A coluna do Massimo falará bastante sobre as eleições ao longo da semana, e nesta quarta-feira, 18, dedicarábastante espaço à vitória de Johnny Maycon e o que se pode esperar de seu mandato, bem como da nova composição do plenário de Câmara Municipal de Nova Friburgo.
Por enquanto, contudo, é hora de reservar algumas palavras a essa inglória gestão atual, que há muito já deveria ter sido abreviada por vias institucionais, mas de algum modo durou o suficiente para que pudesse ser despejada a vassouradas do Palácio Barão de Nova Friburgo pela soberana vontade popular.
O peso da máquina
Pelos quatro cantos do Brasil analistas políticos falam sobre a tendência de reeleição entre os prefeitos, sobre a influência da máquina administrativa na construção dos resultados, o peso dos votos de nomeados e seus familiares no desfecho da corrida eleitoral.
Sobretudo em cidades de interior, nas quais o percentual de funcionários municipais é sempre mais alto entre a totalidade da população.
Naufrágio
E, apesar de tudo isso, apesar de tudo a que se apelou, o prefeito Renato Bravo foi condenado à 10ª posição na tabela de votos, limitado ao apoio de 3.538 friburguenses.
Desconte desta lista nomeados/agregados/parasitas e seus familiares, e o que resta é praticamente nada. Sem o suporte da máquina administrativa certamente teria disputado as últimas posições, com votação medida em três dígitos.
E olhe lá.
É, de muito longe, o maior naufrágio eleitoral já sofrido por um prefeito na história de Nova Friburgo.
Não acabou
Talvez o leitor considere estas palavras duras demais, mas só quem cobriu este governo no cotidiano, ouvindo dia após dia relatos e áudios escandalosos, lendo documentos e tomando parte em seguidas apurações, e em meio a tudo isso teve de ouvir gracinhas e deboches em razão da demora judicial, tem noção do quão baixo se chegou na administração municipal ao longo destes quatro anos, lembra o colunista.
Acreditem: a verdadeira dimensão do que foi este governo só será conhecida pelo friburguense médio dentro de alguns anos, quando as inúmeras denúncias, muitas das quais ricamente fundamentadas, vierem a público.
Cartão de visitas
De fato, qualquer ilusão que este colunista pudesse alimentar a respeito do caráter dos mandatários na atual gestão caiu por terra ainda nos primeiros meses de governo.
É bem verdade que houve problemas sérios desde a transição, mas a real percepção sobre o tipo de gente com quem estávamos lidando se deu quando a gestão da Saúde determinou que fossem continuadas as cirurgias eletivas e orientou pacientes a processarem os médicos que se recusassem a operar, um dia após este colunista ter telefonado ao prefeito para informar, com provas, que o Hospital Municipal Raul Sertã não estava esterilizando instrumentos cirúrgicos de maneira satisfatória.
Revolta
Não sabíamos, naquela altura, que as mesmas responsáveis pela medida já mantinham contato por e-mail com a empresa que dias mais tarde seria beneficiária de um contrato emergencial de valor altíssimo para a prestação do serviço de esterilização externa, o qual jamais prestou de maneira aceitável.
Ainda hoje, lembrar que pessoas possivelmente sofreram de forma evitável e tiveram seus quadros agravados por esse tipo de atuação causa indignação.
Miríade
Desde então dezenas de outros episódios trataram de confirmar as péssimas impressões daqueles primeiros dias.
Poderíamos falar sobre as razões que levaram o primeiro secretário de Saúde a pedir exoneração com apenas 45 dias de governo, sobre a famigerada Ata de Caxias, os contratos emergenciais de fornecimento de alimentação hospitalar, o contexto em que se deram os pareceres na compra de seringas, a forma como a cidade foi deixada nas mãos da concessionária de transporte coletivo.
Nem fingiu
Poderíamos, paralelamente, falar sobre promessas de campanha que jamais foram merecedoras de ao menos uma tentativa ensaiada e teatral de realização, entre as quais se destacam as UPAs de Olaria e São Geraldo.
O povo, no entanto, já disse tudo que precisava ser dito sobre o conjunto da obra.
E, no devido momento, a Justiça também há de nos dar oportunidade de aprofundar muitos destes episódios.
Grotesco
Em meio a tanto mau cheiro, a campanha eleitoral da reeleição teve o mérito de conseguir piorar o que já era putrefato.
Episódios como a chamada “live da verdade” encontram-se, desde já e para sempre, entre os momentos mais grotescos de toda a história política friburguense.
O tipo de vídeo que merece ser guardado para consultas futuras.
Molecagem
E o que dizer sobre a indigna sugestão de que as críticas deste espaço teriam origem na redução de gastos com a publicação de atos oficiais, quando foi o próprio governo - e somente ele - quem diversas vezes tentou estabelecer esse vínculo, dando a entender que iria reduzir as publicações se as críticas não cessassem?
O leitor faz ideia de quantas vezes “ameaças” dessa natureza chegaram aos ouvidos deste colunista?
O tipo de postura, enfim, que se espera de moleques, jamais de estadistas.
Desconexão
Aliás, o contraste entre a previsível tragédia eleitoral e o empenho do governo para que pudesse reverter a reprovação das contas de 2018 e assim tomar parte na eleição apenas reforça a desconexão absoluta com a realidade das ruas, e mostra o quão espessa e opaca se tornou a bolha em torno de quem afastou de perto de si qualquer voz que ponderasse, que não bajulasse, que não aceitasse jogar sob quaisquer circunstâncias.
Porque, é claro, pessoas de grande valor também passaram pela atual gestão.
Grandes
Pessoas como Ângelo Jaquel, ex-secretário de Infraestrutura e Logística, que foi atacado publicamente nos corredores da prefeitura, aos berros, por ter salvado parte do processo licitatório que já se encontrava maduro e tinha potencial de preservar o erário dos danos causados à adesão à Ata de Caxias.
Pessoas como o ex-procurador Sávio Rodrigues, que sofreu toda forma de ataque por ter se portado como legítimo procurador, orientador do governo no sentido de preservar os interesses coletivos, tendo se colocado no caminho de muitas operações de natureza extremamente questionável.
Gratidão
Pessoas como as incontáveis fontes do espaço da coluna, servidores que não tinham a opção de pedir exoneração, mas que não concordavam com o que estavam vendo e fizeram questão de contribuir com informações e provas que tantas vezes sustentaram denúncias e deram a este colunista a segurança necessária para que pudesse escrever tudo que escreveu, sempre com cartas guardadas na manga, sempre em condições de publicar muito mais caso alguém tentasse desmentir o que quer que fosse.
A todas estas pessoas - algumas conhecidas, outras não - a sociedade friburguense deveria reservar toda sua gratidão.
Vergonha
Por outro lado, não podemos encerrar essa coluna sem lembrar do grande contingente de carreiristas que, quando se viram diante de sinais inequívocos de que o interesse coletivo estava sendo vilipendiado, optaram egoística e covardemente por virar os olhos e tapar os ouvidos.
Que cada comentário bajulador em postagem mentirosa seja printado, que cada alegação de que as denúncias não passavam de “politicagem” sejam guardadas, que ninguém esqueça desses pusilânimes - alguns tristemente jovens - que se dispuseram a jogar pela janela o interesse coletivo quando o interesse pessoal esteve em jogo.
Quanta pequenez. Quanta vergonha!
Porta dos fundos
Mesmo para um prefeito de ocasião, como foi o caso de Renato Bravo, alçado à prefeitura muito mais pela rejeição reservada a seus adversários do que por qualquer lastro próprio, a mensagem popular foi forte e clara demais.
No próximo dia 1º de janeiro, o governo que tão cedo perdeu as ruas, cujo líder jamais foi à Câmara Municipal, que chegou ao isolamento extremo de fechar os acessos ao palanque oficial em datas comemorativas, deixará o Palácio Barão de Nova Friburgo pela porta dos fundos para assumir seu lugar nos porões da história.
Deixe o seu comentário