Urgente

Wanderson Nogueira

Palavreando

Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.

sábado, 23 de maio de 2020

A necessidade de mudar existe há tempos, mas é a urgência que nos faz agir. Sabemos que as coisas não vão bem, no entanto nos acomodamos até que algo imperioso ocorre e torna urgente a nossa mudança de comportamento. É a urgência - mais do que a necessidade - que muda atitudes.

Não sei quem foi o primeiro a dizer que o futebol é a melhor metáfora da vida. Mas está aí uma ilustração perfeita para exemplificar como a urgência muda scripts. Comum numa final de campeonato de futebol, um time, melhor ou pior, estar perdendo a partida e deixar para os instantes finais a gana de vencer. 

Parte para o ataque com todas as forças, deixando a defesa à deriva. O risco de tomar um gol se torna menos importante do que fazer gols para conquistar o título. É a falta de opção, é o fim próximo que torna urgente se lançar em fé para conquistar o que se vislumbrou. Mas por que não ter iniciado a partida assim desde o começo? 

Porque a urgência dos instantes finais impõe ímpeto de sobreviver no sonho. Alguns times sucumbem, outros conseguem viradas históricas e muitos, mesmo que não consigam o objetivo, saem com o reconhecimento de seus torcedores.       

No leito de morte, relatos mostram ser comum o paciente pedir perdão a um filho, chamar um amigo que não falava há tempos por conta de uma briga, pedir para ser amigo do ex-cônjuge, deixar teimosias de lado para simplesmente expressar o que nunca expressou. Não se trata de a doença terminal fazer com que o ser humano seja mais sensível, é a escassez de tempo que faz ser urgente terminar a história bem. Até os mais brutos cedem para que não cessem sem finalizar suas histórias como um bom biógrafo gostaria. 

Estamos em tempos de urgências. O tempo de mudar passou faz tempos. Nós no tempo... Resposta do tempo. Não ouvimos o tempo. Até que o tempo unido ao planeta deu um basta ao nosso ego, à nossa ignorância em rechaçar se mover diante de tantos apelos por mudanças. A necessidade foi rebaixada, porque não se pode deixar brecha para escolhas.

É urgente que cuidemos melhor uns dos outros, que nos sintamos pertencentes ao coletivo, que nos percebamos como parte essencial da natureza para como tal, cuidar da natureza para que assim estejamos cuidando de nós, dos nossos, dos que virão de nós mesmos... 

A desigualdade, esse abismo que colocaram entre todos, exige passos urgentes para que através de equidade diminuam-se essas diferenças que estão pondo fim a todos! Não se livrarão os mais abastados. Ninguém está seguro. O barco é um só.

Por mais impactante que possa parecer, a urgência, ainda que imponha pressa, é bondosa por enviar convite de última chance. O prazo é esse do a partir de agora e do agora em diante. Não há mais garantia de nada, a não ser a certeza de que não haverá outra possibilidade. 

E aí? Como vamos finalizar essa história? Discutindo consigo mesmo sobre verdades erráticas? Supondo profecias de messias de ocasião? Apostando na sorte, no herói hollywoodiano, no terraplanismo? 

O que há de óbvio é que é com você, com a gente, com todos nós. E é urgente. O planeta é mais importante que nós. Entre morrer e eliminar o que o mata – há legítima defesa. É urgente a mudança de atitude nessa nossa relação com a Terra. Para que ela respire. E nós também.

 

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