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Existe mulher violenta?

Cesar Vasconcellos de Souza
Saúde Mental e Você
O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.
Cerca de 48% das mulheres agredidas dizem que a violência ocorreu em sua residência (Pnad IBGE, 2009). Três em cada cinco mulheres jovens sofreram violência em relacionamentos (Instituto Avon, parceria com Data Popular - nov/2014). 77% das mulheres que vivem sob violência, sofrem agressões a cada semana ou dia, em mais de 80% dos casos, cometidas por homens ex-companheiros, cônjuges, namorados ou amantes das vítimas. (Balanço do Ligue 180 – Central de Atendimento à Mulher.) www.compromissoeatitude.org.br/dados-e-estatisticas-sobre-violencia-contra-as-mulheres/(22Junho2016). Existe mulher violenta? Violência feminina é ideia irreal machista?
No estudo “A violência das mulheres: supressões e narrativas” Coline Cardi e Geneviève Pruvost, vol.VIII, 2011, par.13, citam que o primeiro trabalho científico que ousou combinar o estudo da violência contra as mulheres e violência produzida por elas foi feito por A. Farge e C. Dauphin. Citam a antropóloga Marie-Élisabeth Handman que disse: “… é necessário dizer que as mulheres não são menos violentas que os homens; simplesmente as causas da violência delas e as formas que elas assumem são usualmente diferentes daquelas dos homens e que o exercício de sua [das mulheres] violência cai dentro das margens deixadas para elas pelos homens (Handman, 2003, 73).”
Coline e Geneviève, dizem: “… quando pensarmos sobre violência feminina, devemos não somente estar interessados em exclusivas participações das mulheres em formas listadas de violência, mas também focar em mais formas sutis, mais microscópicas formas de violência (Handman, 1955) - … a violência pode pegar outros caminhos.” (par.21)
Liliane Daligand, psiquiatra professora de Medicina Legal na França, publicou o livro “La violence feminine”, Editora Albin Michel, 2016, e respondendo ao jornalista do Le Figaro sobre se é verdade que mulheres violentas foram vítimas de violência na infância, disse: “A grande maioria dessas mulheres foi vítima de violência e de rejeição. Elas experimentaram um caminho que é muito parecido com o das suas vítimas.” http://www.brasil247.com/pt/saude247/saude247/223091/Mulheres-violentas-Elas-estão-em-busca-de-poder-fálico.htm , visitado em 22Junho2016.
No trabalho “Mulheres e Práticas Violentas: Silêncio e Desvelamentos”, apresentado no Seminário Internacional Fazendo Gênero, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013, Claudia Priori, professora da Universidade Estadual do Paraná, cita Elizabeth Badinter que escreveu: “[...] do lado feminista, o assunto é tabu. Permanece impensável e impensado tudo aquilo que diminui o alcance do conceito de dominação masculina e da imagem das mulheres vítimas. Quando se fala disso, é sempre da mesma maneira: primeiro, a violência feminina é insignificante; segundo, é sempre uma resposta à violência masculina; por último, essa violência é legítima. (“Rumo Equivocado. O feminismo e alguns destinos.” Civiliz. Brasileira, 2005.)
Claudia afirma: “A ideologia dominante nos discursos e representações é a de uma feminilidade passiva e amistosa em oposição a uma masculinidade ativa e violenta. Um dualismo que coloca a mulher sempre como vítima e o homem sempre como o agressor, o algoz. A violência parece ser inerente à masculinidade, ao desejo de dominação masculina. Entretanto, não podemos negar a violência feminina, ela sempre existiu, existe e se manifesta de várias formas tanto na esfera privada quanto na pública.” http://www.fazendogenero.ufsc.br/10/resources/anais/20/1384359615_ARQUIVO_ClaudiaPriori.pdf
A jornalista russa Cathy Young, no artigo “A Surpreendente Verdade Sobre Mulheres e Violência” (Time, 25 junho 2014), relatou casos como o da goleira da seleção norte-americana de futebol, Hope Solo, 32 anos, que numa explosão emocional agrediu a irmã e o sobrinho de 17 anos, e também citou o caso do jovem, David Vazquez, 25 anos, morto pela namorada que não aceitou o fim do namoro. Ao matar o rapaz, esfaqueando-o no peito, ela gritava: “Se não posso ter você, ninguém pode!”. Cathy termina o artigo na revista Time assim: “Se queremos que nossa cultura reconheça a capacidade das mulheres para liderança e competição, é hipocrisia negar e minimizar a capacidade das mulheres para a agressão e mesmo maldade. ... É tempo de ver as mulheres como completamente humanas – o que inclui o lado sombrio da humanidade.” http://time.com/2921491/hope-solo-women-violence/
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Cesar Vasconcellos de Souza
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Cesar Vasconcellos de Souza
Saúde Mental e Você
O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.
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