De Lincoln Vargas, ator friburguense e professor do Tablado, para Maria Clara Machado

Lincoln Vargas é o idealizador do Festival de Esquetes, projeto que nasceu há mais de 20 anos no Tablado e que em 2021 chega a sua 4ª edição em Nova Friburgo
sábado, 10 de abril de 2021
por Ana Borges (ana.borges@avozdaserra.com.br)
Acima, Lincoln e Maria Clara, em 1998 (Fotos: Acervo Pessoal)
Acima, Lincoln e Maria Clara, em 1998 (Fotos: Acervo Pessoal)

“Fiz a última peça que Maria Clara dirigiu, e a minha primeira, em 1998 — O Gato de Botas, com assistência de direção da Cacá Mourthé, quando era aluno. Nesse mesmo ano, eu e um amigo, o José Alex Oliva, apresentamos uma ideia e, para nossa surpresa, na primeira leitura que fez do projeto, Maria Clara aprovou a criação de uma mostra de esquetes, que mais tarde passamos a realizar aqui também: é o Festival de Esquetes de Nova Friburgo (Fenf)]. 

Esse projeto nasceu e cresceu no Tablado, onde foram realizadas 24 edições, revelando muitos talentos que deram seguimento às suas carreiras, como Fernando Caruso, Sophie Charlotte, Mateus Solano, Gregório Duvivier, Débora Lamm, entre outros. A primeira edição do evento foi um grande acontecimento no Tablado, já com o Caruso, Duvivier, Pedro Kosovski, que eram alunos na época e hoje são professores, como eu, e estavam no palco naquela estreia. Ano retrasado, antes da pandemia, fizemos a 24ª edição da Mostra de Esquetes do Tablado. Foi daí que surgiu a ideia de fazer o Fenf. Esse ano pretendo realizar, no próximo mês, via on-line, a 4ª edição aqui em Friburgo.

A partir da criação da mostra de esquetes, fui crescendo no grupo e passei a assistente e depois de alguns anos assumi a função de professor. Os fundamentos da escola do Tablado, o método criado pela Maria Clara é o mesmo até hoje. Tudo que sei sobre a arte de interpretar, criar, dirigir, aprendi com ela. Nosso grupo foi o último dirigido pela Maria Clara. A convivência, aquela coisa de viver no Tablado como se fosse nossa casa, que era como nos sentíamos, enriquecia nosso aprendizado, era uma troca preciosa entre nós, alunos e professores. Éramos todos, crias da Maria Clara Machado.”

E então…

“Eu já era assistente da Cacá Mourthé, quando a Maria Clara adoeceu, no início dos anos 2000. Naquela altura eu já estava muito próximo das duas, convivia muito com elas. Quando a Cacá se afastou para ficar mais tempo com a tia, assumi as aulas na ausência dela. Foi um período meio pesado, triste, que culminou com o falecimento da Maria Clara (em 30 de abril de 2001).

Mas a lembrança que fica é a última direção dela, nos primeiros meses de 2000… E teve um fato curioso, inesquecível, que acho relevante contar: No dia em que a Maria Clara faleceu, eu estava no Tablado, dando aulas. A casa dela estava cheia de gente, todo mundo foi pra lá, as pessoas queriam estar juntas e perto daquela pessoa querida e tão importante em suas vidas. Ela conversava com as pessoas que a cercavam em seu quarto, sentadas nas cadeiras. 

De repente, o quarto escureceu, faltou luz em parte da casa. Aí tudo mundo levantou, meio sem saber o que fazer, mas alguém descobriu que um fusível havia queimado. Resolvido o problema, quando a luz voltou, a Maria Clara tinha morrido. Então, pensei e senti que uma “descarga linda de energia” havia queimado o fusível. 

O professor Cico Caseira, já falecido, que estava lá naquele momento me contou essa história e disse: ‘No espetáculo final da vida da Maria Clara Machado, foi ela que apagou a luz’”. 

 

Foto da galeria
Lincoln Vargas, Mateus Solano, Carlos Grun, Rodrigo Lopes, Marcelo Adnet e Lincoln, na peça “O Alfaiate do Rei”, em 2005
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