Notícias de Nova Friburgo e Região Serrana
Castelo de areia
Paula Farsoun
Com a palavra...
Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.
José deu um “bom dia” a Maria. José cumprimentou Maria que respondeu gentilmente. José paquerou descaradamente Maria que correspondeu às investidas. José e Maria estão tendo um caso. José e Maria estão traindo seus cônjuges e desgraçando suas famílias. José se separa da esposa por culpa de Maria que não respeitou o casamento de José. A família de ambos sofre com a tragédia. A culpa , além de Maria que não se deu aos respeito, é do governo que não prestigia nem defende a instituição familiar. Aliás, “ninguém mais respeita a família.” Solução? Sepultar ambos moralmente. José e Maria, que apenas foram educados e corteses ao cumprimentarem-se com um “ bom dia” foram julgados e crucificados pela sociedade. A verdade dos fatos? Apenas que José deu um “bom dia” a Maria. Nada mais. Todo resto? Imaginação, irresponsabilidade, mentiras e fofoca. Consequências? Inestimáveis.
E assim nossa sociedade habitua-se a criar fatos, inventar situações, alterar realidades, propagar inverdades, perpetrar (pseudo) verdades e assim, prejudicar a vida alheia. Ampliando o espectro, a boataria infundada complica inclusive a vida social e quiçá muda o destino de uma nação. Ilações. Algumas sem pé nem cabeça.
É preciso estar atento, se resguardar. Gosto muito de uma frase de Clarice Lispector que diz “ ponha-se você mesmo de vez em quando numa redoma e poupe-se.” É um mecanismo e tanto. Há muita gente insana profetizando todas as circunstâncias, criando ideais de vida sobre notícias falsas, crendo em tudo o que dizem, em tudo o que leem (nas redes sociais – a grande “fonte da sabedoria” dos tempos modernos), quando não fomentam a própria imaginação com ideias criativas e cobertas de divagações. Vivemos tempos de “certezas absolutas” cujas bases são tão frágeis quanto duvidosas. Castelo de areia, sabe?
O momento é oportuno para relembrarmos a parábola das três peneiras atribuída a Sócrates, filósofo que, segundo consta, vislumbrava três pilares sobre os quais alicerçava sua vida: verdade, bondade e necessidade. Sugiro a reflexão...
“Um homem foi ao encontro de Sócrates levando ao filósofo uma informação que julgava de seu interesse:
- Quero contar-te uma coisa a respeito de um amigo teu!
- Espera um momento – disse Sócrates – Antes de contar-me, quero saber se fizeste passar essa informação pelas três peneiras.
- Três peneiras? Que queres dizer?
- Vamos peneirar aquilo que quer me dizer. Devemos sempre usar as três peneiras. Se não as conheces, presta bem atenção. A primeira é a peneira da VERDADE. Tens certeza de que isso que queres dizer-me é verdade?
- Bem, foi o que ouvi outros contarem. Não sei exatamente se é verdade.
- A segunda peneira é a da BONDADE. Com certeza, deves ter passado a informação pela peneira da bondade. Ou não?
Envergonhado, o homem respondeu:
- Devo confessar que não.
- A terceira peneira é a da UTILIDADE. Pensaste bem se é útil o que vieste falar a respeito do meu amigo?
- Útil? Na verdade, não.
Então, disse-lhe o sábio, se o que queres contar-me não é verdadeiro, nem bom, nem útil, então é melhor que o guardes apenas para ti.”
Paula Farsoun
Com a palavra...
Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.
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