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Pessoas contundentes x Pessoas reflexivas
Cesar Vasconcellos de Souza
Saúde Mental e Você
O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.
Um bom número de pessoas se torna contundente desde criança. E talvez seu irmão ou irmã, no mesmo ambiente familiar, age de forma diferente, com serenidade. O que faz esta diferença?
Por alguma razão algumas crianças reagem desde pequenas com atitude confrontadora, questionadora, opositora. Parece algo meio automático, tipo, pisou, levou. Em parte, isso é aprendido porque o pai ou a mãe podem ser assim e a criança copia este modelo confrontador. Mas é mais do que uma cópia. Isto porque nem todos os filhos daquela família copiam o mesmo comportamento dos pais e se tornam irmãos com atitudes semelhantes. Pelo contrário, irmãos criados num mesmo ambiente infantil podem ser bem diferentes em termos de personalidade.
As causas que explicam por que algumas crianças se tornam contundentes são variadas. Por contundente me refiro à tendência de questionar, confrontar os outros e, às vezes, até agir com agressão física, como a criança que bate em outras, morde, chuta. Pais nervosos, impacientes, contundentes passam esta postura para seus filhos e os que geneticamente possuem uma propensão para a agressividade, acabam desenvolvendo a atitude contundente que levam para a vida adulta.
Diante de um mesmo fator estressante em casa, uma criança de, vamos dizer, uns 5, 7 ou 9 anos de idade pode enfrentar os pais como se fosse um adulto, enquanto que seu irmão mais velho ou mais novo, pode ficar calado, e submisso. Mas não é necessariamente uma submissão passiva, doentia, e sim porque parece que aquela criança tem mais calma interna, mais serenidade, melhor controle emocional.
Não é fácil pai e mãe verem que o comportamento que seu filho ou filha possuem, bom ou mal, tem que ver com o comportamento deles, só do pai, só da mãe ou de ambos. Nestes casos é comum pegarem a criança chamada de “criança problema” e levá-la ao psicólogo, como se o “problema” da criança fosse algo que caiu do céu sobre ela e os pais não têm nada que ver com isso. Na verdade, eles têm sim porque podem possuir um jeito de ser disfuncional, difícil, contundente, impulsivo, que a criança copiou e repete. Por isso é importante que a família inteira receba orientação profissional em terapia e não só aquele membro dela que em psicologia chamamos de “paciente escolhido”.
A doença psicológica da criança é a doença psicológica da família como um todo. Então, é a família que precisa ser tratada nesta questão de ter uma criança contundente. Isto não quer dizer que os pais são culpados. Não é uma questão de quem é o culpado, mas que modelo os pais passam para um filho que provavelmente pela genética nasceu com propensão para ser uma criança rebelde, ou questionadora. Nestes casos junta-se a fome com a vontade de comer. Ou seja, os pais, um só ou ambos, dão péssimo exemplo de descontrole emocional, de contundência, de impulsividade nas respostas que saem irrefletidamente na maioria das vezes, e a criança absorve isso com força porque ela nasceu com a propensão de ser questionadora, impulsiva.
Parece que as pessoas contundentes gostam de ser assim. Conheço várias delas e percebo que muitas quando falam de seu jeito de ser questionador, esboçam um ar de superioridade. Não é errado questionar. Especialmente se você está sendo vítima de pessoas abusivas, sejam chefes abusivos, cônjuges abusivos ou em outros tipos de relacionamento. Questionar a maneira abusiva da pessoa agir com você é importante. O problema que gera relacionamentos desagradáveis é a pessoa ser predominantemente questionadora. Você nem terminou a frase e ela já está questionando. Isto é o contrário de uma pessoa reflexiva, que pensa antes de falar, pensa no que vai falar e pensa se vale à pena falar.
Parece que pessoas contundentes vivem estressadas e criam estresse nos seus relacionamentos. Parecem britadeiras. Para mudar para melhor o primeiro passo para elas é encarar que são assim. O segundo é desejar mudar. O terceiro é fazer algo para agir de forma diferente, com reflexão, lembrando que as pessoas não são um bloco de cimento que precisa ser quebrado por atitudes contundentes como a britadeira quebra o concreto.
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Cesar Vasconcellos de Souza – www.doutorcesar.com
Cesar Vasconcellos de Souza
Saúde Mental e Você
O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.
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