Raul Sertã: “fomos mandados embora que nem lixo”, diz ex-funcionário da limpeza

Prefeitura informa que vai quitar salários atrasados dos demitidos
sexta-feira, 07 de maio de 2021
por Guilherme Alt (guilherme@avozdaserra.com.br)
(Foto: Henrique Pinheiro)
(Foto: Henrique Pinheiro)

Os funcionários contratados no sistema RPA (Recibo de Pagamento a Autônomo) para realizar os serviços de limpeza do Hospital Municipal Raul Sertã foram demitidos no último fim de semana. Segundo um dos ex-funcionários, a decisão da prefeitura foi tomada após a intensificação da cobrança de salários atrasados. Por três vezes, eles chegaram a paralisar as atividades.

De acordo com este ex-funcionário, não houve aviso prévio informando que eles seriam dispensados. “Não houve reunião, nem um comunicado oficial. Fomos informados (da demissão) por colegas. Não houve sequer um agradecimento pelos serviços, por termos trabalhado sem receber. Fomos mandados embora que nem lixo”, reclamou.

Ainda segundo o ex-funcionário, muitos trabalhadores que contraíram a Covid-19 durante a vigência do contrato e tiveram que se afastar, mesmo com atestado médico, não irão receber integralmente. “Eu, por exemplo, fui infectado pelo coronavírus e não vou receber pelos dias em que fiquei de atestado. Outra colega minha precisou ser internada, ficou com 75% do pulmão comprometido e não vai ganhar praticamente nada. Todos temos contas a pagar. Estou devendo aluguel e não recebi ainda”, cobrou.

Um vídeo feito por funcionários do Raul Sertã que mostra enfermeiras realizando faxina em um dos setores ganhou as redes sociais e motivou uma visita do Conselho Regional de Enfermagem do Rio de Janeiro (Coren) para realizar uma vistoria no hospital. Em entrevista ao telejornal RJ-TV, da Rede InterTV, a secretária de saúde de Nova Friburgo, Nicole Cipriano, informou que a limpeza realizada pelas enfermeiras foi feita por livre e espontânea vontade. 

“Aqueles funcionários fizeram o vídeo por eles, porque se sentiram incomodados com a falta de limpeza, que hoje está com um número menor de profissionais, mas em hipótese nenhuma esses profissionais são solicitados e nem deve fazer isso. Foi uma ação espontânea”, esclareceu.

A Prefeitura de Nova Friburgo, através da Secretaria Municipal de Saúde, informou que a limpeza do Hospital Raul Sertã está sendo realizada por cerca de 50 funcionários que estavam em desvio de função, ou seja, estavam desempenhando outras funções no funcionalismo municipal.

Conforme orientação da Subsecretaria Municipal de Recursos Humanos, esses funcionários deixaram os cargos que estavam ocupando para assumirem os cargos para os quais foram contratados. Por fim, a Prefeitura de Nova Friburgo informou que os funcionários da limpeza demitidos prestaram serviço por dois meses, por vínculo de RPA. “Essa semana será feito o pagamento do segundo mês trabalhado, findando qualquer tipo de vínculo com esses trabalhadores, que não serão recontratados”, afirmou a prefeitura, em nota.

Nova ala do Raul Sertã pode ser usada para ampliar leitos de UTI

Segundo o defensor público, Cristian Barcellos, a prefeitura foi alertada que a quantidade de leitos de UTI destinados ao tratamento de Covid-19 em Nova Friburgo ainda é pequena e espera que a nova ala do hospital, quando inaugurada, possa ser usada para aumentar a oferta.

“Não há dúvidas de que 20 leitos de UTI para uma cidade do tamanho de Nova Friburgo, neste momento tão crítico, ainda é pouco. Não podemos esquecer que o município recebe pacientes de toda a região, cujos hospitais não dispõem de UTI. Inicialmente, eram apenas dez leitos e posteriormente o Estado passou a se responsabilizar por outros dez leitos. Com o fim do convênio, o Estado passou a co-financiar os 20 leitos, mas sem atuação direta sobre eles. É necessária uma ampliação desses leitos, o que se espera com a inauguração de uma nova ala no hospital.”, disse à reportagem do RJ-TV.

No relatório, a Defensoria diz ainda que por conta do aumento do número de casos, a faixa etária das pessoas internadas é composta de pessoas mais jovens, os casos ficaram ainda mais graves e, com isso, houve uma sobrecarga a uma unidade que já operava acima de sua capacidade.

 Secretária confirma dificuldade na contratação de médicos

“Ainda encontramos dificuldade com a mão de obra médica.”, afirmou Nicole ao telejornal, referindo-se ao alertado pelo relatório da Defensoria. Segundo o órgão, os baixos salários é um dos principais motivos pela baixa adesão dos profissionais. “No momento estamos impossibilitados de realizar um concurso público e chamamos profissionais que estavam em aguardo de processos precários. Os salários que eram contemplados, e a gente tem que manter, realmente estão abaixo do mercado. O município vem trabalhando com a possibilidade de contratação de RPA, em que podemos oferecer um salário maior. A contratação nesse modelo é temporária e os preços são mais competitivos. Qualquer profissional médico que queira ingressar no município, pode se apresentar na secretaria ou no hospital “, convocou a secretária.

No relatório, a Defensoria Pública apontou ainda uma série de problemas estruturais, como o descarte irregular de materiais, alas de Covid estavam com janelas abertas, mofo e falta de enxoval. “Tudo isso confere e acontece já há algum tempo. Com a nova lavanderia temos a possibilidade de controle de enxoval, temos processo em andamento para aquisição de enxoval novo, o mofo é uma existência permanente no hospital, uma vez que a unidade tem mais de 100 anos e é preciso ser feita uma obra. Estamos trabalhando para a recuperação da rede elétrica – que é antiga também –, como o reparo de mofos em paredes para poder dar um ambiente mais agradável e correto para a população”, finalizou a secretária.

 

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