Desde julho de 2019, Nova Friburgo conviveu com as obras e ajustes da chamada Via Compartilhada, uma espécie de ciclovia que corta algumas das principais ruas e avenidas do centro de Nova Friburgo. Uma das últimas etapas foi a instalação de divisórias pré-moldadas no trecho entre a ponte da Rua Sete de Setembro e a esquina com a ponte da Rua Padre Yabar. O trabalho contemplou um trecho de aproximadamente 400 metros, e gerou inclusive algumas polêmicas no município.
O trecho compartilhado, sem divisão entre faixa para ciclista e para pedestre, se estende do trevo de Duas Pedras até a Rua Padre Yabar, onde começa a ciclovia, exclusiva para ciclistas, que contorna uma faixa da Avenida Euterpe Friburguense até a ponte da Rua Sete de Setembro. Já a via partilhada se estende da ponte da Rua Sete de Setembro até a altura da Igreja Luterana, no Paissandu, pelas avenidas Galdino do Valle Filho e Comte Bittencourt.
A conclusão do serviço e o início da utilização desses espaços por ciclistas exige harmonia entre todos aqueles que irão transitar por esses espaços. De acordo com levantamento realizado pela Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), quase 13 mil internações hospitalares causadas por atropelamento de ciclistas foram registradas no Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2010.
Todos os anos são gastos R$ 15 milhões para tratar ciclistas traumatizados em colisão com motocicletas, automóveis, ônibus, caminhões e outros veículos de transporte. Além disso, na última década 13.718 ciclistas morreram no trânsito após se envolverem em alguma ocorrência, 60% delas em atropelamentos.
"No trânsito, o maior deve sempre cuidar do menor, ou seja, o carro motorizado deve ter o cuidado maior com o ciclista. É fundamental que conheça as regras de trânsito e cumpra as regras de trânsito. Devem evitar transitar por vias que não oferecem infraestrutura adequada ou sem equipamentos de segurança previstos em lei, como de proteção individual, lanternas, campainhas e espelhos retrovisores", alerta Antonio Meira Júnior, presidente da Abramet.
Os dados do Sistema de Informações Hospitalares (SIH) e do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), ambos do Ministério da Saúde, mostram que o número de atendimentos hospitalares desse tipo de ocorrência aumentou 57%, passando de 1.024, em 2010, para 1.610, em 2019. Só neste ano, até junho, pelo menos 690 internações foram registradas no SUS. Segundo o levantamento, 84% dos ciclistas internados eram do sexo masculino e metade dos ciclistas internados tinha entre 20 e 49 anos de idade.
Mesmo com redução do volume de veículos nas ruas e do isolamento social adotado em todo o país devido à pandemia, o número de internações de ciclistas acidentados continuou alto no primeiro semestre. Na comparação com igual período de 2019, as internações tiveram baixa de apenas 13%. No Estado do Rio de Janeiro foram 509 ocorrências nos últimos dez anos: 86 em 2010; 62 em 2011; 55 em 2012 e 2013; 38 em 2014; 60 em 2015; 44 em 2016; 40 em 2017; 37 em 2018 e 32 no ano passado, totalizando 509.
Na última década, houve aumento acentuado no número de internações nos estados do Rio Grande do Norte (1.250%), Pernambuco (678%) e Mato Grosso do Sul (400%). Em termos absolutos, São Paulo lidera, com 4.546 internações registradas no período. Na sequência surge Minas Gerais, com 1.379. Roraima se destaca com o menor número de hospitalização de ciclistas por atropelamento: apenas quatro, duas em 2014 e outras duas em 2016, segundo os registros oficiais.
Para a Abramet, a falta de infraestrutura adequada nas cidades, combinada à falta de campanhas educativas e de prevenção voltadas ao ciclista são o principal motivo do crescimento dos indicadores de vítimas. "É preciso reconhecer que ao longo dos últimos anos houve melhorias na estrutura de algumas cidades, sobretudo em grandes capitais como Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo. No entanto, essas mudanças não acompanharam a crescente demanda de pessoas que utilizam as bicicletas como meio de transporte, esporte ou lazer", complementa Meira Júnior.
Para ele, são necessários espaços físicos diferenciados, mais sinalização e ações educativas que alertem para o fato de que todos fazem parte do trânsito e devem ser respeitados. "Sem isso, esses indicadores continuarão subindo. É preciso uma mobilização do poder público, com o apoio das entidades médicas, para criar ações conjuntas e efetivas para combater este cenário", acrescenta, frisando que a Abramet pode colaborar nesse esforço.
Os dados mapeados pela entidade indicam que, em média, 850 ciclistas morrem todos os anos por envolvimento em acidente de trânsito. Cerca de 60% das mortes foram registradas nas regiões Sul e Sudeste.
Segundo avaliam os médicos de tráfego, o uso de bicicletas no Brasil, antes associado ao lazer e à prática de exercícios, passou a ser adotado para atividades profissionais, especialmente serviços de entrega, aumentando a população de ciclistas no trânsito.
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