Cheio de histórias, basquete friburguense ganha fôlego para se reerguer

Casa da Seleção Brasileira será montada no Ginásio do Sesi, que passará por obras de adaptação
quarta-feira, 26 de janeiro de 2022
por Vinicius Gastin
União Basketball foi uma das tentativas recentes de recolocar Nova Friburgo em alto nível nas competições
União Basketball foi uma das tentativas recentes de recolocar Nova Friburgo em alto nível nas competições

O basquete municipal vibra. E Nova Friburgo também. No último dia 9 de dezembro foi assinada a parceria entre a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), através do Sesi, e a Confederação Brasileira de Basketball (CBB) que promete transformar o município na cidade do basquete no Brasil. A casa da Seleção Brasileira de Basquete será montada no Ginásio Esportivo Frederico Sichel, do Sesi, no distrito de Conselheiro Paulino. A estrutura passará por obras de adequação para comportar os treinos e competições de grande porte, além de projetos sociais na área de esporte e saúde.

O União Basketball foi uma dessas tentativas recentes de reerguer a modalidade em alto nível. Criada para disputar a Liga Super Basketball em 2017, competição que reúne diversas equipes de todo o Estado do Rio, o União teve o caminho interrompido por dificuldades, retomou as atividades em 2018 e conseguiu o acesso para a disputa da Liga A. Contudo, dificuldades financeiras e estruturais impediram a continuidade do projeto.

Um dos idealizadores do União Basketball, Diogo Soares, se uniu a Calebe Ambrósio e juntos, em 2019, promoveram o Campeonato Estudantil Friburguense de Basquete (Cefriba) – com a promessa de nova edição este ano. O torneio reuniu equipes de algumas escolas do município em duas categorias, utilizando sedes diferentes a cada rodada (acima).

Um pouco da história

Todas essas tentativas vão ao encontro de uma trajetória de glórias, que surgiu durante o período da Primeira Guerra Mundial, junto ao Sanatório Naval. A sede militar era a principal alternativa para tentar recuperar os marinheiros com tuberculose, doença para qual não existiam remédios à época. Junto à estrutura do Sanatório foi construída uma quadra poliesportiva.

Os marinheiros do Rio de Janeiro trouxeram para a cidade a nova modalidade, já praticada na capital fluminense. Na década de 1940, existiam apenas três quadras de basquete em Nova Friburgo, nas sedes do Esperança, Friburgo e Fluminense A.C. Nestes locais, onde o futebol era o carro-chefe (e começava a despontar como grande paixão nacional), o basquete ganhou espaço e passou a ser praticado.

O Clube de Xadrez usava a quadra do Fluminense e a partir dali surgiu uma geração de grandes jogadores. A Sociedade Esportiva Friburguense também despontou com uma equipe forte, formada por Ido Rodriguez, Carvalho, Rubey, Benício Valladares, Gil Cariello, Filadelfo e Lair Macedo, o Salame, para muitos o maior jogador de basquete que a cidade já teve. À época, o clube se resumia a uma quadra de basquete, um campo de forceball e o salão social. Por isso, apenas Bazet trabalhava na manutenção do clube.

A década de 1950 foi considerada como a do apogeu dos esportes amadores de Nova Friburgo. O vôlei municipal, por exemplo, contava com oito equipes. No basquete, os primeiros campeonatos foram disputados no município às terças e quintas-feiras. Às quartas e sextas, as tabelas davam lugar às redes para o voleibol masculino e feminino. As fábricas, especialmente a Rendas Arp, possuíam um quadro recreativo extenso, presidido pelo pai de Paulo Velinha — considerado um dos atletas mais talentosos do basquete friburguense de todos os tempos.

Anos depois, a Ypu montou uma equipe forte, que praticava um basquete mais técnico, estilo europeu. O foco que antigamente se concentrava na rivalidade entre os clubes Xadrez e SEF (Sociedade Esportiva Friburgunse) passou a ser Ypu e Rendas, dono de um estilo mais criativo e solto para jogar. Outras agremiações como o Celf (Clube Esportivo Literário Friburguense) de Benício, Gil e Ailton Vavá, surgiram para compor o cenário esportivo da cidade. No campo do Friburgo, o Yanke foi fundado e o Filó também passou a ter uma equipe.

A época de ouro do basquete friburguense prosseguiu até o início da década de 1960. Os campeonatos eram tão disputados a ponto de a Rendas Arp pagar jogadores de fora da cidade, como o pivô Cabeção e dois atletas da Seleção de Niterói. O Clube de Xadrez não deixou por menos e contratou atletas de campo, expandindo a rivalidade existente entre as duas equipes.

 A construção do ginásio Celso Peçanha (anexo ao atual Instituto de Educação de Nova Friburgo – Ienf) também marcou a história do basquete. Pouco tempo depois da inauguração, um jogo especial foi lembrado com carinho pelos amantes deste esporte. O Flamengo de Canela, decacampeão invicto do Rio de Janeiro e base da Seleção Brasileira com oito jogadores, esteve na cidade para enfrentar a Seleção de Friburgo e venceu por apenas um ponto. No ginásio foram realizados diversos amistosos importantes que incentivaram a criação de outros espaços esportivos como aquele.

Novas opções de entretenimento começaram a surgir e atraíram, inclusive, os cartolas e abnegados do esporte na cidade. Com o passar do tempo, o basquete como um todo encareceu e a prática ficou restrita a determinados grupos. Tais histórias e muitas outras ficaram eternizadas no tempo.

O basquete de Nova Friburgo voltou a ter alguns outros bons momentos nos anos 90, com a formação da vitoriosa equipe do Nova Friburgo Country Clube. A cidade revelou diversos atletas, mas a estrutura e os investimentos no município não acompanharam o desenvolvimento do esporte, que voltou a ficar decadente.

 

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TAGS: basquete