O que você pode fazer para melhorar a depressão?

César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Depressão é um tipo de sofrimento que, infelizmente, tem recaídas. Para alguns casos, a pessoa que teve depressão pode fazer algo para evitar que ela volte ou para sair dela pelo menos em boa parte do tempo. Vamos ver como é isso.

Depressão é diferente de ansiedade. Na ansiedade excessiva a pessoa sofre de inquietude, aperto no peito, falta de paz interior, sente um vazio que não sabe explicar a razão disso. Já na depressão predomina a tristeza, a falta de energia, a vontade de ficar isolado, há uma perda de prazer nas coisas que antes eram muito agradáveis, podem surgir pensamentos de morte, de culpa, de suicídio.

Alguns indivíduos são mais propensos para ter depressão, tanto por fatores biológicos genéticos, como pela tendência para a melancolia, por causa de ter vivido num lar complicado na infância, ser bem sensível para questões emocionais, e sofrer perdas importantes na vida, que para aquele indivíduo foram perdas importantes, mesmo não tendo muito valor para outro.

Às vezes uma pessoa entra na depressão por causa de um fator gatilho. Fator gatilho é um evento que produz naquele indivíduo uma resposta emocional dolorosa, assustadora, ou que entristece muito. Por exemplo, se você viveu numa família com uma mãe com problemas com bebidas alcoólicas e por causa dela se embriagar repetidas vezes, ficando agressiva com você e seus irmãos, gritando com todos, você aprendeu a sofrer com pessoas agressivas e que gritam nervosamente. Lá na frente, 20 ou 30 anos depois de sua infância, você se casa com um indivíduo que perde o controle com alguma facilidade e quando isso acontece, ele ou ela grita com você, mesmo não sendo por causa de bebida. Esta forma de abuso verbal – gritar com o outro – é o fator gatilho que dispara certos sentimentos em sua mente tão dolorosos e difíceis de lidar como os que você sentia quando convivia com a mãe embriagada 20 ou 30 anos antes.

Mesmo no século 21 com tecnologia avançando muito, a depressão ainda é um desafio para ser vencida e tratada. A Organização Mundial da Saúde prevê que em 2030 a depressão deverá ser a doença número um do mundo a atingir as pessoas. Não existe uma vacina contra a depressão. Ah! Se tivesse! Não existe uma técnica psicológica que funciona 100% para todos no tratamento da depressão. E quanto aos medicamentos psiquiátricos, alguns antidepressivos funcionam bem por um tempo, mas não necessariamente o tempo todo. Alguns funcionam por um tempo para um grupo de pessoas enquanto que os mesmos produtos não funcionam para outro grupo. E tem deprimidos que não melhoram com nenhum medicamento natural ou sintético.

Certa vez atendi um paciente que pensava seriamente em suicídio devido à sua depressão grave prolongada. Depressão pode ser leve, moderada e grave. Na verdade, ele já havia tentado se matar, mas foi salvo por um parente na hora certa. Um filho dele se casou e pouco tempo depois teve um filho. Meu paciente se tornou avô. Ele ficou alegre com o nascimento da criança. A depressão diminuiu. Foi muito importante que ele pudesse ter contato com o bebê enquanto seguia com o tratamento da depressão. Pensar na criança, ocupar-se com ela, visitá-la com frequência, foi vital para aquele homem. Posso dizer que a dedicação dele para com seu neto salvou sua vida, porque amenizou muito o estado depressivo. Foi o melhor remédio para a depressão dele.

Isso nos ensina algo importante para o tratamento do estado depressivo. Se uma pessoa deprimida fizer esforços para se dedicar a uma causa que pode ser ajudar a criar um neto, visitar um orfanato com regularidade, pelo menos uma vez na semana e fazendo alguma atividade útil com as crianças órfãs da instituição, se ela visitar regularmente um asilo e ajudar os idosos de alguma forma, esta atitude de sair de si, parar de olhar seu sofrimento e olhar a necessidade do outro e fazer algo por ele, poderá tirar a pessoa do estado depressivo, pelo menos a maior parte do tempo. Para um deprimido, vale à pena fazer este esforço.

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Cesar Vasconcellos de Souza – www.doutorcesar.com

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