Brasil tem aumento de casos da doença, incluindo a do tipo “silencioso”

A pneumonia atípica é causada pela bactéria Mycoplasma e costuma ser mais branda
quinta-feira, 01 de agosto de 2024
por Jornal A Voz da Serra
(Foto: Freepik)
(Foto: Freepik)

O número de casos de pneumonia aumentou no Brasil esse ano. Embora sejam poucos os hospitais que têm dados sobre o tipo da doença, dados dos que têm e relatos de profissionais de saúde indicam que a alta está ligada à forma silenciosa ou atípica da doença. Ela causa sintomas mais brandos que os quadros tradicionais de pneumonia, o que pode levar à demora em procurar atendimento.

No Rio de Janeiro, a Secretaria Municipal de Saúde não registra dados detalhados sobre cada tipo de pneumonia. No entanto, houve aumento de 69% nos atendimentos de urgência e emergência por pneumonia na rede municipal, em relação ao mesmo período do ano passado. A maior parte dos pacientes são crianças menores de 10 anos.

O Sabará Hospital Infantil, em São Paulo, é um dos serviços que registrou aumento do número de casos de pneumonia esse ano. A pesquisa de agentes etiológicos, que mostra o micróbio causador da doença, mostrou aumento significativo da bactéria Mycoplasma pneumoniae, que está associada aos casos de pneumonia atípica.

Em Curitiba, o Hospital Pequeno Príncipe, maior hospital pediátrico do país, já registrou 537 atendimentos na emergência de casos de pneumonia atípica este ano. No mesmo período de 2023 foram 249 casos, o que representa um aumento de 116%. Nas internações, o aumento foi de 47%.

Em Porto Alegre, dados do Hospital Moinhos de Vento mostram que entre janeiro e junho foram registradas 349 internações por pneumonia. No mesmo período do ano passado, foram 245. De acordo com o hospital, houve aumento dos casos de Mycoplasma pneumoniae, em especial entre crianças e adolescentes.

No Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, foram atendidos 244 pacientes com pneumonia causada por Mycoplasma este ano. No mesmo período de 2023, foram apenas 4. No hospital, a faixa etária mais atingida é de pessoas com idade a partir de 16 anos.

Segundo a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, de janeiro a junho deste ano, foram realizados 675 atendimentos por pneumonia no pronto atendimento da pediatria do Hospital Municipal Infantil Menino Jesus. O número representa um aumento de 36,3% em comparação com os 495 atendimentos realizados no mesmo período do ano passado.

E em todo o Estado também houve aumento, mas menos expressivo. De acordo com a Secretaria da Saúde de São Paulo, de janeiro até abril deste ano, foram registrados 25.981 procedimentos ambulatoriais, contra 24.796 no mesmo período do ano passado.

De acordo com o infectologista David Uip, diretor nacional de infectologia da Rede D’Or, que conta com 69 hospitais, localizados em 13 unidades da federação, houve aumento expressivo no número de casos de pneumonia em todos os hospitais da rede, incluindo dos casos atípicos.

Temperaturas “fora de esquadro”

Para Uip, diversos fatores ajudam a explicar esse crescimento nos casos de pneumonia no país. “Temos vários vírus circulando e muitas vezes um processo bacteriano sucede um processo viral. O clima também contribui. Estamos com um clima seco e temperaturas totalmente fora de esquadro, diferente do que estávamos acostumados. Além disso, processos imunoalérgicos, como rinite e sinusite, também podem virar um processo bacteriano”, avalia o infectologista.

Em relação ao aumento das infecções por Mycoplasma pneumoniae, especificamente, especialistas especulam que ele pode estar associado à pandemia de Covid-19. As medidas restritivas impostas para controlar a transmissão do coronavírus fizeram com que muitos patógenos parassem de circular. Agora, eles voltaram a circular e encontram muitos suscetíveis, em especial crianças.

Outro fator apontado é a própria sazonalidade da doença. Surtos de infecções por essa bactéria tendem a acontecer a cada três a sete anos, embora as razões disso ainda não sejam bem compreendidas. Como não havia surtos relatados desde antes da pandemia, esse aumento nos casos já era esperado em muitos países.

Pneumonia atípica

O médico Alexandre Zavascki, chefe do Serviço de Infectologia do Hospital Moinhos de Vento, lembra que o aumento de casos de pneumonia silenciosa já foi relatado em outros países pós-Covid, que também começou na China. No fim do ano passado, o país asiático relatou um surto de pneumonia em crianças associado a essa bactéria. Pouco tempo depois, pelo menos outros nove países também registraram um número maior de infecções pelo micro-organismo e já era esperado que esse quadro chegasse ao Brasil.

Apesar de ser popularmente conhecida como ‘pneumonia silenciosa’, a doença causada pela bactéria Mycoplasma pneumoniae não é assintomática. Mas os sintomas são diferentes do quadro tradicional.

“Na verdade, as crianças apresentam muita tosse. Esse é o principal sintoma. No entanto, elas não aparentam estar doentes. A febre costuma ser baixa, não tem muitos sintomas de prostração e falta de ar”, explica a médica Maria Helena Bussamra, pneumologista pediátrica do Sabará Hospital Infantil.

Por isso, ela recomenda chamar de ‘pneumonia atípica’, em vez de ‘silenciosa’. Ainda segundo Bussamra, essas infecções costumam ser menos graves do que a pneumonia clássica por pneumococo. Por isso o aumento do número de casos é mais evidente na emergência do que na internação. “A criança vem ao hospital, tem o diagnóstico de pneumonia e trata em casa com medicação via oral”, revela a médica.

A Mycoplasma pneumoniae é transmitida através de gotículas quando uma pessoa infectada tosse ou espirra. As crianças são o principal grupo de risco pela falta de infecção prévia. Em seguida, estão os idosos.

O sintoma mais comum da infecção pela bactéria é a tosse seca. Também pode haver outros sintomas gripais como dor de garganta, cansaço, febre, dor no peito, desconforto e dor de cabeça.

Como os sintomas são os mesmos de infecções causadas por outros patógenos, como vírus, só é possível saber qual vírus ou bactéria está associado a esse sintoma após a realização de testes específicos.

Casos leves não necessariamente precisam de antibiótico, havendo apenas tratamento sintomático. Já os casos mais graves necessitam de antibiótico. Os mais usados para tratar esse tipo de pneumonia são conhecidos como macrolídeos, em especial a azitromicina.(Fonte: Por Giulia Vidale // O Globo)

Publicidade
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Publicidade
Publicidade
Publicidade

Apoie o jornalismo de qualidade

Há 79 anos A VOZ DA SERRA se dedica a buscar e entregar a seus leitores informações atualizadas e confiáveis, ajudando a escrever, dia após dia, a história de Nova Friburgo e região. Por sua alta credibilidade, incansável modernização e independência editorial, A VOZ DA SERRA consagrou-se como incontestável fonte de consulta para historiadores e pesquisadores do cotidiano de nossa cidade, tornando-se referência de jornalismo no interior fluminense, um dos veículos mais respeitados da Região Serrana e líder de mercado.

Assinando A VOZ DA SERRA, você não apenas tem acesso a conteúdo de qualidade, mantendo-se bem informado através de nossas páginas, site e mídias sociais, como ajuda a construir e dar continuidade a essa história.

Assine A Voz da Serra

TAGS: