Notícias de Nova Friburgo e Região Serrana
Flores de outono
Wanderson Nogueira
Palavreando
Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.
Flores de outono sobrevivem ao inverno, reavivam na primavera e se despedem no verão para renascerem de novo. Pudera todos os amores serem assim: vindouros no inverno, apaixonados na primavera e reinventados em todos os verões. Os amores têm muito que aprender com as flores, e nós, com as estações.
As flores despedaçam, pois sua natureza é frágil. Não porque nasçam para voar a qualquer vento, mas porque são filhas do cuidado e sua beleza reside na capacidade resiliente de voar e se plantar em terreno de fértil imaginação para suas cores.
As estações mudam para cumprir o ciclo da vida, nunca estática e sempre dinâmica. Nem amiga ou inimiga da volatilidade, apenas adaptativa à complexidade que é insistir para garantir a existência.
Em tempos artífices em que frutas são possíveis em qualquer estação, flores e amores seguem, no entanto, o rito poético de, ainda que pecar, não transgredir o sentido de suas razões de serem como são.
E somos como somos: viajantes no tempo que nos cabe. Ao não saber a quantidade de cada estação que teremos, cabe o bom conselho de viver intensamente cada uma delas. O mais interessante é que aprenderemos a gostar de aspectos que não notávamos e sentiremos saudades de cotidianos que aproveitamos menos do que deveríamos. Se percebêssemos enquanto a mágica acontece, nosso talento contemplativo nos visitaria mais... Por mais diversos que sejam os desenhos que as nuvens fazem nunca se repetirão com as mesmas curvas e traços.
Choraremos sempre diferente, ainda que por motivos semelhantes. Porque a lágrima da primavera futura já acumula a experiência do choro do outono passado. A vida só sabe seguir para frente, ainda que nem sempre em frente.
Saberemos então sermos folhas que secam no chão para alimentar raízes que logo serão novas árvores. Sermos água que corre nos carnavais do verão para cristalizar no gelo do frio que atenta à ausência do calor.
Sermos cores variadas que salpicam as paisagens para, quem sabe, sermos fotografia que se aprecia nos salões das grandes exposições. Talvez aí se possa fazer entendimento que boas fotos necessitam de luz. Desse brilho que só os olhos podem ter. Dessa alegria e agonia de ser efêmero, tanto quanto memória.
Poeiras de estrelas não causam alergia a quem ousa respirá-las. Céus de inverno também. Mas as flores de outono são teimosas, pois driblam a finitude de tudo na sina da reinvenção para além de sua própria estação.
Afinal, flores de outono sobrevivem ao inverno, reavivam na primavera e se despedem no verão para renascerem de novo.
Wanderson Nogueira
Palavreando
Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.
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