Quem celebramos e por que celebramos, mas quem somos?

Wanderson Nogueira

Observatório

Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna às terças e quintas.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

​Todo final de ano é assim e por mais que se assemelhem, todo 25 de dezembro é a mesma retórica. Famílias, amigos, colegas de trabalho, igrejas se reúnem para, em comunhão, celebrar o nascimento do menino pobre que nasceu em uma manjedoura, cujo enredo de sua história seria improvável.

Celebram o salvador, o ser mais importante de todos os tempos, mas também o exemplo e o que representa. O problema é que muitos não sabem o que representa e tantos outros que até sabem, não praticam o que Ele representa. Nem no dia 25 de dezembro, tampouco nos demais dias do ano. Estar com quem se gosta, ser solidário, fazer sua oração são maneiras dessa experiência de ser cristão, mas é muito pouco, próximo do mínimo. 

Sem querer ter propriedade da verdade, diria que Cristo lamente tantos que usam Seu nome em vão. E não preciso ser teólogo para dizer que Cristo segue sendo crucificado todos os dias, cada vez que usam suas palavras para atacar o próximo ou determinar o que é vida plena para quem sequer se conhece.

Usam inapropriadamente seu nome em vão os que são racistas. Historiadores já cravam certeza há tempos: Jesus não era branco. Usam inapropriadamente seu exemplo em vão os preconceituosos: Jesus era acolhedor. Usam inapropriadamente seu nome em vão os que apontam a fé alheia e dizem que só a igreja salva: Cristo foi crucificado pelos religiosos de sua época. Usam inapropriadamente seu exemplo em vão os que apontam arminha com a mão: Jesus era um ser de paz, ainda que enfrentasse o sistema da época. Não à toa, Leighton Ford e tantos outros escritores e estudiosos dizem: Jesus foi o maior revolucionário de todos os tempos. O maior psicólogo também, diz Baker.

Porque Jesus, o ser de luz, mas também o homem que conviveu com a humanidade, fez escolhas que pareceriam impactantes para os que se dizem muito cristãos nos dias de hoje. Ele escolheu os excluídos. Ele ouvia, compreendia e entendia os que não eram ouvidos, os invisíveis. Combatia a hipocrisia tão em voga em boa parte dos moralistas que vendem teorias de prosperidade com base no medo. Jesus nunca foi medo, foi sempre afeto. Jesus pregou liberdade, vida e amor sem limites. Então, pergunto: qual Cristo você celebra?

Celebra porque sabe da grandeza de todos os seus feitos entre milagres e escolhas cotidianas? Que cristão é você? Quem temos sido? Quem somos?

Precisamos responder em uma autoavaliação sincera. Daí perceber e entender que ser cristão não é fácil, mas que é preciso tentar de todo o coração. Ser e praticar. Indagar também, pois é indagando que o mal é desmascarado. Inclusive o mal que reside em nós mesmos ou nos é manipulado a disseminar.

São mais de dois mil anos de sonho de paz, amor, vida plena, harmonia.

Com tantas atrocidades cometidas ao longo dos séculos, não é possível que não tenhamos aprendido com a dor de nossos ancestrais. Tantos erros para que não os cometamos mais. Essa é a verdadeira evolução. Aprender com o passado para fazer diferente. Por isso Jesus Cristo veio e é por isso que habita em nós. Mas precisamos experimentar verdadeiramente o que Ele pregou e praticou.

Não separo os bons cristãos, pois para mim bondade e cristianismo são pleonasmos. Logo, se cristão é - é bondoso. Se não é bondoso e diz ser cristão - não é cristão.

De tal maneira que Jesus Cristo é fé, mas também sentimento. É história, mas também filosofia. Está acima das religiões que o tem como salvador. Vive no coração e na prática. É essa força presente no Natal. Mas isso é pouco, pois se estende em todas as coisas do cotidiano nosso de cada dia. E é aí que Ele realmente se sente celebrado: no dia a dia, para além de todo 25 de dezembro, especialmente, nos dias mais corridos e menos observados, naquilo que fazemos quando ninguém vê. Porque é longe da plateia, da espera por aplausos, das efemérides que se mostra quem realmente somos. Cristãos?

É com essa reflexão que deixo meu feliz natal a todos! Que celebremos o Cristo vivo e que pede para reger os nossos corações!

           

 

Publicidade
TAGS:

Wanderson Nogueira

Observatório

Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna às terças e quintas.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.