O mês de agosto é marcado por uma causa nobre intitulada “Agosto Dourado”. Criado pela Lei Federal nº 13.435, de 2017, o mês é dedicado à conscientização sobre o aleitamento materno, prática essencial para o desenvolvimento saudável de crianças e também para a proteção da saúde das mães. O dourado representa o “padrão ouro” de qualidade do leite materno, considerado o alimento mais completo e seguro nos primeiros meses de vida.
Nas últimas décadas, o Brasil apresentou avanços importantes no incentivo ao aleitamento
Durante todo o mês, órgãos públicos, unidades de saúde, profissionais e instituições promovem ações informativas, palestras, campanhas e rodas de apoio, com o objetivo de incentivar o aleitamento exclusivo até os seis meses de idade e a amamentação continuada até os dois anos ou mais, conforme recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Leite materno salva vidas
O leite materno é mais do que nutrição: é um verdadeiro complexo imunológico natural, que fornece os anticorpos necessários para proteger o bebê contra infecções, diarréias, doenças respiratórias e alergias. Ele contém a combinação ideal de proteínas, gorduras, carboidratos, vitaminas, minerais, enzimas e hormônios, além de ser gratuito, sempre fresco e na temperatura ideal.
Amamentar também reduz significativamente os riscos de doenças como obesidade infantil, diabetes tipo 1, doenças cardiovasculares e até morte súbita. O contato pele a pele estimula o vínculo afetivo, acalma o bebê e contribui para seu desenvolvimento emocional e neurológico.
Benefícios para a mulher
Os efeitos positivos da amamentação vão além do bebê. As mulheres que amamentam se beneficiam de menor risco de câncer de mama, ovário e endométrio, além de menor incidência de hipertensão, diabetes tipo 2 e osteoporose. Amamentar também favorece a recuperação pós-parto, contribuindo para a contração uterina e a redução do sangramento.
Além disso, o ato de amamentar contribui para o gasto calórico, auxiliando na perda do peso adquirido durante a gestação. A amamentação ainda tem impactos emocionais, promovendo a liberação de ocitocina, hormônio que ajuda na construção do vínculo entre mãe e filho, e no bem-estar da mulher.
Avanços no Brasil
Nas últimas décadas, o Brasil apresentou avanços importantes no incentivo ao aleitamento. Na década de 1970, uma criança era amamentada por apenas dois meses e meio, em média. Hoje, esse tempo subiu para 16 meses, ou seja, um ano e quatro meses, ainda abaixo da meta ideal, mas um progresso significativo.
De acordo com o Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani), de 2021, o aleitamento materno exclusivo até os seis meses atinge 45,8% das crianças brasileiras. A meta da OMS é que esse índice chegue a 50% até 2025 e 70% até 2030. Embora o país esteja próximo do primeiro objetivo, os desafios para avançar ainda são numerosos.
Sobre o Agosto Dourado
A campanha tem origem internacional. Em 1990, durante uma reunião entre a OMS e o Unicef, foi criada a Aliança Mundial de Ação Pró-Amamentação. No ano seguinte, em 1991, surgiu a Semana Mundial de Aleitamento Materno (SMAM), celebrada sempre na primeira semana de agosto em mais de 120 países.
No Brasil, a partir da promulgação da lei em 2017, o mês inteiro passou a ser dedicado ao tema. Durante este período, diferentes municípios organizam atividades de conscientização, capacitação de profissionais de saúde, distribuição de materiais informativos e acolhimento a puérperas nas redes públicas de saúde.
Desafios
Apesar de natural, amamentar nem sempre é simples. Muitas mães enfrentam obstáculos físicos e emocionais nas primeiras semanas após o parto. Entre os principais problemas estão:
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Pega incorreta do bebê, que pode causar dor intensa, fissuras no mamilo e baixa extração de leite;
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Produção insuficiente de leite, ou sensação de “leite fraco”, geralmente ligada à ansiedade e insegurança;
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Uso precoce de mamadeiras e chupetas, que interfere na sucção e no padrão de amamentação;
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Falta de apoio familiar ou profissional, que pode levar ao desmame precoce.
Bruna Celano, enfermeira do Banco de Leite do Hospital e Maternidade São Luiz Anália Franco, explica que a correção da pega e o acolhimento fazem toda a diferença. “Sinais como bochechas encovadas, mamilo achatado após a mamada e dor intensa indicam que algo não está certo. A boca do bebê deve estar bem aberta, com o queixo encostado na mama. E o mais importante: a mãe precisa ser ouvida, orientada e apoiada”, afirmae.
Rede é fundamental
A amamentação é um processo que exige paciência, prática e apoio. Contar com profissionais capacitados, como consultoras de amamentação, pediatras e enfermeiras obstétricas, pode transformar a experiência da mãe, tornando-a mais segura e positiva. Familiares também desempenham um papel essencial, oferecendo suporte emocional, ajuda com a casa e cuidados com o bebê.
“Cada mãe tem seu tempo e suas particularidades. A escuta acolhedora e o respeito ao seu momento são fundamentais para que ela se sinta fortalecida. Pressões e julgamentos só dificultam o processo”, reforça Bruna.
O que diz a OMS
A Organização Mundial da Saúde recomenda que todos os bebês sejam alimentados exclusivamente com leite materno até os seis meses de vida, ou seja, sem água, chás ou qualquer outro alimento. A partir do sexto mês, outros alimentos devem ser introduzidos, mas a amamentação deve continuar até os dois anos ou mais.
Estudos apontam que o aleitamento materno tem o potencial de salvar mais de 800 mil vidas infantis por ano em todo o mundo, se for realizado de forma adequada e universal.
Aleitamento é um direito
Além de um ato de amor e cuidado, amamentar é um direito garantido por lei. Locais públicos e privados devem respeitar e permitir que mulheres amamentam quando necessário, sem restrições. A legislação brasileira também assegura licença-maternidade e intervalos para amamentação no trabalho, além da existência de salas de apoio à amamentação em empresas com número elevado de funcionárias em idade fértil.
Promover e proteger a amamentação é investir na saúde pública, no desenvolvimento social e na qualidade de vida das próximas gerações.
*Estagiária Laís Lima, com supervisão de Ana Borges
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