2021: o ano da resiliência e da volta por cima para muitos

A arte de lidar com imprevistos e mudanças de cenários fez diferença na vida de quem conseguiu chegar ao final do ano com motivos para comemorar
quinta-feira, 30 de dezembro de 2021
por Christiane Coelho, especial para A VOZ DA SERRA
A loja de vinhos tem planos de expansão (Fotos de acervos pessoais)
A loja de vinhos tem planos de expansão (Fotos de acervos pessoais)

O ano de 2021 começou com insegurança e incerteza do que vinha pela frente. Ainda sem vacina aprovada no país, casos da Covid-19 e de mortes pela doença aumentaram, com fechamento e restrições das atividades econômicas e desempregos. Mas, mesmo em meio a um cenário tão negativo, algumas pessoas conseguiram, não só ter esperanças, mas também se colocar em movimento para fazer um ano diferente. Mas, o que move pessoas assim? Uma palavra que passamos a ouvir muito e que faz diferença na vida das pessoas: a resiliência!

Para o psicólogo Geovane Corrêa, essa característica permite que se possa lidar com diferentes situações da vida de forma satisfatória. “A pessoa pode ser abalada, mas não de forma que a deixe derrubada definitivamente. O resiliente sabe ser flexível e lidar com os obstáculos que aparecem. Consegue dar um jeito e sair da situação de alguma forma. São pessoas com preparação psíquica mental que possibilita ir para essa batalha na vida e dar um jeito”, explicou ele.

A produtora de moda e gestora de redes sociais Ludmila Miranda (acima) tinha um trabalho com boa remuneração e reconhecimento. Mas em setembro de 2020, depois de passar por uma cirurgia de emergência, decidiu mudar o estilo de vida. “Estava sentindo dores abdominais há um tempo e fui ao pronto socorro. Chegando lá, descobri que meu intestino estava torcido. Fui às pressas para o centro cirúrgico porque corria o risco dele romper. Tirei 37 centímetros do intestino e um ovário. Depois de quase morrer, não queria voltar para a loucura que era a minha vida trabalhando dentro de uma empresa. Aí, me veio a ideia de montar algo que eu conseguisse atender a esses clientes como prestadora de serviço”, revelou.

Em fevereiro de 2021, Ludmila começou a atender os clientes. E fechou o ano com um saldo super positivo: 18 atendimentos, 45 ensaios realizados e 14 campanhas produzidas (abaixo). Comprou um carro, mobiliou a casa e, em 2022, pretende ampliar os negócios. “Eu tive muito medo, principalmente de vir uma nova onda que fechasse tudo e eu ficasse sem recursos. Mas, tenho vivido um mês de cada vez. Com cautela, mas acreditando muito que as coisas só vão melhorar”, disse ela, completando que “estar viva, ter meu trabalho e estar com saúde faz com que eu me sinta muito realizada. 2021 foi um ano muito abençoado para mim”, disse.

A esperança que move

O psicólogo Geovane Corrêa explica que pessoas que conseguiram se manter esperançosas e em atividade, inclusive começando coisas novas no meio desse processo de pandemia, são as que conseguiram enxergar possíveis alvos e se mantiveram em movimento para alcançá-lo. “Mas, a expectativa e a esperança têm que ser equilibradas. Não podem ser nulas, porque senão a pessoa fica parada, não faz nada, entra num processo de repetição e talvez de depressão. Mas também, se a pessoa coloca um alvo muito alto, excessivo, inalcançável, impossível, absurdo, fora da realidade, pode gerar grandes frustrações, com tentativas e gasto de energia, sem conseguir alcançar o alvo. Pode se machucar muito e também não conseguir lidar com isso. Tem que ser um meio termo. Eu vislumbro o alvo, eu posso tentar, mas sei que podem ter obstáculos, dificuldades, que levem a mudar o plano no meio do caminho. Pode ser que no final algo aconteça, mas que não tenha nada do plano original. O importante é saber ir se adaptando e se flexibilizando”, explicou ele.

Foi o que aconteceu com Eduardo Canto (abaixo), especialista em vinhos, da equipe do Château Vinhos, que abriu a primeira loja em 2016. Ele relata que o negócio estava caminhando bem. A marca estava enfim se tornando conhecida, a carta de vinhos estava cada vez mais consolidada e os clientes se mostravam satisfeitos. “O mês de março de 2020 se iniciou como tantos outros, estávamos reabastecendo os estoques de vinho para as vendas de inverno. A notícia de um vírus em uma região tão distante soava mais como sensacionalismo naquele momento. Até que fomos pegos de surpresa em meados do mês, e o “impossível” aconteceu. A equipe resistiu e não deixamos de trabalhar um dia sequer, procurando alternativas para sobreviver em tempos tão caóticos”, relembra ele.

Para encarar o novo normal, foi preciso se reinventar e reestruturar as redes sociais e partir para o e-commerce. “No primeiro dia dessa nova realidade não fizemos nenhuma venda, no segundo dia recebemos um pedido de uma garrafa de vinho, financeiramente parece pouco, mas emocionalmente foi muito importante.  Aos poucos o nosso esforço foi sendo recompensado. Durante a quarentena as pessoas ficaram em casa e desenvolveram novos hábitos, como o de cozinhar, e o vinho, como sabemos, é um ótimo companheiro à mesa. Historicamente a bebida também foi uma forte aliada para os momentos de tensão, aliviando o estresse e fazendo o tempo passar de forma mais agradável. Tais fatores contribuíram para que as vendas no setor deslanchassem e, como estávamos bem preparados acabamos potencializando esta alta do seguimento”, disse ele.

Além da loja e e-commerce, o Château Vinhos encerra 2021 com uma nova loja no bairro Cônego e, em breve, um restaurante anexo. “No início de 2020 a nossa equipe era composta por quatro pessoas, atualmente nosso time conta com 14 colaboradores, isso diretamente, pois consideramos como pertencentes ao grupo todos os prestadores de serviço e fornecedores. Podemos considerar que estamos realizados e sim, 2021 foi o nosso ano”, comemora ele.

Começando em meio à pandemia

Loucura para uns, visão empresarial e de oportunidades para outros. Abrir um negócio diferenciado em meio à pandemia foi o desafio encarado pelos sócios da Feitoria, Raphael Shuabb Alves, Felipe Alves do Espírito Santo e Bernardo Alves de Miranda. Um restaurante, no Espaço Arp, que trabalha com comida artesanal, feita com produtos não industrializados e livres de transgênicos, a Feitoria foi inaugurada em março de 2021. Além do atendimento presencial, o delivery é uma alternativa para as restrições impostas pela pandemia da Covid-19. E outro fator também pesou no crescimento da empresa. “Nós três temos experiência de 20 anos de mercado no ramo de alimentos e bebidas. Isso nos trouxe confiança para encarar a pandemia”, revelou ele.

Outro friburguense que se pôs em movimento para realizar seu sonho, em meio à pandemia foi Marcos Marins (abaixo), que abriu a Casa Osório em julho de 2021. Ele já tinha em mente abrir um local diferenciado na cidade há cinco anos e iria começar em 2020, quando veio a pandemia. “Eu decidi começar quando senti que haveria a retomada do setor”, disse ele. A obra foi iniciada em janeiro e inaugurada em julho.

Formado em Administração e com o primeiro emprego em uma incubadora de empresas, Marins sempre gostou das temáticas de gestão, empreendedorismo e inovação. “De fato, quando falamos de ter um negócio próprio no Brasil é uma meta especialmente difícil de realizar. O momento em que rompi a barreira do sonho / vontade para a realização foi quando senti que todos os fatores colaboraram para o sucesso do projeto, mesmo não tendo todos os recursos necessários e ainda aperfeiçoando a casa todos os meses para ficar da forma que gostaria. Em resumo, o que principalmente me levou a empreender? A vontade de ser cliente – em Nova Friburgo - de um espaço criativo e diversificado como a Casa Osório 36 (abaixo). Como não consegui enquanto cliente, precisei ‘me tornar’ o empreendedor,” revelou ele.

Apesar do medo e da insegurança que uma nova onda da Covid-19 venha, ele segue confiante. “Independente dos desafios, faremos de tudo para melhorar sempre. Me sinto realizado em mais um objetivo alcançado. 2021 foi um ano muito difícil para todos nós, inclusive para empreender. Com certeza foi um ano muito importante na minha vida para iniciar novos projetos e propósitos, me aproximando também de pessoas e ideias em que eu verdadeiramente acredito”, revelou ele.

Crescimento no número de empregos

Com a abertura de novos negócios e esperança de crescimento dos já existentes, Nova Friburgo fechou 2021 com saldo positivo na criação de empregos.  A cidade acumula 2.855 novos postos de trabalho formais de janeiro a novembro de 2021, um bom cenário, se comparado com o ano anterior, que teve menos 863 postos de trabalho. 

Uma das pessoas que conseguiu se recolocar no mercado de trabalho foi Fernanda Moraes Marcelino (abaixo), de 29 anos, casada e mãe de três filhos. Ela perdeu o emprego e nem esperou terminar o seguro desemprego para correr atrás de outro. Começou a trabalhar na empresa que presta serviço de limpeza e segurança do Espaço Arp no dia 20 de dezembro. “Para mim foi um presente de Natal. Uma felicidade entrar o ano novo empregada, com esperança de que tudo melhore”, disse ela.

Mas, e quando a gente se paralisa?

Enxergar o futuro com esperança em meio ao turbilhão não é tarefa fácil. Cada ser humano é único e fruto das suas vivências e experiências. Nem todos têm estrutura para se levantar depois de um tombo. “Essa estruturação psíquica vem de infância, de como foi criado, como foi ensinado a ver as situações da vida, as respostas que vai dando às situações que aparecem. Algumas pessoas são mais resilientes, outras menos. Recomendo sempre terapia, onde se aprende a ser mais resiliente, mais forte diante das situações, a encontrar caminhos e formas de não ficar tão abalado quando acontece alguma situação”, explica o psicólogo Geovane Corrêa.

E o ano de 2021, com suas incertezas e inseguranças, fez com que muitas pessoas entrassem em processo depressivo e se paralisassem. Esse cenário deve ser levado em conta, quando há a necessidade de se reinventar. “Muitas vezes, pessoas em depressão estão tão voltadas para dentro, para as questões interiores que não conseguem ver possibilidades externas também. Geralmente essas questões interiores são sempre para o lado mais negativo, mais sombrio. Então, é muito pessimismo, muito negativismo. Nunca há otimismo e esperança de que algo possa dar certo, sempre tendendo a achar que vai dar errado. Além de achar melhor nem começar porque não vai dar certo, não se enxergam possibilidades, porque não está olhando pra fora. Já o ansioso, geralmente está vendo vários desses caminhos, mas se assustam com a possibilidade de dar errado. Ficam pensando  lá na frente, no que pode vir a acontecer. E isso vai se embolando e deixam de focar no caminho principal, que pode ser o que leva em direção a esse alvo, um caminho mais certeiro, de foco, concretude. Ficam perdidos e cegos por possibilidades que ainda não aconteceram. Em ambos os casos, há necessidade de tratamento para o recomeço ou a continuidade de projetos”, esclarece o psicólogo.

Para Geovane (acima), é muito importante ter resiliência e esperança, mas em equilíbrio. “Algumas pessoas acreditam que só há necessidade de ter foco e meta na vida e que tem que ser forte o tempo todo, não permitindo ser fraco nunca. Mesmo sendo resiliente, a gente vai ser fraco em alguns momentos e não tem problema nenhum em admitir e sentir isso. Viver a dor, o luto de uma perda faz parte do processo e é importante para se reerguer. Mas a gente não pode ficar nele para sempre, a gente precisa depois de experenciar a dor, entender que a vida continua, e que a gente precisa encontrar outras formas de seguir em frente, não pode ficar ali paralisada na situação desagradável que aconteceu”, disse o psicólogo.

Ainda segundo ele, há ainda pessoas que têm uma expectativa muito alta sobre si mesmas, se cobrando demais. “Geralmente são pessoas que passaram a se cobrar porque foram cobradas por outros e internalizaram esse processo. Ninguém precisa cobrar mais, ela já se cobra e acha que precisa chegar a um alvo muito alto de qualquer jeito. E como o alvo é muito alto, pequenas conquistas, pequenos degraus dessa escada enorme, não são valorizados e reconhecidos. Então, a pessoa está sempre insatisfeita, porque nunca valoriza a pequena conquista. Se a cada dia, ela valorizar um pequeno passo, poderá ter uma vida mais leve e feliz, porque passa a entender que aquilo é parte do todo. Se a gente ficar só feliz e satisfeito quando atingir o alvo é difícil. Essas pessoas, mesmo se chegarem ao alvo, vão continuar insatisfeitas, porque ao alcancerem o alvo, vão estabelecer outro mais alto, e vão querer mais, mais e mais. A gratidão diária e por pequenas conquistas é muito importante”, aconselha o psicólogo.

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TAGS: negócios