O mundo quer a justiça?

César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Não é incrível como que nossos problemas principais na vida têm que ver com pessoas? O que aconteceu com os seres humanos que produziram problemas para os seres humanos? Por que perdemos o respeito uns pelos outros? Por que agredimos nossos semelhantes seja numa guerra, corrupção, assassinato, violência? Por que temos que colocar trancas nas portas de nossa casa? Não é por causa de bichos selvagens. É por causa de pessoas.

Estamos na época da Copa do Mundo de Futebol. Pensemos por um momento sobre o futebol e a justiça. Um jogador chuta a bola e ela bate inevitavelmente na mão ou no braço do adversário e, segundo a regra, isto é uma falta. Uma coisa é um jogador, sem ser o goleiro, colocar a mão na bola propositadamente, e outra é alguém chutar a bola em cima dele atingindo sua mão ou seu braço. No primeiro caso, tendo a intenção de colocar a mão na bola para impedir uma jogada, é justo marcar a falta. Mas quando a bola atinge a mão ou o braço do jogador sem nenhuma intenção dele de interferir na jogada usando este membro do corpo, onde está a justiça ao juiz aplicar a falta?

Ainda sobre o futebol, uma forma de fazer justiça quanto ao tempo do jogo, seria cronometrar a partida. Talvez pudesse ter 30 minutos de bola corrida. Isto impediria outro tipo de injustiça que acontece quando um time faz muita “catimba” ou “cera”, ou quando há muitas interrupções porque jogadores foram machucados ou fingem que se machucaram, e ao final o juiz (ou sei lá quem) dá um acréscimo de tempo inferior ao que seria justo devido às interrupções.

Mais um tipo de regra no futebol, o impedimento, favorece a injustiça. Qual o problema de um time ter um jogador lá na frente do ataque, tendo somente o goleiro do time adversário à sua frente? O outro time poderia fazer o mesmo, mantendo um atacante lá na frente. Quantos impedimentos são marcados por juízes quando não aconteceram!

Outro ponto: quando um jogador se machuca e cai em campo, seria fazer justiça ele ser imediatamente tirado do campo, para ser atendido pelo médico do lado de fora, e a partida prosseguir. Mas quem quer a aplicação destas justiças no futebol? Quem disse que cronometrando uma partida de futebol poderia tirar a vibração do jogo? Veja o basquete, que é cronometrado. Quantas partidas de basquete são empolgantes mesmo sendo cronometradas!

O mundo quer a justiça? Quem quer a justiça mas não só da boca para fora? Assisti hoje um vídeo de uma entrevista com um juiz da Suprema Corte do Brasil falando sobre os roubos que a operação Lava à Jato descobriu. Ele afirmou que foi roubo mesmo o que descobriram contra várias empresas do governo, e hoje, poucos anos depois, este magistrado fala diferente, em função de ter conflitos de interesses. Estou falando de um juiz da Suprema Corte, o qual, supostamente, deveria promover justiça de verdade.

O mundo quer a justiça? É triste, mas parece que não. Comentei com um vereador que se tornou deputado estadual sobre estes assuntos ligados ao futebol, explicando o que está acima. Ele sorriu e disse que é melhor continuar assim. E fiquei pensando: se um líder do governo num nível estadual me afirma que as injustiças nas regras do futebol não têm problema, como será que ele vê e toma atitudes em seu papel como parlamentar quanto a outros assuntos realmente muito mais importantes para a sociedade?

O mundo quer a justiça? Acho que posso mudar a pergunta e colocar assim: você quer a justiça em sua vida pessoal, particular? O que tem feito para ela existir do que depende de sua pessoa? A justiça social e a corrupção começam na decisão pessoal, especialmente naquelas coisas que só você sabe porque estão em seus pensamentos. O estado de corrupção, violência, queda vertiginosa dos bons padrões éticos e de boa moral denunciam que a maioria não quer a justiça. E isto tem um preço, aliás, muito caro para o bem estar da humanidade.

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Cesar Vasconcellos de Souza – www.doutorcesar.com

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