A cobertura da vacinação de sarampo entre crianças de 6 meses a 4 anos alcançou apenas 29,68% ao longo da campanha de imunização do Ministério da Saúde (MS), que vai até esta sexta-feira, 3. Uma a cada três crianças de seis meses a 4 anos tomou uma dose da vacina contra sarampo. Com mais de 3,8 milhões de doses aplicadas nesta faixa etária, dados do LocalizaSUS mostram que a taxa de cobertura vacinal alcançou menos de 30% na útima segunda-feira, 30 de maio, o que enseja preocupações em torno da chance de surtos da doença avançarem pelo Brasil.
Em Nova Friburgo, a Secretaria Municipal de Saúde, informou que somente 22% do público alvo foi imunizado contra o sarampo até agora e a pasta planeja um mutirão de vacinação Dia D neste sábado, 4. No município, a campanha de vacinação continua de segunda à sexta-feira, das 9h às 16h, para crianças de seis meses a 4 anos e profissionais de saúde nos postos do Suspiro, Olaria e Conselheiro Paulino. Às terças e quintas-feiras, a vacinação acontece também no posto de saúde de São Geraldo, das 9h às 15h.
Os índices atingidos na atual campanha nacional de vacinação contra a doença abrem distância da meta de 95%, preconizada pelo ministério. Na série histórica dos últimos anos, o panorama é parecido. Dados do Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI) compilados até o último domingo, 29 de maio, apontam que a taxa de cobertura para duas doses da vacina tríplice viral — que, além do sarampo, protege contra caxumba e rubéola — chegou a 22,38% em 2022, menos da metade dos 51,37% alcançados no ano anterior.
“Com certeza, essa baixa cobertura expõe o Brasil a novos surtos de impactos que podem ser desastrosos. Podemos ter muitos óbitos na faixa etária citada. Isso faz com que o sarampo encontre pessoas suscetíveis e cause mortes nas crianças menores de 4 anos. É um risco iminente”, alerta o presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT), Julio Croda.
Entre os motivos, especialistas apontam baixa percepção de risco para a doença. É como se o país tivesse se tornado vítima do sucesso do próprio Programa Nacional de Imunizações (PNI), que, consolidado durante décadas, vê as taxas de cobertura declinarem desde 2019, quando atingiu 81,55%. Nesse ano, o Brasil perdeu o certificado de país livre de sarampo, concedido pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) em 2016, após registrar transmissão sustentada, isto é, quando o vírus circula e infecta livremente pelo território.
O cenário, porém, é multifatorial: a avaliação é de que também falta acesso e sobra desinformação. Com postos de saúde em horários de funcionamento incompatíveis aos do expediente dos pais, sem campanhas de imunização em escolas e diante de informações falsas que colocam em xeque a importância das vacinas, tem-se o panorama de uma vacinação que desacelera e passa a caminhar a passos ora mais curtos, ora mais lentos.
Sem divulgação nem campanhas
Segundo o jornal O Globo, gestores de postos de saúde ouvidos sob condição de anonimato analisam que falta divulgação e campanhas de comunicação por parte do ministério, o que leva à redução da procura às unidades. Nesse sentido, profissionais de saúde ganham uma “tarefa extra” ao ter que explicar aos pais e responsáveis a necessidade e a segurança da vacinação.
“Essa taxa (de 29,68% na atual campanha) é muito pequena. É assustadora. Chego a torcer para que estejamos com delay de registros e tenhamos vacinado mais. Num país reconhecido pelo programa de imunização, isso é muito preocupante, porque, mais uma vez, vemos uma campanha de vacinação sem sucesso”, explica a pediatra e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Isabella Ballalai.
O avanço da doença se traduz em números diante do aumento de 35,71% no total de casos em pouco mais um mês. Segundo o último Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, divulgado na última sexta-feira, 27, o Brasil confirma 19 infecções por sarampo — eram 14 até 20 de abril —, concentradas em São Paulo e no Amapá, e investiga outras 217. Não há registro de mortes em 2022.
Com Ro (taxa de transmissão) calculado num intervalo entre 12 e 18, o vírus do sarampo é considerado o mais contagioso do mundo: na prática, um paciente com sarampo pode infectar até outras 18 pessoas, aumentando o risco diante da baixa adesão à vacina. A título de comparação, a da variante Ômicron — a maior transmissível entre os coronavírus — varia de seis a dez.
O contágio se dá, principalmente, de pessoa para pessoa, por via respiratória: tosse, espirro, fala e respiração. Febre, tosse persistente, irritação ocular e secreção nasal são os principais sintomas, seguidos por manchas avermelhadas pelo corpo. Há risco de desenvolver infecção nos ouvidos, pneumonia, convulsões, lesão cerebral e até levar à morte. Nesse sentido, o consenso médico é de que a vacinação em massa é a melhor forma de proteção tanto a nível individual quanto coletivamente:
“É muito difícil combater um surto de sarampo, porque a taxa de transmissão é extremamente elevada. A medida mais efetiva é instituir campanhas de imunização em massa para tentar vacinar o mais rápido possível. A vacina é extremamente efetiva contra infecção, hospitalização e óbito”, finaliza o infectologista.
(Fonte: globo.com)
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