O cantor, compositor e pianista friburguense Benito di Paula — um dos nomes de maior destaque da música popular brasileira, está em Nova Friburgo para duas apresentações, neste fim de semana: na sexta-feira, 9, fez show no Teatro Municipal Laercio Ventura; e neste sábado, às 20h30, estará no palco principal montado na Praça do Suspiro.
Sou um cara muito família, gosto de estar com a minha gente, da companhia das crianças, me sinto revigorado por esta convivência diária
Benito Di Paula
Benito tem muita história para contar: são mais de 50 anos de carreira, cerca de 35 discos lançados e mais de 60 milhões de cópias vendidas em todo o mundo. Nascido em 1941, seus primeiros contatos com a música aconteceram de forma espontânea, através do pai José Vellozo, que tocava piano, violão e bandolim.
Na certidão de nascimento ele é Uday Vellozo, mas o nome artístico foi escolhido pelo próprio cantor junto com o empresário Alfredo Motta, a primeira pessoa a perceber o talento do jovem artista: tinha entre 15 e 16 anos quando foi convidado por ele para cantar no Hotel Avenida, no centro da cidade.
Com 17 anos partiu para o Rio de Janeiro, onde se apresentava em casas noturnas. Alguns anos depois, já em São Paulo, começou a sentir o gosto do sucesso até que, no início dos anos 1970 sua carreira decolou ao fechar contrato com a gravadora Copacabana.
Naquela altura Benito já se destacava no cenário musical brasileiro, consolidando um estilo próprio que haveria de marcar sua trajetória como artista. O primeiro disco foi lançado em 1971, com o próprio nome na capa. Ao longo da carreira, Benito produziu sucessos como: Ah, como eu amei, Vai ficar na saudade, Do jeito que a vida quer, Mulher brasileira, entre muitos outros.
Uma carreira revitalizada
Mas foi com o terceiro disco, em 1972, que Benito teve o merecido reconhecimento da crítica e do público ao lançar o disco “Ela” com músicas que ocuparam o topo das listas das mais tocadas nas rádios, incluindo Retalhos de Cetim, um de seus maiores sucessos até hoje.
O espaço então conquistado se mantém, 50 anos depois, sendo um dos mais respeitados cantores e compositores do Brasil. Seus discos sempre foram sucesso de vendas e por muitas vezes disputou com Roberto Carlos o título de maior vendedor de discos. Roberto, inclusive, gravou músicas suas também.
Em 2021, Benito di Paula completou 80 anos de idade. Para comemorar a data, lançou, junto com o filho Rodrigo Vellozo, também músico e produtor, o álbum “Benito 80: Novo Samba Sempre Novo” — que faz referência ao seu disco de 1973, “Um Novo Samba” — revivendo sua discografia com regravações ao lado de artistas como Xande de Pilares, Zeca Baleiro, João Bosco, Teresa Cristina, entre outros, lançado em 2022.
Na época, em entrevista à revista Rolling Stone, Rodrigo explicou o motivo da referência ao álbum: “‘Um Novo Samba’ é um álbum fundamental do meu pai. É onde ele começa a desenhar, de forma mais explícita e madura, a estética da sua obra”, definiu.
Dono de um estilo inconfundível, Benito compôs músicas que se eternizaram em sua voz e na de outros grandes nomes do cenário nacional, como Roberto Carlos, Maria Bethânia e Alcione, além de artistas internacionais como o guitarrista Charlie Byrd (músico americano apaixonado pela bossa nova) e a Orquestra de Paul Mauriat. Resumindo, ele construiu uma carreira que mistura samba e suas variações, e o leva a turnês por todo o Brasil e exterior.
Sua obra atravessa a arte de compor, tocar e cantar, atinge a cultura de várias épocas, alcançando os dias atuais, sempre encantando o seu público formado por diversas gerações. E assim, enquanto caminha, Benito di Paula vai revitalizando uma carreira pródiga em sua musicalidade.
Matutando sobre o que está por vir
Benito di Paula está em Nova Friburgo, feliz da vida pela oportunidade de estar em sua cidade natal, que pretende visitar mais vezes, e quem sabe, até, voltar de vez. “Um dia, talvez…”, cogita.
“Estou reformando a primeira casa que dei para minha mãe. É um lugar onde me sinto bem. Gosto daqui, sou de Friburgo, até me deram esse apelido, “homem da montanha”, e realmente me sinto assim. Minha família aqui é grande, tenho muitos irmãos, dois deles, o Altay e o Ney, são músicos também e parceiros. Tem os sobrinhos, os sobrinhos-netos, amigos, aliás, em vez de fãs, prefiro amigos. Me agrada pensar que esse público que me prestigia é feito de amigos. Desde crianças aos mais velhos, é gente de todas as idades”, revelou em entrevista exclusiva realizada no hotel onde está hospedado, na tarde de quinta-feira, 9.
O artista mora em São Paulo, praticamente desde que saiu de Friburgo, depois de viver poucos anos no Rio, onde hoje mora um dos filhos. O outro, Rodrigo, a nora e as netas, “minhas paixões”, moram com ele, e são a alegria de sua vida. Daí a dúvida se volta. “Difícil decisão, mas a gente nunca sabe pra onde vai, né?”.... E emenda:
“Sou um cara muito família, gosto de estar com a minha gente, da companhia das crianças, me sinto revigorado por esta convivência diária. Esses tempos tecnológicos não são legais. As pessoas não conversam e mesmo quando estão juntas, se falam pelos celulares! Daqui a pouco não vão mais saber nem conversar uns com os outros. Por outro lado, como controlar o uso desses aparelhos pelas crianças? Eu não sei como”, diz, rindo da própria constatação.
Sobre o show, ele explica como funciona: “Não sigo um roteiro, porque, graças a Deus, tenho muita música, a grande maioria bem conhecida, e o público pede pra cantar uma, depois outra, canta junto, se diverte como se estivesse numa festa, e é isso que eu gosto nos meus shows. É como num grande encontro de amigos. Essa proximidade é uma coisa muito importante pra mim, ainda mais agora que ninguém se encontra, vivem distantes umas das outras, só se comunicam pelas redes. Meus shows são o oposto disso, é pra ser presente, alegre, pra cima!”, enfatiza Benito, sempre com um sorriso no rosto, esbanjando simpatia.
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