Em 1918, enquanto na Europa ia terminando a “grande guerra”, com o povo europeu em estado de debilidade física, em conseqüência das privações por ela provocada, irrompeu uma epidemia de gripe, de tremenda virulência, que assolou o mundo e ceifou 20 milhões de vidas, matando mais do que a própria guerra!
No Brasil, ela chegou em outubro daquele ano. Com a nossa mania de apelidar os surtos de gripe, ela recebeu o nome de “espanhola” porque, ao que parece, começou na Espanha. No Rio de Janeiro, diz o Monsenhor Miranda em seu livro “Centenário Paroquial”, ela começou por volta de 12 de outubro daquele ano e matou mais de 20.000 pessoas, chegando a afetar os serviços públicos, tal o número de pessoas simultaneamente atacadas.
Em Nova Friburgo, conta o Monsenhor, o primeiro caso aconteceu numa casa na Rua General Osório, em um cômodo ocupado por várias pessoas, adoecendo uma delas, vinda do Rio de Janeiro. Logo a doença se espalhou como um rastilho de pólvora, por toda a cidade.
De 18 de outubro a 7 de dezembro foram sepultadas no cemitério público 129 pessoas, sem contar os que faleceram na zona rural e lá foram enterradas. A população local, no centro da cidade, devia girar em torno de 10 mil habitantes.O primeiro óbito provocado pela “espanhola” em nossa terra, registrado em 20 de outubro, foi o de Alfredo Carlos, de 24 anos, empregado da casa Spinelli & Filhos.
O prefeito interino da cidade, Francisco Caetano da Silva, ante a violenta rapidez com que se multiplicavam os casos, convocou todos os médicos da cidade: Henrique de Beauclair, Julião do Amaral, Galdino do Valle Filho, Acurcio Benigno, Emilio Sampaio, Julião do Amaral e Luiz Maranhão, estes dois últimos, do Sanatório Naval, e Bonifácio de Figueiredo, da Estrada de Ferro Leopoldina, além dos doutorandos Sylvio Braune e Mario Sertã, para que se juntassem todos no combate à epidemia.
Em carta de 22 de outubro, o diretor do Sanatório Naval informa ao prefeito que lá estavam internados 192 casos, alguns graves e que já havia quatro óbitos..
Informa o “Jornal da Cidade” que, numa carta em resposta ao prefeito, o dr. Galdino do Vale Filho diz: “Como me dá a honra de consultar, permito-me falar com a franqueza de médico, que a única providência que o governo local pode e deve tomar é fazer a improvisação de uma casa em hospital de emergência, para a assistência eficaz aos pobres onde, além de tratamento médico, lhes seja ministrada alimentação adequada, sob um teto higiênico”
Ante o recrudescimento da epidemia, a Prefeitura instalou, no Theatro Dona Eugênia, uma enfermaria de emergência que foi entregue aos doutorandos Mario Sertã e Sylvio Braune, chefiados pelo dr. Acurcio Benigno.
As três farmácias da cidade, Braune, Central e Guariglia entraram em febril movimento aviando as receitas formuladas pelos médicos. Lembramo-nos de ouvir de nosso pai, Aristão Jaccoud, que era um dos donos da Farmácia Central, que ele e os empregados Athayde de Freitas e Ernani Moraes, mesmo atacados pela gripe, se revezavam no aviamento das receitas e que, com grande esforço físico, conseguiram atender a todos os que lá chegaram, pudessem, ou não pagar pelos remédios receitados.
Dizia nosso pai que o mesmo aconteceu na Farmácia Braune e que a Farmácia Guariglia, no meio da epidemia, foi obrigada a fechar as portas porque os que lá trabalhavam, fortemente atacados pela gripe, ficaram impossibilitados de continuarem na luta.
Com a rapidez com que a gripe chegou, ela se foi. No dia primeiro de dezembro seguinte o jornal “Cidade de Friburgo” convoca o povo para uma missa de ação de graças pelo término da terrível epidemia.
“É digno de reflexão”, diz o monsenhor Miranda em seu livro, o fato de que nem um único caso de gripe espanhola foi registrado no Colégio Anchieta e no das Irmãs Dorotéias, embora todos os padres e freiras houvessem trabalhado, ativamente, atendendo os doentes necessitados.
(*Artigo publicado no blog Centro de Documentação D. João VI, em 06 de março de 2001)
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