Levantamento sobre a utilização de vacinas no Brasil mostra que o Governo Federal deixou vencer 58,7 milhões de imunizantes desde 2023. Para especialistas, a alta pode ser resultado de erros na gestão, como compra de produtos perto do vencimento, até ao crescimento de movimentos antivacina. O Ministério da Saúde (MS) atribuiu parte das perdas a doses recebidas da administração passada.
Para especialistas houve erros, como compra de produtos perto do vencimento e crescimento de movimentos anti-vacina
Dados do ministério obtidos por meio da Lei de Acesso de Informação (LAI) apontam que o valor perdido com as vacinas inutilizadas em 2023 e ao longo deste ano, foi de R$ 1,75 bilhão, um recorde desde os quatro anos do 2º mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando o prejuízo acumulado foi de R$ 1,96 bilhão. A maior parte das perdas de vacinas ocorreu em 2023, com 39,8 milhões inutilizadas, somando prejuízo de R$ 1,17 bilhão, enquanto de janeiro deste ano até agora foram mais de 18,8 milhões sem uso, o que já custou R$ 560,6 milhões aos cofres públicos.
O MS afirmou ter encontrado imunizantes contra Covid-19 já com prazo expirado, no início do atual governo. “As vacinas vencidas em 2023 foram reflexo de estoque herdado da gestão anterior e campanhas sistemáticas de desinformação que geram desconfiança sobre a eficácia e segurança do imunizante, impactando na adesão da população”, afirmou a pasta, em nota.
Além do número maior de vacinas perdidas, proporcionalmente a atual gestão desperdiçou mais doses do que utilizou. Foram 217 milhões de aplicações desde o ano passado. Ao mesmo tempo, outras 385 milhões tiveram que ser descartadas, 176% a mais.
Já no governo Bolsonaro, que resistiu a comprar imunizantes no início da pandemia, essa proporção foi de 150%, com 575 milhões de doses vencidas, ante 384 milhões usadas. Cada unidade de vacina pode contemplar mais de uma dose, a depender da indicação do fabricante. Um frasco do imunizante contra Covid-19, da Pfizer, por exemplo, possui dez doses na sua versão pediátrica e seis na adulta.
Cresce cobertura vacinal contra DTP e outras doenças
As vacinas contra Covid respondem por três de cada quatro das que foram descartadas. Enquanto isso, 80,62% da população não tomou a segunda dose de reforço contra a doença. Presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia, a médica Margareth Dalcolmo aponta que os lotes recebidos perto do vencimento e a baixa procura da população pelas vacinas são fatores que levaram às perdas dos imunizantes.
“Tivemos uma baixa adesão, inclusive de Covid-19, que foi um desastre. Esse fluxo de vacina é muito lento. A logística é muito complexa”, afirmou Dalcolmo, escolhida pelo governo Lula como embaixadora da imunização no país.
O desperdício, porém, não se restringe às vacinas contra Covid. Outros imunizantes também foram descartados, como o DTP (contra difteria, tétano e coqueluche) — 16,5% do total fora da validade —, febre amarela (3,5%), e meningocócica (1,8%).
O desperdício ocorre apesar do aumento na cobertura vacinal dessas doenças. A da DTP, por exemplo, passou de 64,4% da população imunizada em 2022 para 87,5% em 2024. A da febre amarela foi de 60,6% para 75,4%. E da menigocócica, de 75,3% para 95,3%.
Epidemiologista e ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde, Carla Domingues, diz ser preciso ter mais busca ativa de crianças e outros públicos alvos. “Se ficar esperando as crianças passivamente vai ter perda de vacina. A cobertura melhorou, mas a maioria ainda não atingiu a meta de 95%”, reiterou Domingues.
(Fonte: O Globo)
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