Me tornei o que mais temia

Paula Farsoun

Com a palavra...

Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

sexta-feira, 09 de setembro de 2022

Sabe aquela frase um tanto lugar comum nas redes sociais que diz: “Me tornei aquilo que eu mais temia”? Já parou para pensar em quantas circunstâncias você precisou agir de forma similar àquela pessoa a quem tanto criticava? A verdade é que realmente cada um sabe da sua dor, seus anseios e suas necessidades.

Lembro-me, ainda muito jovem, admirando e ao mesmo tempo indagando como determinadas pessoas do meu convívio conseguiam fazer tantas coisas ao mesmo tempo, terem energia para dar conta de tudo e seguirem com o sorriso no rosto. Mais tarde, questionei-me porque para tantas outras conhecidas era difícil dar uma pausa em suas tarefas para cuidar de uma dor, como deixavam de almoçar porque não dava tempo e como dormiam tão pouco. O tempo passou e por vezes poderia brincar ter me tornado não aquilo que temia, mas que já sabia existir.

Sem nem perceber, eu também já me emocionava assistindo até comerciais, já não trocava meu descanso precioso por qualquer coisa, já preferia tomar um chá lendo algo interessante, preferia ir à praia em horários de “sol baixo” (essa era uma expressão que ouvia muito), já conversava com flores e acarinhava plantas, já amava cozinhar e servir a todos, só tomava café fresquinho e não trocava um minuto com a família por nada. Quando me dei conta, percebi que meu dia precisava de 36 horas, que eu gosto mesmo é da roça, que trabalhava além da conta, que não ligava para besteiras, que não me importava com as olheiras e que ser útil era um grande barato.

Muito do que somos hoje, talvez, seja aquilo que não entendíamos que seríamos um dia. E eis que o tempo passa e simplesmente temos comportamentos similares àqueles que antes apenas observávamos como espectadores. Outro dia uma pessoa brincou dizendo que “antigamente era a tia da piada sem graça e hoje é a tia do meme”. Não tem graça agora, mas na hora teve. E parece uma grande bobagem, e não deixa de ser.

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Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

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