Além do IMC. Especialistas propõem nova forma de diagnosticar obesidade

Proposta sugere que diagnóstico de obesidade inclua outras métricas e parâmetros além do IMC, para evitar classificação incorreta
quinta-feira, 23 de janeiro de 2025
por Liz Tamane
(Foto: Freepik)
(Foto: Freepik)

A obesidade, um dos problemas de saúde pública mais desafiadores do mundo, pode estar prestes a ser redefinida em termos de diagnóstico. Uma proposta publicada no jornal científico The Lancet Diabetes & Endocrinology e endossada por 75 organizações médicas ao redor do mundo propõe um novo modelo para identificar e tratar essa condição. A iniciativa busca superar as limitações do tradicional Índice de Massa Corporal (IMC), que, apesar de amplamente utilizado, apresenta lacunas significativas na avaliação da obesidade e seus impactos na saúde.

Um estudo da Lancet, lançado em 2022, estimou que mais de meio bilhão de pessoas vivem com obesidade no mundo, segundo estimativas globais. Os autores da nova proposta apontam que o IMC é útil como ferramenta de triagem, mas insuficiente para diagnósticos precisos. O índice, que é calculado dividindo o peso de uma pessoa em quilogramas pelo quadrado de sua altura em metros, não fornece informações sobre a distribuição da gordura corporal nem sobre os impactos individuais na saúde. 

Como o IMC é calculado na prática

O Índice de Massa Corporal (IMC) é uma fórmula simples, amplamente utilizada para estimar se uma pessoa está em uma faixa de peso considerada saudável. O cálculo é feito dividindo-se o peso da pessoa em quilogramas pelo quadrado de sua altura em metros. Por exemplo, uma pessoa que pesa 70 quilos e mede 1,75 metro teria seu IMC calculado assim:

IMC = Peso (kg) / Altura² (m²) IMC = 70 / (1,75 × 1,75) IMC = 70 / 3,0625 IMC = 22,86

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), os valores do IMC são categorizados da seguinte forma:

  • Abaixo do peso: menor que 18,5

  • Peso normal: entre 18,5 e 24,9

  • Sobrepeso: entre 25 e 29,9

  • Obesidade: igual ou superior a 30

Apesar de sua simplicidade, o IMC apresenta limitações significativas. Ele não diferencia a massa muscular de gordura, o que pode levar a diagnósticos incorretos, especialmente em atletas ou pessoas com alta densidade muscular. Além disso, não reflete a distribuição de gordura pelo corpo, um fator crucial para avaliar riscos de saúde, como doenças cardiovasculares e metabólicas.

Com a nova proposta da Comissão sobre Obesidade Clínica, espera-se um avanço nos sistemas de saúde, possibilitando diagnósticos mais personalizados e tratamentos mais eficazes para pessoas que vivem com obesidade.

Nova proposta

A proposta elaborada pela Comissão sobre Obesidade Clínica sugere que o diagnóstico de obesidade inclua outras métricas e parâmetros além do IMC. Entre as recomendações estão:

  1. Medições complementares do tamanho corporal: incluir a circunferência da cintura, a relação cintura-quadril ou a relação cintura-altura para avaliar a distribuição da gordura corporal.

  2. Medição direta da gordura corporal: por meio de técnicas como densitometria óssea (Dexa), que oferece maior precisão na análise da composição corporal.

  3. Critérios práticos para casos extremos: em pessoas com IMC acima de 40 kg/m², pode-se presumir o excesso de gordura corporal sem a necessidade de exames adicionais.

Essas medidas possibilitam uma análise mais detalhada dos efeitos do excesso de gordura no organismo e evitam diagnósticos equivocados que podem levar a tratamentos inadequados ou insuficientes.

Uma das principais inovações da proposta é a introdução de duas novas categorias: obesidade clínica e obesidade pré-clínica. Essa distinção pretende estabelecer um protocolo mais eficiente para o tratamento, considerando o impacto da obesidade na saúde de cada paciente.

  • Obesidade clínica: refere-se a casos em que há sinais ou sintomas objetivos de disfunções nos órgãos ou limitações funcionais, como dificuldade para realizar tarefas cotidianas ou problemas de mobilidade. A comissão estabeleceu 18 critérios para adultos e 13 para crianças e adolescentes para o diagnóstico desta condição. Alguns dos sintomas incluem: falta de ar devido à gordura corporal excessiva nos pulmões; dor articular severa, causada pelo impacto do excesso de peso nas articulações; insuficiência cardíaca ou outras disfunções metabólicas relacionadas ao excesso de gordura.

  • Obesidade pré-clínica: aplica-se a indivíduos que apresentam excesso de gordura corporal, mas sem sinais de disfunções orgânicas ou limitações funcionais. Embora essas pessoas estejam em risco aumentado de desenvolver doenças como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e certos tipos de câncer, a condição ainda pode ser revertida com intervenções preventivas.

Os especialistas acreditam que essa nova abordagem pode transformar a forma como os sistemas de saúde lidam com a obesidade, permitindo uma distribuição mais eficiente de recursos e tratamentos. Ao redefinir o diagnóstico, pode ser possível priorizar pacientes que mais necessitam de intervenções, como medicamentos e cirurgias bariátricas, garantindo maior impacto na saúde desses indivíduos a longo prazo.

A proposta da Comissão sobre Obesidade Clínica representa um avanço importante no entendimento da obesidade como uma condição complexa que exige soluções personalizadas. Além de melhorar a precisão diagnóstica, a abordagem pode abrir caminho para políticas de saúde mais eficazes, inclusivas e centradas no paciente.

Se implementada globalmente, essa nova definição de obesidade tem o potencial de mudar não apenas as estatísticas, mas também a qualidade de vida de milhões de pessoas ao redor do mundo.

 

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