares e do movimento de pais, mas deixou claro que depende desta série de análises para propor um plano responsável. Johnny Maycon também reforçou que a ampliação dos leitos de CTI, algo pelo qual está trabalhando, significaria muito para se pensar em uma retomada responsável, gradual e segura. “Sem dúvidas será um desafio maior manter os protocolos entre as menores faixas etárias. O plano de retomada prevê capacitação para o cumprimento de questões sanitárias, psicológicas, epidemiológicas para todas as faixas etárias”.
Defensoria teme pelo agravamento da desigualdade social
A defensora pública Larissa Davidovich, presente na reunião, fez um apelo contundente para que o governo e o setor privado não promovam mais desigualdade econômica, que foi intensificada pela pandemia, e que a rede pública e privada possam retomar as aulas em conjunto. “Temos feito uma série de recomendações e expedições de ofícios questionando a prefeitural sobre as providências necessárias para o retorno das aulas presenciais, sugerindo, inclusive como principal balizador para essa tomada de decisão, o documento expedido pela Fiocruz que trata do tema”, disse a defensora.
A Defensoria alerta para que uma possível retomada das atividades escolares possa agravar “o enorme abismo social já existente e, ainda mais evidenciado pela pandemia, quando falamos das crianças e adolescentes das escolas particulares em relação às crianças e adolescentes da rede pública”. “Mais do que nunca acreditamos que precisamos jogar os holofotes sobre a questão do abismo social já existente, da enorme desigualdade e das diferentes oportunidades entre crianças de diferentes classes sociais, lutando para que a educação seja efetivamente um direito de todos”, enfatizou a Larissa.
Sindicatos são contra o retorno das aulas antes de vacinação em massa
Em nota divulgada nesta terça-feira, 12, o Sindicato dos Professores (Sinpro) e o Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe) mostraram preocupação com um possível retorno das aulas presenciais. No comunicado, os sindicatos fizeram duras críticas ao comportamento dispensado aos professores. Confira parte do comunicado:
“Parece-nos evidente que o único caminho realmente seguro é o de se manter os cuidados sanitários até aqui vigentes, com escolas fechadas. E justamente por isso, lançamos esforços para pressionar o Governo Federal a oferecer vacinação ampla, geral e gratuita. O Sepe e o Sinpro repudiam veementemente os covardes ataques que sofremos nos últimos dias nas redes sociais. Curioso ver que tais ofensivas normalmente vem acompanhados de uma aparente preocupação pedagógica/educacional, ainda que por parte de figuras que nunca pisaram numa escola pública, não conhecem a realidade das inúmeras escolas particulares do município”
Para a professora de Ciências da Natureza, Márcia Gianfaldoni, não há como garantir a segurança de todos em um eventual retorno das aulas presenciais. “Sem vacina, será muito difícil garantir segurança. E mesmo com ela haverá um período de resguardo, pois é necessária a observação do efeito na população. A pressão vem das escolas particulares. Tenho visto pessoas na rua usando as máscaras de forma errada, imagine dentro das escolas com as crianças e adolescentes. Será um caos. Não faremos outra coisa se não corrigir o uso das mesmas”, alertou Márcia.
Também estiveram presentes na reunião a subsecretária de Vigilância em Saúde, Fabíola Braz Penna, o gerente de Saúde Mental, Felipe Shenquel, e a coordenadora jurídica da área de educação, Sabrina Freitas e, de forma remota, as promotoras do Ministério Público, Denise Motta e Claudia Condack, o diretor do Colégio Miosótis, Ricardo Lengruber, além dos diretores do Sindicato das Escolas Particulares e de representantes de escolas privadas da cidade.
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