Neste momento difícil de enfrentamento à pandemia do novo coronavírus, A VOZ DA SERRA preparou uma reportagem especial que traz uma mensagem de esperança, superação e amor ao esporte. O corredor friburguense Reginaldo Azevedo, vencedor da Maratona Internacional do Rio de Janeiro em 2000 - uma das provas mais importantes do Brasil -, perdeu o troféu recebido pela vitória na tragédia climática de 2011, na qual teve a casa soterrada e, por pouco, não morreu junto com a mãe e um irmão. Nove anos depois, revirando os escombros da antiga casa, Reginaldo encontrou o tão sonhado troféu que, para ele, simboliza muito mais que apenas uma vitória esportiva.
Em 2011, Reginaldo morava no bairro Vale do Cedro, no Stucky, com a mãe Maria Zilda e o irmão Luciano (ele ainda tem mais dois irmãos: Alexandre ‘Ligeirinho’ e Cristiane). Por volta das 23h do dia 11 de janeiro daquele ano, ouviu alguns estrondos e, com medo, resolveu sair de casa. Poucos minutos depois, uma barreira soterrou completamente o imóvel, sem tempo de salvar nada, além de suas próprias vidas.
De lá para cá, nunca mais mexeu no terreno. Só que nesta semana, devido ao período de isolamento social, Reginaldo e a irmã, Cristiane, resolveram revirar os escombros, mas não para construir uma nova residência, e sim para dar início a uma plantação de orgânicos, na qual, segundo ele, parte da produção será doada às famílias carentes do bairro.
E para surpresa de todos - nove anos após a tragédia climática e 20 anos depois da histórica conquista -, Reginaldo encontrou o troféu de bronze recebido pela vitória na Maratona Internacional do Rio, um dos maiores orgulhos do corredor, único maratonista friburguense a vencer uma competição internacional até os dias de hoje. E, para alegria dele, apesar de sujo de terra, o troféu está intacto, mesmo passando tanto tempo soterrado.
“Esse troféu significa muito para mim. Porque além da vitória esportiva, com o prêmio que recebi, realizei meu sonho de reformar a casa da minha mãe e construir um muro reforçado, que iria valorizar o terreno. Para mim, comprei apenas uma calça, um ferro e uma tábua de passar roupas. Se eu não tivesse feito esse muro, talvez a gente não estivesse mais aqui. Me sinto um vitorioso na vida. Não tinha mais esperança, mas encontrar esse troféu depois de tanto tempo me fez lembrar que nunca devemos perder a fé e a esperança”, disse, emocionado, Reginaldo Azevedo.
A histórica conquista
Em 2000, Reginaldo ainda era um desconhecido no cenário nacional do atletismo. Como havia disputado duas maratonas anteriores (em Porto Alegre e São Paulo), estava estafado e só iria participar da Maratona do Rio para servir de ‘coelho’ (corredor que dita o ritmo para um companheiro) para o irmão Alexandre.
Sem ter onde ficar, ambos passaram a noite que antecedeu a prova nos fundos de uma padaria, graças a ajuda de um amigo. Como não pretendia disputar a prova, Reginaldo sequer levou seu tênis de corrida e não tinha nem dinheiro para voltar para Friburgo. Mas o destino dele já estava escrito.
“Quando deram a largada, eu estava me sentindo tão bem que falei com o Alexandre que não queria perder contato com os líderes. E ele disse: ‘Vai com Deus, meu irmão’. Na metade da maratona eu já estava em quarto lugar e, a partir do Km 27, passei a liderar até a linha de chegada. Só no dia seguinte me dei conta do tamanho da minha vitória. A corrida foi transmitida ao vivo pela TV Bandeirantes, também fui capa do ‘Lance’ e do ‘Jornal dos Sports’. Todos destacando o feito de um atleta, até então, considerado zebra”, relembrou Reginaldo.
Ele venceu a Maratona Internacional do Rio de 2000 com o tempo de 2h17m59s - desbancando todos os favoritos - e entrou para a história do atletismo friburguense e nacional. Atualmente é líder comunitário, promove corridas na cidade e é um dos mentores de uma ação social realizada há seis anos no Vale do Cedro.
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