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Amor Autoritário ou Sentimental: para onde estamos indo?
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Cesar Vasconcellos de Souza
Saúde Mental e Você
O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.
O arqueólogo Rodrigo Silva, em seu livro “Descobertas da Fé” (p.20, 2025) cita John Gillis, historiador norte-americano, professor da Universidade Rutgers, que estudou culturas alemã e britânica e ao pesquisar sobre relações de idade, casamento, culturas da vida familiar europeia e americana, verificou que a partir do século 19 o amor passou a ter duas tendências: autoritária e sentimental.
A autoritária se manifesta por imposições de terem que amar você como você deseja. Pode ser expressa assim: “Você tem que me amar como eu quero!”, ou “Se eu faço tudo o que você quer, porque não me ama como eu quero?”. Horrível, não é? E quantos com essa postura autoritária crê que ama mesmo!
A outra tendência de amar que Gillis verificou existir na sociedade foi a sentimentalista. Dela surgem filmes, livros, novelas cheias de romance idealizado, paixões doentias, tudo em nome do amor, como se o amor maduro funcionasse sob o domínio da emoção, a qual é ideia atraente, mas ilusória e disfuncional. Viver contemplando comportamento romântico idealizado, perturba a relação humana que inevitavelmente precisa viver na realidade das dificuldades que cada um tem em seu caráter. Mas como isso tem audiência, não é mesmo?
A forma autoritária de amar facilita a violência. Também por isso ela não é amor maduro, o qual não produz agressão verbal nem física, mas respeita. Muitos ficam dependentes afetivamente de indivíduos que parecem ter grande amor por elas. Isso acontece, em parte, porque este indivíduo faz “loucuras” pela pessoa amada, a qual se apaixona e fica cega para sinais de domínio e violência geralmente do companheiro, ou companheira, já que também têm mulheres violentas.
Um homem ou mulher pode dizer que ama você, querendo estar sempre em sua companhia, mas isso pode confundir e dar a sensação de que você é realmente amado ou amada por ele/ela. Isso porque ele ou ela pode querer controlar você proibindo de sair com amigos ou estar com familiares, amigos seus já falaram que ele ou ela explode fácil, sinais que revelam tendência violenta. A prudência recomenda cortar esse relacionamento. Como é mais frequente a violência contra as mulheres, é comum elas ficarem anestesiadas pela paixão, na ilusão de que amor é sentimento, e permanecerem nesse tipo de relacionamento até serem violentadas por aquele que diz amá-las. Elas passam por cima da percepção dos sinais indicadores de abusos contra elas talvez por causa da paixão pelo indivíduo. Paixão é diferente de amor saudável. Paixão é um sentimento conectado à imaginação. A paixão é ligada à imagem idealizada que se faz do outro, e a pessoa por quem você se diz apaixonada pode ser bem diferente do que ela é na realidade.
O amor verdadeiro não é o sentimento porque o sentimento flutua. Quando amamos alguém não sentimos o mesmo tipo de sentimento o tempo todo. Então, a interpretação sentimentalista de amor é danosa para as relações humanas saudáveis, infelizmente muito divulgadas em novelas, filmes, séries e livros.
Rodrigo, arqueólogo, graduado em Teologia e em Filosofia, doutor em Teologia Bíblica e em Arqueologia Clássica, e com pós-doutorado em Arqueologia Bíblica, diz: “A rápida ascensão de ideologias autoritárias, atraindo ativistas radicais em nome de novas formas de amar, e a anulação do pensamento em favor do sentimento são sintomas dessa nova era do amor. Dificilmente vemos um momento em que as pessoas são incentivadas a pensar; o estímulo é para que apenas sintam, sem amarras e moralismos. Porém, a emoção se impõe sobre os princípios, fazendo com que valores eternos sejam sacrificados em nome do aqui e agora.” (p.20).
Para onde estamos indo? Descendo rápido a ladeira do bom senso, da justiça social, da ética e dos valores positivos rumo ao caos disfarçado de bem, de inclusão social, bem comum. Os sintomas doentios psicossociais são evidentes: materialismo, hipocrisia e corrupção política, casamentos desfeitos, filhos superprotegidos e prejudicados para uma vida útil, ou negligenciados e propensos a compensar a carência emocional com sexo, álcool, drogas, inclusive psiquiátricas e delinquências. Será que isso pode ser resolvido com cerveja, carnaval, futebol, churrascos, shows artísticos, liberação das drogas e a ideologia de que o que vale é o que você sente? A resposta é não. Essas coisas iludem o povo que se deixa iludir.
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Cesar Vasconcellos de Souza
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Cesar Vasconcellos de Souza
Saúde Mental e Você
O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.
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