Posicionamento da Associação Brasileira de Psiquiatria sobre o uso da cannabis (maconha) em tratamentos psiquiátricos

César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

quarta-feira, 03 de abril de 2024

O presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), dr. Antônio Geraldo e o dr. Leonardo Baldaçara, coordenador da Comissão de Emergências Psiquiátricas da ABP, publicaram um parecer oficial sobre o uso de canabidiol (CBD), um dos produtos da maconha, para tratamentos em psiquiatria. Leia o texto original nesse site, já que por questão de espaço, coloco aqui um resumo. https://revistardp.org.br/revista/article/view/393

1) Não há evidências científicas que justifiquem o uso de nenhum dos derivados da cannabis (maconha) no tratamento de doenças mentais. Estudos associam o uso e abuso de cannabis, e outras substâncias psicoativas, ao desenvolvimento e agravamento de doenças mentais.

2) O uso e abuso das substâncias psicoativas da cannabis causam dependência química, podem desencadear sintomas psiquiátricos e piorar os sintomas de doenças mentais já diagnosticadas, como na esquizofrenia. Usando maconha, o risco de desenvolver essa doença é quatro vezes maior e piora o seu prognóstico. O uso de maconha está associado à alteração de humor, depressão, transtorno bipolar, transtornos de ansiedade, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade e à ideação suicida.

3) Pesquisas sobre o CBD devem continuar, mas os estudos sobre os efeitos colaterais e a probabilidade de dependência também devem ser realizados e intensificados.

4) Certos canais de mídia no Brasil endossam estudos sobre possíveis "benefícios" da cannabis, corroborando para interpretações equivocadas e contribuindo para a impressão de que a maconha é segura e inofensiva para o consumo, sobretudo pelos mais jovens. Essa "publicidade" positiva remete à época em que cigarros eram comercializados com chancela da mídia e até mesmo de parte da comunidade médica para atender interesses financeiros.

5) No Brasil, o Conselho Federal de Medicina autoriza o uso compassivo do CBD apenas para crianças e adolescentes com epilepsia de difícil tratamento.

6) Assim como a ABP, a Associação Americana de Psiquiatria (APA) não endossa o uso da cannabis para fins medicinais. Um trecho do documento da APA diz: "não há evidências científicas atuais de que a cannabis seja benéfica para o tratamento de qualquer transtorno psiquiátrico. Em contraste, as evidências atuais apoiam, no mínimo, uma forte associação do uso de cannabis com o aparecimento de transtornos psiquiátricos. Os adolescentes são particularmente vulneráveis ​​a danos, devido aos efeitos da cannabis no desenvolvimento neurológico."

7) O tratamento de qualquer doença deve ser feito baseado em evidências científicas e os médicos que receitam a cannabis para fins medicinais devem ter plena consciência dos riscos e responsabilidades inerentes à prescrição.

8) Não há evidência científica de que o uso de canabidiol ou qualquer canabinoide, tenham qualquer efeito terapêutico para qualquer transtorno mental.

9) A ABP apoia pesquisas científicas para a busca de soluções para doenças sem tratamento, obedecendo todos os regramentos relativos às pesquisas científicas. 

10) A ABP tendo em vista os diversos prejuízos destacados, no momento, não apoia o uso da cannabis e de seus derivados com fins medicinais na área de Psiquiatria, nem apoia seu uso para fins recreativos. Não há registro em nenhuma agência reguladora internacional de nenhum canabinoide para tratar doença psiquiátrica.

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Cesar Vasconcellos de Souza – www.doutorcesar.com

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