Dar conta de tudo

Paula Farsoun

Com a palavra...

Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Volta e meia perguntam-me como dou conta de tudo. De tanto tentar responder a essa indagação, reparei que eu também de tempos em tempos confabulo como fulano é capaz de fazer tudo o que faz e seguir sorrindo; como beltrano tem energia para desempenhar tudo o que desempenha e ainda conseguir cozinhar pratos maravilhosos aos fins de semana; como ciclana multitarefas ainda é capaz de praticar atividades físicas diariamente e cumprir uma dieta vegana.

 Andamos assim. Muitos de nós no auge de nossas agendas lotadas ainda nos impressionamos como eles conseguem fazerem tanto, serem tanto e ainda prepararem um bom café da manhã. Talvez não nos damos conta de que eles somos nós e vice e versa. Para muitos de nós pouco importa se a grama do vizinho é mais verde, afinal, nem tempo temos de olhar para a cor da grama dele. Mas ainda assim, admiraremos o vizinho se percebermos no ar, assim, como quem não quer nada, que ele consegue dar conta de tudo e ainda meditar.

Em outras palavras, hoje em dia é praticamente um elogio inalcançável, um lugar no pódio, a garantia de um pedestal. Pode reparar em quando alguém infla o peito para dizer que outro alguém consegue dar conta de tudo. Tem um quê de surpresa e admiração por um feito tão impressionante, ainda mais se o interlocutor for um clássico procrastinador. Agora, definir “tudo” é que são elas. Tudo é deveras vago. Tudo pode ser t-u-d-o. E isso é muito. Tudo por si só é um conceito inalcançável. É o impossível. Ninguém consegue. Mas ainda assim, dar conta de tudo é tudo.

Temos vivido uma época em que as demandas são tantas e de todos os lados, que realmente, fazer o bastante é tarefa para poucos. Parece faltar alguma coisa, como se o copo estivesse cheio o tempo todo, mas com um furo em algum lugar, por onde gotículas escorrem de modo a caber sempre mais um pouco d´água. Um refratário insaciável. Não que isso seja ruim. Pelo contrário. Há até um certo propósito em viver pelo preenchimento, em busca da completude. É privilégio ter gana, força e condições de se fazer tanto todos os dias. Não é para qualquer um.

Da próxima vez que me perguntarem o que faço para dar conta de tanto, responderei: fazendo. E agradecerei pelo elogio. E depois, meditarei.

 

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Paula Farsoun

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Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

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