O dia em que resolvi escrever um livro

Paula Farsoun

Com a palavra...

Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

Faz tempo. Nem lembro quando resolvi que escreveria um livro. Mas a decisão foi tomada e estava tão certa quanto 2 + 2 = 4. Era para ser. Nasci com essa marca: a menina que um dia escreveria um livro. Enquanto isso, foram milhares e porque não dizer, milhões de palavras escritas. Perdi as contas do emaranhado que tentei decompor escrevendo; das cores muito além das sete do arco-íris que confabulei em palavras; das vezes em que meu grande interlocutor era eu mesma e o papel, o meu melhor amigo.

As palavras já me consolaram, comemoraram, andaram comigo por aí e sentaram ao meu lado no parque ou no banquinho à beira-mar. Ouso dizer que fui salva por elas algumas vezes na vida. E as salvei também.

Sempre zelei por elas – as palavras. Não gosto que seja feito mal uso delas. Creio do seu poder, na sua missão e na dimensão de seus efeitos. Por isso, faz tempo que resolvi escrever um livro. Seria uma devoção, um autorretrato, um diário sem sentido ou mesmo uma gratidão por ter sido salva pelas palavras. Salva da ignorância absoluta – embora saiba que quanto mais eu leia, mais reconheço o quão significante posso ser diante de tudo. De toda a complexidade e profundidade da própria existência. Salva do vazio de não saber sonhar ou não poder. Salva do desconhecimento dos caminhos a seguir. Salva de não saber usar a palavra certa na hora certa. Até o silêncio aprendi por meio das palavras.

Mas, e o livro? Pois é. Não um, no singular. Mas vários. Estão por aí ainda desfeitos embora prontos. Sem capas, sem edições. Mas vivos. Guardados em arquivos e gavetas e cadernos e até mesmo espalhados por aqui, no jornal.

Entendi que a vida é também como um livro, repleta de complexidade, nuances, variações, altos e baixos, história e estórias, memórias, alma e coração, requer uma certa técnica, um jogo de cintura e até criatividade. Querendo ou não, a gente nasce um livro em branco, com milhares de linhas e páginas a serem preenchidas. E mesmo sem saber, construímos nossa história, única, que nenhum escritor seria capaz de supor.

Publicidade
TAGS:

Paula Farsoun

Com a palavra...

Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.