Pirâmide invertida

Paula Farsoun

Com a palavra...

Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

sexta-feira, 16 de abril de 2021

Hoje não. Não começarei este texto com o sentimento de otimismo, porque está difícil não sucumbir diante de tanto sofrimento e tanta desordem. Em meio a tantas notícias embaraçosas, crise por todos os lados, colapso na saúde, pessoas doentes, morrendo, deficiências em várias ordens da economia, da sociedade e da política, desgoverno, índices elevados de mortes, criminalidade, corrupção, desigualdades, preconceitos latentes, fome, problemas aparentemente sem fim e de soluções difíceis, é praticamente senso comum que vivemos período tortuoso de verdadeiro caos.

Está absolutamente difícil prever dias melhores. Conseguir enxergar luz no fim do túnel, a fuga do beco sem saída, o anseio por soluções. A cura. Tem doído demais. Muito sofrimento que palavras não definem. Mas penso que nos conectamos uns com os outros também pelo sofrimento, pela dor. Mesmo diante desse cenário, precisamos manter a esperança por dias melhores. A desesperança pode ser extremamente nociva a esse processo de transição que estamos vivendo.

Diante de todo fluxo sem interrupção de notícias ruins, de perdas, de falta de ar, ainda somos instados a lidar com as mais antigas mazelas da sociedade e dos representantes de maneira geral. É preciso crer que não há mais como esconder tanto lixo debaixo dos tapetes. Uma vez que todos os habitantes de um lar descobrem que por baixo dos móveis há podridão, sujeira, dejetos, se torna praticamente impossível a convivência harmoniosa dentro desse ambiente contaminado, maculado . É preciso limpar, cuidar, melhorar, conservar, valorizar. E quanto mais pessoas imbuídas pelo espírito da comunhão e da ajuda mútua, menos penoso será esse trabalho.

Estamos passando por um processo desses... Sem ajuda fica ainda mais difícil. O ar está pesado, os nervos à flor da pele. Mas creio que uma mão estendida, um olhar por trás da máscara, um sorriso sincero, ainda podem ajudar. O que estamos vivendo demanda esforço conjunto, coragem, renovação ... investimento de tudo, de tempo, de dinheiro, de energia. É preciso ter competência. Poder de ação. Fazer a coisa certa na hora certa e estabelecer uma real pirâmide de prioridades. E a vida é, sem dúvida, o pilar de sustentação e o topo dela ao mesmo tempo, pois sem a vida, o que mais podemos fazer para reverter, para contribuir?  

Hoje vejo a pirâmide invertida, bagunçada, completamente confusa. É preciso crer. Crer que a luz está entrando, que algo muito bom está por vir. Mas sim, está difícil. Para a construção de um novo mundo, de um novo país, invariavelmente devemos enfrentar com esperança, união, força e resiliência esse processo de transição.

É preciso também plantar. Plantar por meio da solidariedade, da empatia, da honestidade, do trabalho digno, da arte, da cooperação, da educação, da prática do bem. Plantar, semear, cuidar para colher frutos melhores no momento certo. Plantar sempre, mesmo agora em que estamos no epicentro do caos, aliás, principalmente agora.

Fácil não é. Pelo contrário. Está difícil à beça. Mas por mais complexo que possa parecer (e de fato é), penso que uma sociedade efetivamente unida e nutrida de esperança pode ser capaz de enfrentar e superar o caos. É o que espero. Concordo com Martin Luther King : “Se soubesse que o mundo se desintegraria amanhã, ainda assim plantaria a minha macieira. O que me assusta não é a violência de poucos, mas a omissão de muitos. Temos aprendido a voar como os pássaros, a nadar como os peixes, mas ainda não aprendemos a sensível arte de viver como irmãos.”

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Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

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