Arranje tempo para ser

César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

quarta-feira, 31 de maio de 2023

Apesar de nossa sociedade estar descontrolada, achamos que temos controle, na era digital. Controlar é uma ilusão porque não sabemos e não vemos tudo o que se passa em nosso interior e exterior.

Nós, humanos, somos uma raça de progresso, sempre procurando novidades, geralmente melhores. Mas já surge um cansaço na humanidade. “O novo das novidades está ficando desgastado.” (“Simplesmente São – A Espiritualidade da Saúde Mental”, Gerald May, Ph.D., psiquiatra no Shalem Institute, Washington, DC). Todos nós costumamos dizer: “Não tenho tempo!”, ou “Não tiro férias há três anos!”, “Preciso trabalhar mais!”, porém, quando paramos um momento em que não temos nada a fazer, pode surgir um incômodo em nosso peito e uma pergunta bem no meio de nossa mente: “Para quê?”

“Ótimo, você conquistou uma posição de fama, ou de riqueza material, ou de academicismo brilhante. Mas e daí? Qual o sentido disso tudo? Para onde você está sendo levado com isso?” Pode ser que logo a seguir dessa “voz” interior você vá rapidinho fazer algo. Liga a TV, pega o jornal do dia para ler, liga seu celular. Não dá tempo e atenção ao lado sábio e sadio de sua mente que está querendo lhe dizer algumas coisas! Talvez é preciso parar de controlar para viver.

Quando a sanidade em você diz que tudo o que tem feito não preenche necessidades no profundo de seu ser, quando atinge aquela meta tão desejada e pouco tempo após volta o vazio que quer lhe empurrar para uma nova meta, parecendo que o prazer acabou de novo, o que sobra? Boris Beker, que foi número 1 do tênis mundial, abriu seu coração numa entrevista dizendo que muitas vezes ficava no quarto do hotel andando angustiado de um lado para o outro, se perguntando: “E agora que sou o número 1? Que mais?” E afirmou que chegou a pensar em que talvez fosse melhor morrer.

A maioria de nós dá duro para chegar lá. Mas o que é chegar lá? Onde fica este “lá”? Por que quando achamos que chegamos “lá” depois vem a sensação de vazio? Se olharmos profundamente a nós mesmos, podemos concluir que talvez o “lá” é na verdade um estado de ser (existir) relacionado com descansar. Como disse Joseph Conrad: “Aquilo que todos realmente buscam é uma forma, talvez só alguma fórmula, de paz.” (obra citada, p.17).

Parece que este “lá” tem que ver com ser apenas quem você é. Simplesmente ser. Relaxar e ficar bem. Descansar. No evangelho de João, na Bíblia, no capítulo 12, versículo 24, Jesus Cristo disse assim: “Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto.” Para chegar “lá” a semente, como disse Jesus, tem que morrer, para poder dar fruto, descanso, paz – se não fica ela só, que pode significar o fazer, fazer, fazer, e assim você nunca chega lá porque sempre há o que fazer. Sempre.

Deixar a semente morrer é abrir mão do controle. Como assim? Veja exemplos de controle: “As coisas têm que funcionar do jeito que quero!”, “Só vou ser feliz se aquela pessoa me amar!”, “Só consigo paz se ganhar mais dinheiro!”, “Só me realizo como pessoa se conseguir aquele título acadêmico!”, “Preciso daquele poder político!”

O “ser” no sentido de existir lhe é dado de graça. O grão de trigo quando é plantado no solo não é ele quem dá a ele mesmo poder de dar fruto, de vir a ser. O que você precisa fazer é permitir entrar num processo de cura, querer isso, buscar isso, abrindo mão do controle e permitir a natureza agir.

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Cesar Vasconcellos de Souza – www.doutorcesar.com

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O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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