Tragédia anunciada: parte da população insiste em jogar lixo em locais impróprios

Ato é crime e pode render multa a quem for flagrado cometendo a irregularidade
sábado, 26 de setembro de 2020
por Guilherme Alt (guilherme@avozdaserra.com.br)
Entulho deixado na rua em Olaria: cena que se repete em outros bairros (Fotos de Henrique Pinheiro e Guilherme Alt)
Entulho deixado na rua em Olaria: cena que se repete em outros bairros (Fotos de Henrique Pinheiro e Guilherme Alt)

Para uma cidade que passou pela maior tragédia climática da história do país, em 2011 – e o município mais atingido da Região Serrana – que matou 442 pessoas, era de se esperar que a população ficasse atenta aos hábitos quanto ao descarte de lixo. Mas os registro feitos por A VOZ DA SERRA ao longo dos últimos anos mostra que a lição não foi aprendida.

É fato que a tragédia ocorreu devido a intensidade das chuvas e das trepidações “fora do normal” daquele 12 de janeiro e que por isso, a devastação foi sem precedentes. Mas o município convive com os alagamentos muito antes das enchentes e que foram cada vez mais frequentes, após 2011.

Em fotos recentes, A VOZ DA SERRA flagrou recorrentes desrespeitos ao meio ambiente e, pela percepção da nossa equipe, pode concluir que os hábitos de parte da população com relação ao destino final que se dá ao lixo, tem atingido níveis difíceis de tolerar.

Local de descarte irregular já é conhecido pelas autoridades

Em contato com representantes da Subprefeitura do Cônego, fomos informados que a Rua Vital Brasil já é um ponto conhecido e que ações recorrentes na localidade são realizadas frequentemente. Apesar disso, há quem insista em despejar materiais de entulho, móveis e eletrônicos. “É tirar num dia e poucas horas depois já tem gente jogando lixo lá. Nem precisa falar qual é o trecho da rua, porque já sabemos. As pessoas não respeitam. Na semana passada tiramos dois caminhões com esses lixos. Já colocamos placas com proibições, mas algumas sumiram e outras foram queimadas”, disse a subprefeitura, por telefone.

Ainda na Rua Vital Brasil, o local onde é comum descartar lixo foi comprado e o atual proprietário limpou todo o terreno e o cercou com arame farpado. Não satisfeitas algumas pessoas começaram a jogar lixo no terreno em frente. E na Rua Minas Gerais, em Olaria é comum o pedestre ter que desviar de móveis que foram colocados em cima de calçadas, perto de lixeiras.

No bairro Perissê um flagrante do desrespeito: um homem descartou lixo de jardinagem, embaixo de um grande cartaz que pedia aos moradores não jogar lixos naquele local. No Parque Maria Teresa, há flagrantes de moradores descartando entulhos nas canaletas.

De acordo com o presidente da Associação de Moradores do Parque Maria Teresa, Emílio Alonso, por conta da atuação da associação e uma conscientização dos moradores, o bairro não sofre tanto deste mal. “Criou-se um lixão na entrada do bairro, mas no geral o bairro é bem limpo. Conseguimos quase eliminar o problema, o mais triste é com relação as canaletas, são sete quilômetros de extensão. Elas são a segurança do bairro contra deslizamentos e algumas pessoas jogam móveis, resto de televisão, porta de geladeira, fora esgoto. Não sei se é por descaso ou falta de conhecimento”, lamentou. No distrito de Lumiar a situação só não é pior porque voluntários se dedicam a dar um destino correto ao lixo.

Segundo Marcela Klein, secretária da Associação de Moradores do distrito de Lumiar, a região sofre bastante, principalmente por parte de pessoas que se mudam e despejam móveis velhos ao lado das caçambas ou até mesmo dentro delas. “A subprefeitura recolhe algumas vezes, quando o problema se torna grave demais, alocando atrás de sua sede. Depois removem para outro local. Muitas obras também colocam entulho nas minúsculas calçadas do distrito, além de restos de poda que atrapalham a passagem dos pedestres. No distrito, um morador recebe doação de eletroeletrônicos e eletrodomésticos. Ele faz o desmonte e vende os resíduos corretamente para reciclar. É graças a ele e alguns outros que não vemos tanto resíduo por aqui. O município tem a responsabilidade pela coleta de lixo domiciliar, apenas. Isso não inclui resíduos como restos de obras, móveis, eletrodomésticos e similares. Esses descartes devem ser feitos de forma legal pelos responsáveis ou geradores. Há um grande problema na caçamba do cemitério de Pedra Riscada, onde uma moradora tenta criar um jardim voluntariamente para embelezar a área que era de sua família. Por anos foi local para descarte de metais e tubos de televisões antigas e hoje o solo está tão socado com os resíduos de vidro que o jardim não se sustenta direito. Ela tenta insistentemente cuidar da terra lá”, observou. 

O que diz a prefeitura

Apesar de não ser um problema do município, A VOZ DA SERRA consultou a prefeitura para informar à população como proceder em casos em que é preciso descartar lixo orgânico ou materiais de construção. Em nota, o município informou que a Empresa Brasileira de Meio Ambiente (EBMA), disponibiliza containers gratuitamente em alguns pontos do município destinados apenas ao acondicionamento do lixo doméstico visando facilitar a coleta pelos caminhões. 

Entretanto, para o lixo comercial ou industrial, e ainda para restos de obras ou de entulho, existe uma série de empresas com licença ambiental para prestação desse serviço de forma particular. Com relação ao lixo industrial, há uma legislação estadual que determina que as empresas fabricantes façam a coleta de bens inservíveis - a chamada logística reversa. 

As denúncias de descarte irregular de resíduos devem ser feitas no protocolo da prefeitura e encaminhadas à Secretaria de Meio Ambiente para devida verificação. Àqueles que forem flagrados realizando descarte irregular estão sujeitos a multa. A Secretaria Municipal de Meio Ambiente orienta que os resíduos normais sejam colocados próximo do horário de coleta, evitando, assim, que os detritos se acumulem ou sejam espalhados por animais.

 

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