Neste fim de semana me deparei com uma situação meio inusitada: um filhotinho de gambá perdido ao redor da minha casa. Bem fraquinho e quase não se mexendo, peguei o animal, levei para dentro do imóvel, coloquei numa manta quentinha e tratei com uma papinha de frutas. Naquela altura do campeonato, bateu uma dúvida de como proceder e onde entregar o animal, que além de ser fofinho, é super importante para a natureza.
Em uma breve pesquisa pela internet, descobri a ONG SOS Vida Silvestre, que fica situada em Cachoeiras de Macacu, (Instagram: @sosvidasilvestre e Facebook SOS Vida Silvestre) e o contato do biólogo e veterinário Leandro Fontinhas, integrante da ONG e responsável aqui em Friburgo - a quem entreguei o pequeno marsupial para ser cuidado com as devidas precauções.
A SOS Vida Silvestre fornece assistência a fauna silvestre da Mata Atlântica, através de ações de mitigação e monitoramento das rodovias RJ-116 e RJ-122 (Guapimirim-Cachoeiras). Contando com uma equipe formada por biólogos, médico veterinário e ambientalistas, uma equipe que atua na preservação do meio ambiente.
Os animais resgatados, tanto vivos quanto em óbito, vítimas de atropelamentos são devidamente, registrados e cadastrados. Os que são resgatados com vida recebem assistência para que possam ter a devida atenção e uma destinação adequada. Quando resgatados já em óbito suas carcaças são destinadas para estudos científicos e para compor o acervo zoológico do Museu de história natural da instituição.
O manejo de animais silvestres exige cautela, devem ser manuseados por profissionais treinados, ao encontrar alguma espécie que esteja precisando de auxílio, o cidadão pode entrar em contato com a equipe da SOS, para que possa ser resgatado e encaminhado ao veterinário responsável, para receber os cuidados necessários e ser reabilitado para se possível for seja realizada uma futura reintrodução a natureza, onde os mesmos poderão retornar o seu ciclo de vida natural normalmente.
“A estação da primavera é uma época do ano muito propicia para a reprodução de diversas espécies nativas, como o gambá de orelha preta (Didelphis aurita) e a coruja do mato (Megascops choliba). Por conta da defasagem de alimentos e habitats em seus ambientes naturais, ocasionadas por queimadas e outras ações antrópicas, os animais tem a necessidade de buscar esses recursos em outros ambientes, que muitas vezes por precisarem atravessar trechos de rodovias acabam sendo vítimas de atropelamentos, os que conseguem realizar a travessia acabam em meios urbanos adentrando por vezes em residências e a falta de um conhecimento adequado sobre as espécies faz com que alguns moradores acreditem que sejam potencialmente perigosos e acabam os matando”, relata Leandro (foto).
Os gambás podem entrar numa residência em busca de algum alimento, proveniente de um lixo mal acondicionado ou sobras de ração nos comedouros de cães e gatos. Outra razão é a procura de um local tranquilo e considerado seguro, para fazer um ninho, como os forros das residências.
Não é recomendável acuar o animal, o ideal é que ele encontre o caminho para fuga. Por hábito, o gambá pode procurar um canto mais escuro, para se esconder e quando escurecer sair com maior facilidade e segurança, por enxergar melhor no escuro e ter hábitos noturnos.
É comum, pessoas que se deparam com o animal tentarem prendê-lo, para depois soltá-lo, em uma região de mata. Porém, essa não é a melhor opção. Se falhar a tentativa, para o animal sair espontaneamente, solicite o auxílio de órgãos especializados, como a ONG ou ao Corpo de Bombeiros para fazer o resgate do animal.
A importância dos gambás na natureza
“Ultimamente temos recebido muitas ocorrências para resgate de filhotes órfãos de Didelphis aurita (gambá de orelha preta), que ao contrário do que muitos pensam, não são ratos e sim marsupiais importantes para o equilíbrio de nossa fauna, sendo um grande dispersor de sementes e controlador de pragas. Uma vez que são imunes ao veneno de animais peçonhentos como escorpiões e cobras além de se alimentarem de carrapatos e outros insetos”, finalizou Fontinhas.
Típico das Américas, o gambá é um mamífero marsupial, assim como o canguru. Habita desde o sudeste do Canadá até o sul da Argentina, principalmente as florestas, porém tem se adaptado bem à presença humana, vivendo também próximo ao ser humano, entrando em chácaras, quintais, e até mesmo em grandes centros urbanos.
Infelizmente, sua fama não é nada boa dentre os humanos menos esclarecidos, já que ele possui um líquido fedorento produzido por glândulas odoríferas que é utilizado como meio de defesa quando perturbado. O cheiro também é exalado pela fêmea em maior quantidade na época em que está no cio e tem a função de atrair o macho. Este cheiro é um dos motivos por ele ser tão discriminado.
Obviamente hoje há uma legislação ambiental que proíbe tanto seu abate e maus tratos, como o cativeiro. A maioria das espécies possui hábitos noturnos e uma dieta onívora, que pode incluir frutos, insetos, raízes, vermes, crustáceos (caranguejos em áreas de mangue), moluscos, néctar e pequenos vertebrados (sapos, lagartos, serpentes, ovos e aves).
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