Luzes de Natal

Wanderson Nogueira

Palavreando

Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.

sábado, 23 de dezembro de 2023

Peito aberto para as lembranças que passeiam, velozmente, por uma avenida repleta de luz. Lembranças de reuniões de família, união de amigos e canções. Não há época em que o ser humano é mais humano que no Natal. A ingenuidade invade e as declarações de amor se revelam em abraços e cartões. 

Não há preocupação com estar mais vulnerável, simplesmente isso não importa. Você está ali para os outros e os outros estão ali para você de peito aberto, coração escancarado para transbordar tudo aquilo que muitas das vezes se sente, mas se oculta.

Pudessem ser, todos os dias, dia de Natal. Mas nos convencemos de que os anjos, vestidos ou não de Papai Noel, só descem dos céus nesse dia. Na verdade, os anjos não descem do céu... Brotam da terra e moram na terra todos os dias do ano. Nem sempre se revelam ou são reconhecidos. 

É preciso mais ingenuidade. Ingenuidade de Natal. É necessário mais peito aberto. Peito aberto de Natal. Mais luz. Luzes de Natal. Iluminando essas extensas avenidas, adentrando todas as casas e todas as vidas. 

"Que o Natal existe, que ninguém é triste, que no mundo há sempre amor...” São canções que nos visitam, cantigas que nos lembram de que também já fomos crianças e por mais que sejamos adultos, há sempre dentro de nós um pouco daquela criança que jamais disse adeus. E é por isso que o coração ainda pulsa nessa frequência e estranhamente ainda entende o que é ser criança e o quão bom é estar criança. E assim, o Menino Jesus nasce outra vez!  

Os amigos deixam de ser secretos. No dividir e multiplicar, laços fortes são feitos e os nós que se prendem trazem a paz que não se pode ver, mas que é fácil sentir. Paz de um sorriso que se faz num abraço de abrigo e te traz um amigo que lhe é irmão. E, em declarações embriagadas, existe uma sobriedade que se pode entender como "Eu te amo. Tenho vergonha de lhe falar, mas como é Natal...” E assim, ser cristão tem sentido.

Na árvore de Natal, cartões e presentes. No íntimo de casa, a ceia é pretexto para ver de verdade os seus. Olhá-los nos olhos para perceber que não se pode ganhar o mundo lá fora, se dentro não se conquista aqueles que te conhecem como ninguém. Memória de Natais antigos, casa cheia, espera por Papai Noel. Aquele primo chato, aquela tia de dotes culinários fenomenais. Saudades de quem se foi... E assim, Cristo ressuscita com tudo aquilo que acredita: no amor e nas pessoas.

Não há época em que o ser humano é mais humano que no Natal. Pudessem ser, todos os dias, dia de Natal. Pudesse essa cidade estar vestida de luz todos os dias do ano, com os sinos badalando, os desconhecidos se saudando, os amigos se amando. Num tempo de entrega absoluta. Solidariedade. Em momentos de festa e paz. Irmandade. Com essa luz acendendo e ascendendo a todos os corações. 

O amor sempre vence o tempo. A verdade jamais some, pode até ser ocultada, porém, mais cedo ou mais tarde, será revelada. A luz se apaga, mas se estende por muitos séculos nos quilômetros do universo. A morte vence a vida, mas uma vida só se encerra quando sua história é esquecida. Anjos existem, só precisam ser reconhecidos. 

Que nossos dias possam se inspirar no Natal para que suas luzes se estendam nessas grandes avenidas. Se somos assim no Natal, por que não ser assim todos os dias?

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