Notícias de Nova Friburgo e Região Serrana
O medo e o fantasma que assombra

Camilla Fiorito
Conversas de Dentro
Camilla é friburguense e psicopedagoga. Adora escrever e trabalhar com desenvolvimento socioemocional. Nesta coluna, escreve sobre os encontros entre o social e o emocional - espaços onde a vida, por vezes, nos pede pausa, coragem e escuta.
O medo é uma sombra silenciosa que se insinua entre as frestas da alma, que chega como um vento gélido em um dia ensolarado.
É como um visitante inconveniente. Não bate à porta, invade casa adentro e se instala, preenchendo os cômodos internos com incertezas e temores, onde, muitas vezes, se disfarça e se guarda em silêncio.
Sentir medo é como carregar um espelho arranhado, sujo e mal cuidado. Olhamos para a nossa vida, mas a visão se torna turva, como se a realidade não estivesse ao nosso alcance.
O coração sofre, então, se encolhe como um pássaro receoso, que não consegue voar com a asa quebrada. Assim, a emoção deixa de ser livre, fluida e passa a ser como água represada, em que a correnteza se perde e não consegue achar o caminho para seguir.
Dentro das nossas relações sociais, o medo se transforma em um muro invisível, às vezes, imperceptível. Uma distância cristalina e frágil permanece. Como vidro que permite ver, mas não tocar. Palavras ficam presas, um nó na garganta se forma, como se cada sílaba pudesse começar uma tempestade ou um grande tornado.
Nos faz medir gestos, rever passos, recalcular falas e ensaiar sorrisos que não geram flores nem na terra mais fértil. No fundo, o desejo de ser aceito luta contra o medo de ser julgado, e essa batalha silenciosa desgasta mais do que qualquer conflito declarado.
Com isso, em alguns momentos, mostramos ao mundo um lado que não é o nosso, tentando esconder fragilidades que poderiam nos aproximar uns dos outros. Assim, o medo cria isolamento em meio à multidão, fazendo com que os corações se mantenham distantes. É como a famosa fala que cada um de nós já ouviu inúmeras vezes sobre estar cercado de pessoas e, ainda assim, se sentir só.
Mas, além desse ponto, o medo também esconde um segredo que nem sempre é revelado. Em sua essência, ele aponta para o que mais valorizamos.
Temos medo de perder o que e quem amamos, medo de não sermos vistos por inteiro, medo de revelar a nossa alma nua e crua. E enfrentá-lo não significa apagá-lo, mas reconhecê-lo como parte das nossas emoções, que sentimos dia após dia.
Quando ousamos atravessar os muros que o medo ergue, descobrimos que a vulnerabilidade é apenas uma ponte. Que ao nos expormos e nos despirmos com sinceridade, o que parecia ameaça pode se transformar em encontro.
Percebemos, então, que o medo faz parte da nossa vida, da nossa história, de quem nós somos e que ele possui seu lado positivo e negativo. Isso nos convida a ter percepções mais atentas, a caminhar com mais delicadeza e a encontrar coragem dentro do caos que ele forma e paralisa, para que possamos seguir firmes e confiantes, mesmo diante de tudo que ele transborda.
Até a próxima quarta!
……..
Contato
Site: www.camillafiorito.com.br
Instagram: @camilla.fioritoeduc

Camilla Fiorito
Conversas de Dentro
Camilla é friburguense e psicopedagoga. Adora escrever e trabalhar com desenvolvimento socioemocional. Nesta coluna, escreve sobre os encontros entre o social e o emocional - espaços onde a vida, por vezes, nos pede pausa, coragem e escuta.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
Deixe o seu comentário